Lost 1x20 – Do No Harm

Vida e morte

Estou destruído… “Do No Harm” é um dos episódios mais fortes, mais tristes e mais belos de “Lost” até aqui. Eu me lembrava bem dele, me lembrava bem de como sofri na primeira vez em que o assisti, e estava angustiado sabendo que esse momento se aproximava – mas reassistir às vezes torna as cenas ainda mais dolorosas. “Do No Harm”, exibido em 06 de abril de 2005, consolida o que o episódio anterior introduziu, mas que não queríamos acreditar: a morte de Boone. A verdade é que todos na ilha estão em uma situação precária e correndo perigo constantemente, e Boone não foi a primeira morte – mas foi a primeira morte de um dos protagonistas, de alguém que conhecíamos, que tínhamos visto em flashback, de quem gostávamos, com quem nos importávamos… e o episódio faz um lindo paralelo entre a vida e a morte, algo que tem muito a ver com “Lost”.

É a primeira vez que eu vou ter que dizer que eu não gostei do flashback – eu entendi a escolha do flashback de Jack para a história, com toda a temática do “abrir mão”, mas a verdade é que as pessoas que queríamos ver nesse episódio eram Boone e Claire, e outros personagens conseguiram brilhar, como a Sun, se mostrando incrível como sempre ao ajudar o Jack a cuidar de Boone, e o Jin, que estava um fofo ajudando a Kate na questão da Claire entrar em trabalho de parto. Agora o Jack? Lembro-me que, nas próximas temporadas, eu vou aprender a odiar o Jack, mas acho que eu termino a primeira temporada com um ranço instalado, e a maneira como ele tenta “roubar o episódio” com uma história sobre o seu casamento com uma mulher que ele não ama porque “não sabe abrir mão” é um tanto vergonhoso. O episódio ficaria mais intenso sem os flashbacks de Jack.

Mas é uma das poucas vezes em que isso acontece. A primeira na temporada.

No último episódio, vimos Boone despencar do alto de um precipício dentro de um avião, e agora ele está entre a vida e a morte… Locke desapareceu, provavelmente vidrado na escotilha desde que aquela luz se acendeu, e eu o culpo pela morte de Boone. O estado de Boone é tão grave que parece claro, desde o início, que não há nada que Jack possa fazer para salvá-lo, mas ele tenta de tudo… eu adoro como Sun está o tempo todo ali, como ela é inteligente, ágil, prestativa, e de como ela é a voz da razão quando ela percebe que Jack está indo longe demais e que não existe mais como salvar o Boone. Jack faz uma transfusão de sangue, fura o pulmão de Boone e quase amputa sua perna, e só para porque o próprio Boone tem forças o suficiente para pedir que ele não faça isso… ele consegue dizer que sabe que ele fez uma promessa, mas o libera do compromisso.

Foi horrível assistir à morte do Boone, e Ian Somerhalder vai fazer muita falta em “Lost” – era tão bom olhar para esse rosto lindo episódio depois de episódio. Enquanto Boone morre, Shannon passa a primeira noite com Sayid, e eu passei o tempo todo angustiado, porque eu sabia que teríamos que lidar com uma Shannon insuportável se ela voltasse depois da morte de Boone, porque, apesar de ter usado o Boone a sua vida inteira, ela gosta dele à sua maneira, e vai se sentir culpada por não ter estado ali… e é o que acontece no fim do episódio, mas com as cenas sem volume, tudo ficou muito doloroso e eu chorei com ela quando ela encontrou o corpo do “irmão” sem vida na caverna. Agora, Jack vai atrás de Locke, porque, nas suas palavras, “Boone não morreu… ele foi assassinado”. Que bom que o Boone teve forças para dizer umas palavras antes de morrer.

Que se polarize Jack x Locke.

Acho que uma das coisas mais bonitas do episódio foi o fato de ele também contar com o nascimento do filho de Claire. É uma ideia simples e perfeita de uma vida que se vai e uma nova que chega, mas a beleza daquelas cenas trouxe beleza a um episódio que, de outra maneira, seria apenas triste, gerando, por fim, uma sensação agridoce e melancólica que torna o episódio um verdadeiro marco. Enquanto sofremos por Boone, sabendo que não tem como ele se recuperar, vemos Claire entrar em trabalho de parto, e embora Kate grite por socorro e, quando Jin chega, ela peça para que ele busque o Jack, Jack está no meio de uma transfusão de sangue e não pode sair. Por isso, Kate terá que fazer o parto de Claire… com a ajuda de Jin e Charlie. É um grupo inusitado, quase inesperado, mas que funciona à perfeição e entrega uma das melhores sequências de “Lost”.

Adorei tudo na cena. A maneira como Claire estava apavorada e por vários motivos diferentes, a maneira como a Kate conversou com ela e conseguiu acalmá-la, e a maneira como o Jin também conversou com Claire, e embora não entendamos suas palavras, conseguimos sentir que ele está dizendo algo bom e, de alguma maneira, aquilo também ajuda a acalmar Claire. Assim, vemos Claire dar à luz a um bebê bonito, saudável e que, como a própria Kate diz, “será de todos eles”. Dois momentos me marcaram muito depois do nascimento do bebê: um deles foi o sorriso do Jin estendendo a mão para o Charlie, e depois o abraçando de volta quando o Charlie o abraça e começa a girar; o outro foi a maneira como, ao amanhecer, Claire chega à praia com o bebê no colo e os sobreviventes do Voo 815 se reúnem para ver o novo membro da sua família.

Um episódio doloroso, emocionante… lindo.

 

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