A Casa das Sete Mulheres – A morte do Capitão Estevão

O amor por um caramuru.

O primeiro capítulo de “A Casa das Sete Mulheres” termina quando Rosário encontra o Capitão Estevão ferido depois de uma batalha e, desesperada, pede que ele não morra… ela não sabe bem o que pode fazer para salvar a sua vida: se ele fosse um deles, ela poderia levá-lo para a estância e então todas ajudariam a cuidar dele, mas ele é um soldado imperial… um caramuru. Então, Rosário leva Estevão escondido para um galpão abandonado que nunca recebe ninguém, e pede a ajuda de Luzia, na esperança de poder salvar a vida do homem que ama – em uma trama shakespeariana. Estevão está mal, com febre, delirando, e Rosário faz o seu melhor, dando água, comida, cuidando de sua febre, fazendo de tudo para impedir que o Capitão Estevão morre.

Eventualmente, Estevão é descoberto no galpão abandonado – o que acaba salvando a sua vida. Por mais que Rosário estivesse empenhada em cuidar dele, ele não estava melhorando… uma fivela derrubada no momento em que Estevão é levado lá para dentro, e encontrada por uma criança, acaba “denunciando” a sua presença, e quando Estevão é levado para dentro da estância, as mulheres se perguntam o que fazer: a coisa humana a se fazer, é claro, é cuidar do rapaz; ele está muito ferido. Dona Maria, como era de se esperar pelo pouco que já conhecemos dela, anuncia que “não vai cuidar de um oficial caramuru” e sai sem prestar ajuda, mas as demais mulheres estão dispostas a ajudá-lo, e isso salva a vida de Estevão, que pode eventualmente ir embora.

Curiosamente, Capitão Estevão, um caramuru, é salvo pela família de Bento Gonçalves, e ele retorna para a sua tropa anunciando que foi tratado com respeito e consideração. Enquanto isso, Rosário sonha com o seu amor proibido, enquanto está prometida em casamento para Afonso, um soldado farroupilha, que sabe que não tem o amor da moça, mas promete “não desistir”: ele diz que ela não vai “se enterrar viva em um convento”, como diz que faria, nem se casar com esse capitão, porque ela ainda “vai recuperar o juízo”. Maria, por sua vez, está fazendo de tudo para acelerar o casamento de Rosário e Afonso, e pressiona o marido, Anselmo, para que ele imponha isso à filha, embora ele seja um homem mais romântico que acredita em “seguir o coração”.

Até porque ele sabe que nunca foi amado em seu próprio casamento.

Anselmo parece mais sensato que Dona Maria, pelo menos até descobrir que o homem que Rosário ama de verdade é um soldado imperial – há certos limites que Anselmo não pensa em atravessar, é claro. Então, ele vai contra suas próprias promessas à filha, disposto a obrigá-la a se casar com Afonso Corte Real, o que deixa Rosário furiosa e desiludida… e ela toma uma decisão, que novamente tem muito a ver com o clássico shakespeariano: ela decide fugir com o Capitão Estevão. Para isso, ela precisa fazer com que uma mensagem chegue até ele, e ela fica incansavelmente esperando pelo seu retorno ao galpão, embora ele não apareça, noite após noite… e é Manuela quem finalmente tira Rosário lá de dentro, com uma notícia triste: a morte de Anselmo em batalha.

Estevão não consegue atender ao chamado de Rosário porque ele, também, está no meio de uma batalha: caramurus versus farroupilhas. Em um momento dramático e trágico, Afonso Corte Real atira no Capitão Estevão para salvar a vida de Joaquim, um dos filhos de Bento Gonçalves… dessa vez, então, Estevão cai no riacho, com a cabeça sangrando, e Rosário sente, à distância: “Eu temo que tenha acontecido uma grande desgraça com o Estevão”. É curioso que, seguido à morte de Estevão, os diálogos prometem a Rosário que ele ainda “aparecerá” para ela, o que é uma escolha curiosa e inteligente de palavras – “Diga à moça que, quando ela menos esperar, ele vai aparecer”. Esse é o prenúncio de uma história bem marcante de Rosário em “A Casa das Sete Mulheres”.

 

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