Lost 1x07 – The Moth

Charlie Pace!!!

De longe, um dos meus episódios favoritos na primeira temporada de “Lost”. Charlie Pace é um dos melhores personagens da série, porque, assim como praticamente todos, na verdade, ele é carismático e tem uma história complexa que o torna quem ele é… o episódio é incrível, porque consegue colocar o flashback de uma maneira que nos faça entender um pouco mais de quem é Charlie, mas, ao mesmo tempo, os acontecimentos na ilha são tão ricos para o desenvolvimento de Charlie que uma parte muito pequena da trama não está diretamente relacionada a ele. No último episódio, Locke lhe pediu que Charlie entregasse as drogas para ele, dizendo que o processo de desintoxicação não seria fácil, mas que Locke estaria ali para ajudá-lo, e esse episódio já começa com Charlie começando a sofrer os efeitos da abstinência – e ele vai ter que lutar contra isso.

A história de Charlie é muito mais do que o vício em drogas, no entanto. É surpreendente, por exemplo, encontrá-lo em seu primeiro flashback, que se passa algum tempo atrás, se confessando, e usando um figurino totalmente diferente daquele ao qual nos habituamos quando pensamos em Charlie. Encontramos um Charlie quando a Drive Shaft, a banda da qual faz parte, ainda estava começando, e também conhecemos Liam, o irmão mais velho de Charlie que é importantíssimo na construção do personagem de Charlie – e da pessoa insegura e, consequentemente, viciado em drogas que ele se tornou. Vemos os flashbacks mostrarem a ascensão da banda, uma performance ao vivo de “You All Everybody”, mas isso tudo vai, agora, deixar um pouquinho mais tristes os momentos em que Charlie falar sobre a banda e a música na ilha.

Porque as coisas ficam pesadas eventualmente… achei muito difícil não ficar com raiva de Liam e não podemos culpá-lo 100% pelo vício de Charlie, mas a verdade é que ele contribuiu muito para isso – Charlie queria se dedicar à música, foi Liam quem desvirtuou tudo aquilo, e foi Liam quem atacou Charlie de uma maneira tão cruel a ponto de fazer com que ele se sentisse inútil, com que ele sentisse que não era nada. Aquela cena do Liam dizendo para ele que sem a Drive Shaft “ele não servia para nada” é brutal. E foi ali, naquela cena, que Charlie usou as drogas de Liam pela primeira vez… anos depois, Liam está vivendo bem na Austrália, e quem ficou com todas as cicatrizes foi o Charlie, e ver o Liam querendo se bancar de “irmão preocupado” que “quer cuidar de Charlie” foi profundamente desconfortável… felizmente há pessoas na ilha que serão muito melhores pro Charlie que o Liam!

A história de Charlie na ilha é lindíssima… tudo começa com o Charlie pedindo a Locke que ele lhe devolva a droga, e Locke diz que não fará isso por enquanto, mas vai permitir que ele escolha: se Charlie pedir 3 vezes pelas drogas de volta, Locke a entregará, mas ele acha que Charlie não precisará disso. É muito bacana a temática do livre arbítrio vindo à tona, porque Charlie pergunta por que, então, ele não joga a droga fora, se livra dela, mas Locke diz que, se o fizesse, Charlie não teria escolha, e a capacidade de fazer escolhas racionais e não com base no instinto é a única coisa que o separa daquele javali que eles acabaram de caçar juntos… essa é a primeira analogia que Locke faz, mas a segunda, quando Charlie pede pelas drogas novamente, é muito mais intensa e bonita, e é a que dá título ao episódio: A Mariposa. Locke fala sobre a mariposa no casulo e como ele poderia ajudá-la a sair de lá, mas então ela não seria forte o suficiente para sobreviver no mundo aqui fora…

Charlie é essa mariposa.

Durante a maior parte do episódio, Charlie se sente um inútil, sente que as pessoas ali o veem como um, e isso é tudo fruto do que Liam colocou em sua mente, e em parte é por isso que ele se voluntaria para rastejar por um túnel para tentar salvar o Jack que ficou preso depois de um desabamento de pedras na caverna para a qual parte dos sobreviventes estão se mudando – achei pesado o Charlie dizendo que ele poderia ir porque Michael tem um filho, Jin tem uma esposa, Boone tem uma irmã, e ele não tem ninguém… ninguém que vai sentir sua falta se alguma coisa acontecer. Aquilo nos atingiu em cheio, e torcemos o tempo todo pelo Charlie enquanto ele entrava por aquele túnel, e nos desesperamos quando o túnel desabou e ele e Jack não tinham mais como sair lá de dentro, mas percebemos que, naquele momento, Charlie tinha realmente se transformado na mariposa…

…a mariposa que precisa encontrar um meio de sair sozinha.

O episódio é de um crescimento IMENSO para o Charlie, e é repleto de momentos emocionantes. Além das cenas que ele compartilha com Locke, também gostei muito da conversa de Charlie com Jack lá dentro na caverna, quando Jack fala que sabe que ele está sofrendo de abstinência, e se propõe a ajudar – adorei ver o Charlie ganhando esses aliados, pessoas que se preocupam de fato com ele e estão demonstrando isso. E a maneira como o Charlie ganhou atenção e parabenizações por ter sido quem salvou o Jack, no fim, sem a ajuda dos demais (a mariposa encontrando seu caminho para fora do casulo) foi linda e emocionante. Chorei com o Charlie – aquilo era tudo o que ele precisava: se sentir amado, se sentir útil, se sentir importante. Então, ele pede a Locke pelas suas drogas pela terceira vez, mas ele só a quer para jogá-la no fogo.

QUE ORGULHO DO CHARLIE!!!

Em paralelo, a única história do episódio que não está diretamente ligada a Charlie (embora ele faça uma participaçãozinha ao correr à praia para contar sobre o desabamento na caverna e, consequentemente, coloca o Sawyer nessa narrativa) é a do Sayid tentando triangular o sinal da francesa cuja mensagem está tocando há 16 anos, na esperança de encontrar alguma coisa que possa ajudá-los a sair daquela ilha… é uma história interessante que novamente coloca o Sayid em destaque, mas que permite também trazer um pouco do Sawyer “ajudando” (do jeito dele), e uma oportunidade para Shannon mostrar que é mais do que uma patricinha – e eu confesso que eu duvidei dela. No fim, o plano de Sayid parece funcionar, porque ele consegue bastante sinal no seu comunicador, mas um novo mistério é inserido quando alguém o ataca antes que ele faça qualquer outra coisa…

Amo os mistérios de “Lost”. Mas amo ainda mais esses personagens.

Que série bem-escrita, não me canso de dizer isso!

 

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