Sítio do Picapau Amarelo (1978) – A Morte do Visconde: Parte Final

“Eu tenho que ser novamente o Visconde de Sabugosa, o sábio sabugo”

O RETORNO DO NOSSO QUERIDO VISCONDE DE SABUGOSA! O Sítio do Picapau Amarelo está virado de pernas para o ar por causa do Viscondinho, o “Novo Visconde” que o Pedrinho fizera depois da morte do primeiro. Ele é, no entanto, muito diferente do que todos esperavam, e eles não podem deixar de sentir falta do Antigo Visconde, aquele velho sábio e rabugento que eles tanto amavam. Assim, quando o pezinho de milho que brotou do túmulo do Visconde deu uma nova espiga, Pedrinho refez um Visconde exatamente como o primeiro, e eles esperaram até que ele ganhasse vida… quando o Visconde de Sabugosa que conhecemos ganhou vida, no entanto, ele ganhou vida como um boneco, pequenininho na estante de Dona Benta, e ele está apavorado com a possibilidade de ser descoberto pelo Viscondinho, que quer porque quer desmontá-lo.

Mas Pedrinho não pretende permitir…

“Se ele desmanchou o meu Visconde, eu vou desmanchar ele também!”

Por enquanto, o Visconde está escondido junto com os besouros da Emília, até que ele ache que é seguro sair… até porque, como ele diz, ele tem que crescer e voltar a ser o que era para poder brincar com as crianças – ele precisa virar “boneco gente”. Tia Nastácia é a primeira que o encontra, quando vem limpar a biblioteca, e então ela esconde o Visconde no bolso do seu avental (!), onde ele vai ficar protegido do Viscondinho que está revirando o Sítio atrás dele para desmanchá-lo. Tia Nastácia eventualmente mostra o Visconde para a Dona Benta e depois para as crianças e para Emília, que estão radiantes de felicidade por ver o pequeno e velho Visconde de volta à vida… Pedrinho diz para Emília que agora ela só precisa “providenciar o seu crescimento” o mais rápido possível para que ele possa estar seguro, e daí não vai precisar ficar se escondendo.

O pessoal conversa sobre os dois Viscondes, e sobre como eles têm jeitos diferentes e os dois podem viver em harmonia no Sítio de Dona Benta: o Viscondinho precisa entender que a sabedoria do Antigo Visconde é importante para eles, mas esse Visconde também tem que aprender a brincar com as crianças… Emília usa o seu Faz-de-Conta (“Faz-de-Conta que você é gente”) para que o Visconde cresça e volte a ser o que era antes, e quando os dois Viscondes se encontram agora, o Viscondinho e o Visconde Sábio, eles se olham e se tornam apenas um Visconde… o Viscondinho diminui de tamanho e some para dentro do outro Visconde, que o acolhe em seu coração e explica para todos o que Dona Benta já vinha desconfiando há algum tempo: “Ele era eu. Eu era ele”. Os dois eram duas partes de um mesmo Visconde… sua alma sábia e sua alma criança.

Dali em diante, “A Morte do Visconde” apresenta o que eu gosto de chamar de EPÍLOGO.

Isso porque o Visconde e as crianças têm a ideia de construir um foguete e fazer uma viagem à lua. Parece uma introdução ou uma brincadeira com outra história famosa do “Sítio do Picapau Amarelo”, mas é divertido pensar nas crianças construindo um foguete para essa viagem: Visconde fará todos os cálculos, e Emília usará o Faz-de-Conta para conseguir os materiais necessários… mas é claro que logo a Emília já está emburrada porque ela quer tudo do jeito dela, e quer ser a “capitã” e “pilota” do foguete. Quando Visconde vai conversar com ela e diz que as coisas podem ser do jeito dela, ela diz que vai ajudá-los, mas ele precisa antes terminar seus cálculos. Quando o Visconde a deixa sozinha embaixo da jaqueira, nós só escutamos a voz da jaqueira gritando “Cuidado, Emília!”, e então a bonequinha também é atingida por uma jaca, assim como aconteceu com o Visconde.

