Os Outros (The Others, 2001)

“Sometimes the world of the living gets mixed up with the world of the dead”

Escrito e dirigido por Alejandro Amenábar, “Os Outros” é um suspense inteligente e eletrizante que te mantém preso em todo o mistério de uma casa antiga e seus moradores: Grace Stewart, a mãe de duas crianças fotossensíveis que passa a vida cuidando para que nenhuma luz entre nos cômodos da casa enquanto seus filhos estão por perto, e Bertha Mills, Edmund Tuttle e Lydia, o trio de novos funcionários que chegam para o trabalho ainda que o anúncio de Grace em busca de novos empregados nunca tenha chegado a ser publicado, e os intrusos. Com um visual incrível e com atuações impecáveis lideradas por Nicole Kidman no papel principal, “Os Outros” entrega tanto um suspense competente quanto um plot twist marcante que é, naturalmente, a cereja do bolo.

Gosto muito de filmes de suspense, mais do que gosto de filmes de terror, de modo geral. Gosto da sensação de quase desconforto, gosto dos mistérios e amo quando um filme sabe conduzir a sua proposta, como “Os Outros” o faz – temos, aqui, um daqueles filmes que nos enchem de sugestões, e chegamos a várias conclusões possíveis durante os seus 104 minutos… algumas corretas, outras talvez nem tanto. E são várias facetas a serem observadas e exploradas, como a névoa interminável do lado de fora da casa, a relação de Bertha e dos demais com a casa na qual “já trabalharam há muito tempo”, os barulhos que Grace escuta e que não parecem estar sendo produzidos por nenhum dos moradores conhecidos da casa, e as coisas que apenas Anne vê.

A relação de Grace com Anne e Nicholas, seus filhos, é, de certa maneira, a alma do filme – culminando naquela revelação chocante, ao fim. Muito do visual escuro que beira o sinistro do filme é justificado pela fotossensibilidade das crianças e, portanto, toda porta “precisa ser trancada antes que uma próxima porta seja aberta”, para barrar qualquer entrada de luz que possa fazer mal às crianças. E é nesse visual escuro que conhecemos Anne e Nicholas, seus comportamentos, suas crenças, seus medos, suas esperanças e seus mistérios. Preciso dizer que Anne é tanto irritante (!) quanto assustadora, em alguns momentos. E Grace parece uma mãe superprotetora, mas, ao mesmo tempo, preocupada com a segurança dos filhos de alguma maneira.

O filme vai escalando conforme os mistérios vão se acumulando e, quiçá, se resolvendo. Conforme os barulhos (incluindo vozes sussurrantes) aumentam, Grace se dá conta de que talvez Anne não estivesse “mentindo para assustar o irmão” quando dissera que via pessoas na casa – dentre elas, um garoto chamado “Victor”. Duas das minhas cenas favoritas de “Os Outros” são protagonizadas por Grace, e são boas dicas do que está por vir: a primeira delas quando ela sai de casa para uma névoa cada vez mais densa que a impede de continuar, até que ela encontra Charles, o marido que ela acreditava ter morrido na guerra; e a segunda quando ela Anne está usando um vestido branco com véu e Grace vê uma mulher idosa no lugar da filha, “imitando sua voz”.

E, então, “ela enlouquece como naquela noite”, nas palavras de Anne.

Bertha, Edmund e Lydia também vão se tornando cada vez mais estranhos no decorrer do filme, a ponto de beirarem a caricatura, e Bertha chega a dizer que “está perdendo a paciência”, e faz com que Edmund deixe expostas três lápides com os seus nomes, para que os Stewart finalmente entendam. A montagem de Anne e Nicholas encontrando os túmulos do lado de fora da casa, quando eles “saem para procurar o pai”, enquanto Grace encontra a foto de seus novos funcionários mortos há meio século é de arrepiar, e então algumas coisas começam a ser desvendadas… Bertha fala sobre como Grace “precisa entender a nova condição de convivência entre os vivos e os mortos”, mas Grace Stewart ainda não é capaz de entender toda a complexidade do que ela está dizendo.

Porque Bertha, Edmund e Lydia são “os mortos” dessa frase, sim.

Mas isso não quer dizer que Grace, Anne e Nicholas sejam “os vivos”.

Acho que o maior acerto de “Os Outros” é justamente apresentar uma segunda reviravolta depois da revelação de que Bertha e os demais eram fantasmas desde o começo, o que talvez já soubéssemos… o que de fato torna o filme marcante é a revelação de que Grace enlouquecera, matara seus dois filhos e depois tirara a própria vida. E não é “a revelação em si” que é o ápice da narrativa, mas a maneira como ela vem à tona, em uma sessão espírita sendo conduzida no sótão da casa por pessoas que estão realmente vivas – dentre elas uma médium idosa, aquela que Grace vira anteriormente na própria filha, e o casal que mora atualmente na casa, cujo filho se chama “Victor”. Essa inversão é que é maravilhosa, e a maneira como os espíritos se manifestam na sessão, falando ou balançando a mesa…

AQUILO É CINEMA!

Com toda a certeza, um grande filme de suspense. Uma experiência e tanto!

 

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Comentários

  1. Você pode comentar sobre os filmes do Olhos Famintos?

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    1. Nunca mais os assisti, mas lembro-me de que considerava bons filmes de terror. Vou dar uma olhada neles novamente!

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