Armadilhas do Coração (The Importance of Being Earnest, 2002)

“In matter of utmost importance, style, not sincerity, is the vital thing”

Baseado na peça homônima de 1895 por Oscar Wilde, “The Importance of Being Earnest” é um dos filmes mais divertidos que eu assisti nos últimos tempos… tem um carisma imenso, os atores estão afiadíssimos, e nos arranca divertidas risadas com toda a confusão de dois homens que usam um mesmo “pseudônimo” para algumas “aventuras amorosas”: Ernest Worthing. Confesso que o filme demorou um pouquinho para engrenar, e tem o primeiro ato lento e, talvez, um pouco confuso… mas quando Algy aparece na casa de campo de Jack Worthing se passando por “Ernest”, as coisas mudam drasticamente e, dali em diante, é uma sequência de situações bizarras, mal-entendidos divertidíssimos e os momentos mais hilários possíveis… é uma espécie de comédia romântica, mas, ao mesmo tempo, tem a cara de uma comédia tradicional dos palcos…

É um máximo!

O elenco está incrível. Colin Firth interpreta “Jack” Worthing, o tutor de uma garota de 18 anos no campo, mas que finge ter um irmão mais novo, Ernest Worthing, que é o nome que ele utiliza na cidade e com o qual se apaixona por Gwendolen Fairfax (interpretada por Frances O’Connor), mas a mãe de Gwendolen, a “Tia Augusta”, não está muito satisfeita com as origens de Ernest e, por isso, não quer permitir o casamento do casal apaixonado. O melhor amigo de Ernest é “Algy” Moncrieff (interpretado por Rupert Everett), e quando ele descobre que o seu amigo não se chama de fato Ernest, mas Jack, ele acaba indo até o campo para conhecer a tal garota que é sua tutelada: Cecily Cardew (interpretada por Reese Witherspoon). É toda uma rede de mentiras e de pessoas se passando por quem não é de fato, e é claro que isso só podia gerar hilárias confusões.

“Armadilhas do Coração” não chega a ser surpreendente, e não precisa sê-lo, pois nunca se propôs a isso. Ele é uma comédia baseada em situações bizarras, e era hilário antecipar o que estava por vir e ansiar pela maneira como o filme apresentaria isso e como os personagens se portariam… nem Jack nem Algy, obviamente, se chamam “Ernest” de fato, mas, em algum momento do filme, os dois são. Quando Jack, determinado a se casar com Gwendolen Fairfax, decide que seu irmão “morreu” (e que ficou para trás o seu tempo de se passar por Ernest), ele chega ao campo com uma urna na mão, falando sobre a trágica morte de seu irmão por um resfriado severo em Paris… o que ele não sabe, é claro, é que seu amigo Algy apareceu por lá uns minutos antes, se apresentando justamente como “Ernest Worthing”, o seu irmão mais novo.

A dinâmica entre Algy e Jack, os dois “Ernests” do filme, é perfeita, e é só assim que o filme poderia funcionar, porque torcemos por eles e nos divertimos com as situações em que eles se colocam… Jack acha que Algy não podia ter feito o que fez, por exemplo, e tenta mandá-lo embora, e a dissimulação debochada de Jack trazendo pessoas dispostas a levar “Ernest” preso caso não pague as dívidas que tem é um dos melhores momentos do filme! No fim, eles entram em um acordo: Jack vai pagar as dívidas de “Ernest”, mas ele deve ir embora visitar o seu amigo “Bunbury”, que está doente – Bunbury, é claro, é apenas mais uma pessoa que não existe, um suposto amigo de Algy que ele usa para escapar de compromissos como jantar com sua Tia Augusta. Antes de ir embora, no entanto, Algy/Ernest começa um romance com a jovem Cecily Cardew.

A confusão estaria quase arrumada se não fosse Gwendolen fugindo da mãe para viver o seu romance – com quem? Com Ernest Worthing, na casa de campo. Aqui ganhamos outro momento hilário que é a primeira interação entre Cecily e Gwendolen, em um diálogo brilhante em que os mal-entendidos se acumulam e ambas chegam às mais variadas conclusões… começa com a Gwendolen incomodada com o fato de Worthing nunca ter dito que era tutor de uma garota bonita como Cecily, depois ela descobre que, supostamente, o tutor de Cecily é o “Jack Worthing”, não o “Ernest Worthing”, mas então Cecily diz que ela e Ernest estão noivos, e aí pronto! Uma confusão daquelas que só se resolve quando tanto Algy quanto Jack aparecem no campo ao mesmo tempo e cada uma reconhece um homem diferente como seu “Ernest Worthing”.

Agora que elas descobrem que nenhum dos seus amados se chama “Ernest”, eles precisam encontrar uma maneira de explicar toda essa história, mas pelo menos Cecily e Gwendolen se unem como “irmãs”, já que nunca estiveram apaixonadas pelo mesmo homem de qualquer maneira. O filme é conduzido com muito bom-humor e leveza, enquanto as mulheres colocam os homens para sofrer um pouquinho para conseguir o seu “perdão”, embora no fundo já os tenham perdoado… afinal de contas, eles mentiram os nomes para elas, mas não é como se as tivessem enganado e traído saindo com duas mulheres ao mesmo tempo nem nada assim. O que se apresenta como um problema muito maior é conseguir a autorização da Tia Augusta para o casamento de Jack e Gwendolen, mas isso se resolve com uma reviravolta cômica, exagerada e bem teatral ao fim do filme.

“Armadilhas do Coração” é uma delícia. Leve, divertido, romântico… amei!

 

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