Sítio do Picapau Amarelo – O Preço do Verdadeiro Amor (2005)

“Foi por trás da sombra desse véu…”

O “Sítio do Picapau Amarelo” entra em uma nova fase, reformulada, para a sua quinta temporada em 2005 – com “O Preço do Verdadeiro Amor”, a história agora é contada em formato novela, com 194 capítulos, e é uma temporada de que gosto bastante. Ainda estamos no famoso e aconchegante Sítio de Dona Benta, mas conhecemos outros personagens que também assumem o protagonismo dessa história e trazem temas como a adoção de crianças mais velhas, o luto, o divórcio e a alfabetização de adultos. Eu gosto de como o programa consegue manter a sua identidade ao mesmo tempo em que entrega uma história mais sólida, com conflitos reais e soluções (e confusões) mais elaboradas, equilibrando muito bem o fantasioso e o realista, o infantil e o juvenil, o divertido e o dramático e, consequentemente, conquistando uma gama maior de espectadores.

O texto fica por conta de Duca Rachid, Alessandro Marson e Julio Fischer, com colaboração de Maria Camargo e Thereza Falcão – alguns nomes conhecidos da teledramaturgia da Globo que realmente trazem um tom mais novelesco ao “Sítio do Picapau Amarelo”: para mim, uma grande vitória. O programa continua colorido, leve e divertido, mas com pitadas de drama e um desenvolvimento que não víamos, às vezes, em histórias de 20 capítulos enroladas e sem muita profundidade. São 194 capítulos que ficaram no ar de abril a dezembro de 2005, e eu acabo de reassistir à temporada e não tenho a impressão de que ela ficou enrolada. É claro que temos histórias mais longas como a maldição do João da Luz ou a própria questão da herança de Cléo, mas o roteiro garante agilidade em outras tramas, o que sempre nos prende e nos faz ansiar pelo próximo capítulo.

A turminha do Sítio ganha uma nova Dona Benta – a saída de Nicette Bruno pode até ser sofrida, porque ela foi a primeira Dona Benta de toda uma geração que a adorava, mas Suely Franco assume o papel lindamente e ela é beneficiada por um texto tão bem-escrito que a transforma em uma personagem cheia de camadas: ela não é apenas a avó carinhosa de sempre, e podemos ver várias facetas da personagem, quando ela briga com o Coronel Teodorico pelos direitos do povo do Arraial dos Tucanos por exemplo, ou quando ela acolhe os netos em situações como a Narizinho tendo o seu primeiro amor platônico ou o Pedrinho com a separação dos pais. Todos os personagens são levados mais a sério e se parecem mais com pessoas reais, e destaco a brilhante atuação de João Vítor da Silva, que tem a chance de explorar um lado dramático que o Pedrinho não tinha até então.

Emília continua por conta de Isabelle Drummond, mas agora ela não é a única boneca da Narizinho. Uma das novidades de 2005 foi a chegada de Patty Pop, interpretada por Thávine Ferrari, uma boneca de plástico da qual Emília tem muito ciúme, especialmente quando ela toma uma pílula falante e se torna uma boneca-gente como ela. As duas nos divertem com constantes brigas e provocações durante toda a temporada, mas no fundo elas se tornam grandes amigas. Completando a turminha do Sítio, também temos Aramis Trindade assumindo definitivamente o papel de Visconde de Sabugosa, embora ele já tenha participado de “Dom Quixote”, a última história da quarta temporada, exibida em janeiro de 2005, quando Cândido Damm deixou o personagem que era seu desde 2001. Aramis Trindade dá seu próprio tom ao Visconde, e é incrível.

Compartilhando o protagonismo com o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo, conhecemos dois adolescentes que lideram a história juvenil que é o fio condutor de toda a temporada: João da Luz, interpretado por Henrique Ramiro, e Cléo, interpretada por Karen Marinho. Cléo é uma radialista da cidade grande que troca cartas com Narizinho e que acaba no Sítio fugindo de sua madrasta megera que a explora a fazendo trabalhar sem parar e tenta roubar sua herança desde a morte de seu pai; João da Luz, por sua vez, é um garoto que mora nas ruas depois de fugir de uma instituição na qual estava por ter roubado um pão para matar a fome, e que aparece no Arraial durante a festa de inauguração da nova escola. Naturalmente, os dois se esbarram na chegada ao Arraial, se apaixonam, e enfrentam um monte de coisa para ficarem juntos – no melhor estilo “Malhação” da época.

O núcleo do Arraial dos Tucanos também ganha grande destaque, com a adição de novos personagens e reformulação de personagens que já existiam: os netos do Coronel Teodorico, por exemplo, deixam de ser tão unilaterais e caricaturados como eram em 2004 para terem seu próprio desenvolvimento, com Angico assumindo o papel de vilão e Zequinha explorando um lado mais sensível e romântico que é de grande ajuda à Cléo e ao pessoal do Sítio. No entanto, duas personagens do Arraial precisam ser destacadas: primeiro, Cecéu, interpretada por Renata Ghelli, que arrasa na atuação, entregando cenas doces e divertidas ou dramáticas e emocionantes, e ela é, para mim, uma das melhores personagens dessa temporada; depois, Teteia, interpretada por Nathália Limaverde, que tem um toque de vilania, mas que é carismática demais para que a odiemos… ela é incrível, eu adoro a Teteia, e ela tem um excelente texto.

Adoro a quinta temporada do “Sítio do Picapau Amarelo”, e reforço: em grande parte por causa da escrita. Já conhecemos o lugar, conhecemos os personagens e somos apaixonados por toda essa fantasia, e o texto de 2005 se preocupa com detalhes que tornam tudo mais crível e interessante de se acompanhar – cito como exemplo um caso simplíssimo, mas que faz toda a diferença: o fato de o pai de Pedrinho perder o emprego e ele precisar continuar morando com a Dona Benta mesmo depois do fim das férias, então ele vai à escola com Narizinho no Arraial dos Tucanos, justificando o fato de ele passar o ano todo lá, sem ninguém questionar que “suas férias são infinitas”. “O Preço do Verdadeiro Amor” é uma excelente temporada, apaixonante e que conversa brilhantemente com diversos públicos – foi um prazer revisitá-la e será um prazer compartilhar opiniões com vocês!

 

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Comentários

  1. Nossa, eu odiava a Tetéia. Me lembro como se fosse ontem. Eu gostava do carisma dela no início e fui pegando ódio dela quando via as maldades dela pra separar o João da Cléo. Eu gosto dessa temporada, mas acho o sofrimento dos jovens Cléo e João um pouco pesados para crianças assistirem. Acho que por isso ainda não tive vontade de assistir novamente essa temporada.

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    1. A Tetéia é bem uma vilã de "Malhação" daquela época haha Ela é muito boa, como personagem: passei muita raiva com ela, sim, mas ela tem uma boa trama e uma boa redenção, eventualmente. A temporada é mesmo mais pesada do que o "Sítio" costumava ser, mas é tão bem escrita! Reassisti para escrever esses textos e continuo achando incrível!!!

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