Orion e o Escuro (Orion and the Dark, 2024)

“Hello, Darkness, my new friend”

NÓS JÁ TEMOS A PRIMEIRA GRANDE ANIMAÇÃO DO ANO! Extremamente fofa, com um visual lindíssimo, abordando temas pertinentes e flertando com a metalinguagem, “Orion e o Escuro” é um daqueles filmes que nos deixam vidrados, felizes e pensativos… lançado em fevereiro de 2024 na Netflix, o filme foi dirigido por Sean Charmatz e tem roteiro de Charlie Kaufman, baseado em um livro homônimo de Emma Yarlett. Na história, conhecemos Orion, um garoto de 11 anos que vive constantemente com medo… a apresentação do pequeno Orion nos primeiros minutos de filme é uma gracinha, mas, ao mesmo tempo, é um pouco desesperadora, porque Orion vive em constantes crises de ansiedade, imaginando os piores cenários possíveis a todo momento…

Ele tem medo de coisas que até fazem sentido, como do valentão da escola que o atormenta, ou de coisas que são comuns da idade, como ser rejeitado pela garota de quem ele gosta, mas Orion também tem uma outra variedade de medos que nem sempre são tão racionais assim: ele tem medo de enfrentar o Richi Panichi, por exemplo, e acabar fazendo com que o seu nariz entre no cérebro e ele morra. Sim. Outros medos incluem o oceano, cair de um lugar alto, palhaços assassinos escondidos em bueiros (claramente, Orion conhece “It: A Coisa”), a radiação do celular, ser esmagado pelas maquetes de planetas no planetário, que os pais se mudem de casa quando ele está na escola (!) e, por fim, O MEDO DO ESCURO. Que acaba sendo a personificação de seus medos.

A ideia de personificar o Escuro como um personagem que o Orion conhece é muito legal, e a interação de Orion não apenas com o Escuro, mas com as demais entidades da noite – o Sono, o Insônia, a Bons Sonhos, o Barulhos Inexplicáveis e o Silêncio – rendem excelentes momentos que me remetem a outras obras de animação que eu adoro, como “Divertida Mente”, que personifica as emoções dentro da mente humana, e “A Origem dos Guardiões”, que traz uma equipe trabalhando sorrateiramente durante a noite também. A história é uma aventura deliciosa em uma animação de encher os olhos, repleta, também, de momentos hilários, como os “métodos” de Sono para colocar as pessoas para dormir, ou as artimanhas de Insônia para mantê-las acordadas…

Dei boas risadas com o Sono.

Orion é convidado (ou desafiado) a passar 24h com o Escuro, enquanto ele faz o seu trabalho ao redor do mundo, para que ele aprenda que o Escuro não é tão ruim assim… inicialmente, o plano do Escuro não parece estar dando tão certo assim, porque as outras entidades do escuro também lhe causam medo, mas eventualmente ele se diverte ajudando no trabalho de cada um, e é muito bom ver o Orion se libertar, conforme ele descobre algo importante a respeito do que é medo e do que é coragem: a coragem não é, necessariamente, a ausência de medo, mas a capacidade de fazer algo ainda que você esteja com medo. O filme traz aventura, comédia e uma pitadinha gostosa de drama quando o Escuro se sente rejeitado por Orion e pelos demais e se deixa consumir pela Luz…

Sem o Escuro, no entanto, as coisas não fazem sentido.

E, por isso, ele tem que ser “resgatado”.

Acho que é aí que entra um dos pontos mais legais do filme: ele tem um desenvolvimento óbvio que é acompanhado por um não-óbvio que, consequentemente, o torna único. Toda a aventura de Orion com o Escuro na infância é uma história inventada que o Orion do futuro, adulto, está contando para a sua filha, para que ela lide com o próprio medo do escuro… é legal essa maleabilidade anunciada que esse elemento dá ao roteiro, e eu gosto de como “Orion e o Escuro” brinca com suas possibilidades quando Orion se encontra “sem ideias” de como continuar a história e Hypatia, sua filha poetisa, se voluntaria para “entrar na história”, e ela ajuda o pai, na infância, a resgatar o Escuro através de suas próprias memórias, com uma ajudinha do Sono, do Silêncio e da Bons Sonhos…

Insônia fica responsável por acordá-lo.

Mas é Silêncio quem consegue de verdade.

A brincadeira acaba ultrapassando limites e se tornando algo disruptivo da melhor maneira possível… sabe quando filmes conseguem quebrar a quarta parede e/ou brincar com a metalinguagem de uma maneira interessante e criativa? “Orion e o Escuro” o faz, e o faz de uma maneira que enriquece a história, e eu acho que existe muita beleza na ideia de que a história “principal” que acompanhamos durante o filme foi “escrita” por Orion, sua filha Hypatia e o seu neto, Tycho, em momentos diferentes… e que é uma história sincera que representa ideia de conseguir enfrentar os próprios medos e de encontrar coragem para fazer algumas coisas, ainda que elas te deixem nervoso, porque às vezes elas podem mudar a sua vida para sempre. Como ir a um planetário.

Filme fofíssimo! Amei!

 

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Comentários

  1. Você pretende escrever sobre os filmes dos Caça-Fantasmas?

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    1. Sim! Queria muito escrever sobre todos os lançados antes de sair o novo, mas não sei se vai dar tempo.

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    2. Mas mesmo que não dê tempo de escrever antes do lançamento do novo, você ainda pretende escrever sobre a franquia?

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