Sandman, Volume 4 – Estação das Brumas: Capítulos 3 e 4

Consequências da decisão de Lúcifer.

QUE EXPANSÃO INTERESSANTE! Todos que tiveram o prazer de entrar em contato com a obra de Neil Gaiman sabem o quanto o universo de “Sandman” é rico, complexo, e repleto de referências e boas histórias a se contar… “Estação das Brumas” trata de um arrependimento do Senhor dos Sonhos, que condenou uma jovem que o amou a anos de sofrimento no Inferno, e quando ele tenta “consertar o seu erro”, as coisas acontecem bem diferentes do que ele imaginava, e não apenas ele não consegue salvar a moça, chamada Nada, mas o Inferno também é “fechado” por Lúcifer, e os Capítulos 3 e 4 da história tratam de algumas consequências desse “fechamento do Inferno”. Primeiro, vemos toda a atenção que a Chave do Inferno, agora em posse do Senhor dos Sonhos, gera. Depois, um magnífico e tenebroso conto sobre mortos que estão voltando à Terra.

 

“No qual o presente de despedida de Lúcifer atrai atenção indevida, e o Senhor dos Sonhos recebe visitas indesejadas”

 

O Capítulo 3 (também conhecido como “Episódio 3”) de “Estação das Brumas” é uma edição de preparação e de tensão crescente, e eu adoro como, a cada virar de página, conhecemos novos lugares e novos personagens, enquanto a Chave do Inferno chama a atenção de uma série de seres interessados em conseguir o Inferno para si… em lugares distintos, como Asgard, o Caos, a Ordem, a Cidade Prateada e o Limbo, seres se preparam para rumar até o Sonhar e convocar uma reunião com Sonho dos Perpétuos e exigir que ele entregue a Chave do Inferno – por uma série de motivos diferentes. O Senhor dos Sonhos nem imagina toda a movimentação que acontece em outros reinos naquele exato momento, e indaga-se a respeito do que fará com o Inferno, e tem, inclusive, uma conversa interessante com a sua irmã, Morte, sobre isso, mas ela está ocupada demais…

Ocupada demais com outras coisas.

Acompanhamos, de maneira interessante, os vários emissários que são escolhidos para rumar até o Sonhar. Em Asgard, por exemplo, Odin, Loki e Thor se preparam para a jornada; na Ordem, Kilderkin é escolhido, enquanto, no Caos, Jemmy Calafrio será o emissário; na Cidade Prateada, dois anjos se preparam para descer ao Sonhar: Duma, o Anjo do Silêncio, e Remiel, aquele que “está acima daqueles que se elevam”; no Limbo, antigos moradores do Inferno, demônios que foram “desalojados” e que se sentem no direito de clamar o Inferno para si, agora que Lúcifer abriu mão deles: Azazel, Merkin e Coronzon… esse último grupo, diferente dos demais, tem um bom elemento de barganha: eles estão com Nada aprisionada, e pretendem usá-la para negociar com o Senhor dos Sonhos se ele se recusar a entregar-lhes a Chave do Inferno. E, na verdade, Sonho terá que pensar muito no que fazer…

Afinal de contas, são muito dignitários pedindo a mesma coisa.

Por isso, tudo o que ele diz, por ora, é: “Amanhã conversaremos”.

 

“No qual os mortos retornam e Charles Rowland conclui sua educação”

 

O Capítulo 4 (também conhecido como “Episódio 4”) de “Estação das Brumas” é uma daquelas edições impactantes de “Sandman”, um conto sombrio e sincero sobre um garoto que fica “sozinho” na escola de São Hilário durante as férias de verão enquanto mortos estão retornando. A capacidade de Neil Gaiman de gerar expectativa precisa ser aplaudida… depois de termos visto a chegada de tantos dignitários ao Sonhar para exigir que o Senhor dos Sonhos lhes entregue a Chave do Inferno, queríamos ver a reunião talvez mais que tudo – mas Neil Gaiman nos faz esperar mais um pouco… na época do lançamento, fez seus leitores esperarem um mês mais. Mas amamos Neil Gaiman justamente por isso, porque ele traz, na assustadora e melancólica história de Charles Rowland, choque, sangue e reflexão. De uma maneira muito conectada à trama.

Afinal de contas, toda a história de São Hilário é consequência dos eventos recentes no Inferno. Quando Lúcifer expulsou todo mundo e trancou o lugar, os mortos foram “soltos” no mundo. É por isso que a Morte está tão ocupada, e Charles Rowland presencia o retorno de todas as pessoas que morreram nos corredores daquela escola sombria, ou que morreram em outro lugar, mas não tinham nenhum outro lugar para o qual retornar… sozinho na escola, Charles Rowland se torna amigo de um garoto que foi sacrificado há anos em um ritual satânico realizado no sótão da escola, e percebe tudo sair de controle quando outros mortos começam a retornar e a encher novamente a escola: a mãe do diretor, os filhos da enfermeira, um antigo diretor que quer retornar ao seu cargo, os valentões que mataram Edwin Paine e que agora se voltam contra ele…

Até que Charles Rowland também se junte aos mortos.

É um conto arrepiante e, ao mesmo tempo, poético – de uma maneira que apenas “Sandman” sabe ser. O passar dos dias e a maneira como os eventos escalam, a morte lenta de Charles Rowland, assistida por Edwin Paine, que não pode fazer mais nada para ajudar o amigo, e a conclusão surpreendentemente “esperançosa” que a edição ganha. Recebemos inesperadas reflexões a respeito do que é o Inferno, novamente, talvez mais algo que se carrega consigo do que, de fato, um lugar, e, acreditando nisso, Charles Rowland meio que se livra dele e da possibilidade de ser aprisionado… se recusando a acompanhar a Morte e deixar Edwin para trás, Charles Rowland acaba ficando livre “até que ela resolva as coisas que tem para resolver”, e Charles e Edwin saem caminhando juntos e de mãos dadas, rumo a um mundo imenso e cheio de coisas para conhecer e descobrir…

Que belo final para a edição!

Será que os veremos novamente? Será que a Morte voltará por eles?

 

Para mais postagens de Sandman, clique aqui.

 

Comentários