Enquanto isso, o Visconde parece o Visconde do início da história: querendo ser deixado em paz e sendo mal-humorado com as crianças – “Se vocês não ficarem me fazendo tantas perguntas e me deixarem calcular em paz […] Nenhum computador aguentaria tanta falação ao redor dele enquanto ele estivesse calculando”. Dona Benta, no entanto, vê mudanças no Visconde: é o velho sábio de antes, mas tem “ideias mais arrojadas”, como essa de viajar à lua. Emília, por sua vez, depois do ataque de jaca, está “abobada”, andando sem rumo e em círculos, com o olhar perdido, quase como se ela tivesse sido desligada… quando a colocam sentada na mesa da cozinha, ela está sem fala e parece quase sem vida, Dona Benta diz que ela parece uma boneca de mola, que só anda e não faz mais nada. Então, Pedrinho vai contar para o Visconde o que está acontecendo…

…e ele finalmente deixa seus cálculos de lado.

Visconde rapidamente percebe que deve ter sido o último a conversar com a Emília antes que ela ficasse assim estranha, e quando lhe perguntam onde eles estavam, ele diz que estavam embaixo da jaqueira. As crianças, então, procurando respostas, rumam para a jaqueira e descobrem uma jaca no chão, e se perguntam se aconteceu com ela o mesmo que com o Visconde, ou se ela levou um susto tão grande que ficou em choque daquela maneira. A jaqueira até pede desculpas ao Visconde, mas ele está furioso, e diz que “ela tem que ter mais cuidado com os seus frutos”. O Dr. Caramujo é chamado do Reino das Águas Claras para ver Emília, e ele dá o seu diagnóstico: amnésia bonecal. Ele não sabe, no entanto, o que fazer… ele diz que eles vão ter que esperar que ela volte ao normal, e se isso demorar a acontecer, “talvez outra pancada ajude”.

Narizinho está preocupada com sua boneca, assim como Pedrinho sofreu pelo Visconde no início da história, e a Tia Nastácia chega a costurar uma nova boneca para ela, para o caso de Emília não ficar boa… afinal de contas, o Pedrinho não fez o Viscondinho? Tia Nastácia entrega a nova boneca sem vida para Pedrinho, para que ele leve até a prima, e diz que se não tiver mesmo outro jeito, eles podem levar essa outra boneca para o Dr. Caramujo e pedir outra pílula falante. Quando vê a boneca sem vida, “substituta da Emília”, Visconde imediatamente tem uma ideia, e então a leva com Pedrinho para presentear a Narizinho, e a nossa Emília de sempre reage quase que imediatamente… começa a piscar, assustada, tentando espiar a nova boneca com o canto do olho, e Pedrinho e Visconde provocam, e falam sobre a nova boneca, como logo terão uma nova Emília ali no Sítio, talvez até melhor do que a outra… menos egoísta, menos teimosa…

Narizinho não entende o plano, e fica brava com o que sugerem, e diz que não quer outra boneca, e manda sumirem dali. Pedrinho e Visconde dizem, então, que eles mesmos vão levá-la ao Dr. Caramujo para que ele lhe dê uma pílula falante, mas Narizinho reage: “Eu não quero!” E, naquela hora, a verdadeira Emília também se levanta, furiosa: “Eu também não quero! Seu traidor miserável! Traidor!” E, assim, tudo volta ao normal no Sítio do Picapau Amarelo. Eles só precisam explicar para a Emília que eles só fizeram isso pelo seu bem, e Emília finalmente entende, e diz ao Visconde que ele pode, então, “parar de implicar com ela”, e lhe dá um beijinho carinhoso no rosto, o que deixa o Visconde nas nuvens, todo sonhador e apaixonadinho, conversando com o Sr. Vidro Azul: “Ela me deu um beijo essa tarde, Sr. Vidro Azul”. Amei o Visconde todo apaixonado…

E o Vidro Azul todo sincero: “O senhor voltou mais boboca do que antes!”

Uma das melhores histórias do Sítio 1978.

 

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