Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente – Episódio 1: Vida
“Eu te amo, Vida”
Ambientada
nos anos 1980, durante a epidemia de AIDS que assolou o mundo e foi usada como
desculpa para estigmatizar a comunidade LGBTQIA+, “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente” é uma daquelas
séries que nos marcarão para sempre. Quando se fala sobre esse período
histórico e sobre todas as vidas que foram levadas, falamos também sobre memória coletiva, e todas as marcas que
foram deixadas por um discurso que punia o sexo e o prazer, como se fosse algo
a que homens gays não tivessem direito
– como se estivéssemos sendo punidos
pela liberdade sexual conquistada a muito custo, e essa ideia se perpetua com um
discurso que convenientemente descarta a verdade de que o vírus HIV não é e
nunca foi exclusivo de uma comunidade.
“Máscaras de Oxigênio Não Cairão
Automaticamente” retrata esse Brasil na década de 1980, quando as pessoas conviveram
diariamente com o medo, com o preconceito e com a dor de perder pessoas próximas
que amavam… quando Fernando, um comissário de bordo gay, é diagnosticado com
AIDS, ele percebe que existe, para ele, a possibilidade de comprar AZT nos
Estados Unidos: um medicamento antirretroviral que é uma luz de esperança, mas
cuja venda, que acabou de ser liberada lá fora, ainda é proibida no Brasil…
eventualmente, isso se transforma em um esquema de contrabando de AZT para
outras pessoas que foram diagnosticadas no Brasil, especialmente aquelas que já
se encontram em um estado avançado da doença.
Livremente
inspirada em fatos reais, a série já vem chamando a atenção internacionalmente.
Exibida no Festival Internacional de Cinema de Valência, “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente” ganhou os prêmios
de “Melhor Série de TV”, “Melhor Roteiro”, além do prêmio de “Melhor Série”
pelo júri jovem. Protagonizada por atores que são parte da comunidade LGBTQIA+
na vida real, como Johnny Massaro, Ícaro Silva e Linda Linzmeyer, a série ganha
um tom de realidade bem-vindo – e convenhamos, são três grandes atores se
entregando aos seus papeis! Na trilha sonora, encontramos vozes como Cazuza,
Lulu Santos e Sandra Sá. A série contará com 5 episódios, lançados semanalmente
na HBO Max a partir de 31 de agosto.
Nesse
primeiro episódio, acompanhamos Fernando – e Johnny Massaro entrega uma atuação
tão intensa, tão sincera, tão pungente –, um jovem comissário de bordo que não
acredita em compromisso, mas que quer se divertir, quer viver, quer ser feliz…
ele tem um caso com um jogador de futebol
que sonha em ir para a seleção (eu amo a cena que os dois compartilham na
piscina… uma cena excitante que culmina em um “Eu te amo” de Caio, no qual Nando prefere não acreditar), mas não
é uma relação monogâmica, porque Fernando tem “muitas aventuras a viver”. Em
suas viagens com a companhia aérea para Nova York, ao lado da melhor amiga, por
exemplo, ele compra encomendas para metade do Rio de Janeiro e se envolve com
americanos gostosos…
Ter um homem
gay como o Fernando tirado do Rio de Janeiro e jogado em Nova York traz algo
interessante à tona: a diferença entre
como o assunto da AIDS é tratado em cada lugar. O casal com quem ele
transara na noite anterior, por exemplo, usara camisinha o tempo todo porque eles sabem que “AIDS não é brincadeira”, mas
Fernando é do tipo de pessoa que quer fingir que nada está acontecendo e que as
pessoas não estão morrendo – ele não lê sobre a AIDS, ele não cita o nome da
doença, e é uma reação baseada no medo: como se pensar e falar sobre isso a
tornasse real e como se ele pudesse fugir
disso enquanto fingisse que nada está acontecendo… é quando a primeira mancha
surge nas suas costas que ele começa a ter que pensar no assunto.
Fernando é
colocado para atender um passageiro com AIDS em um voo, e aquela é uma das
cenas mais fortes do episódio, porque
ela mostra o tamanho do estigma causado pela desinformação, e ouvimos falas
sobre como “sua presença pode colocar em risco todo o avião”, por exemplo, o
que sabemos que não é verdade. O passageiro, interpretado pelo Gab Lara, tem um
tom tranquilo e falas sábias que parecem deixar Nando ainda mais desconcertado. Ele tem uma crise de pânico depois de
falar com ele, e não demora muito para que ele
passe mal de verdade dentro do avião, e então ele é levado até a médica da
companhia aérea, que lhe entrega um panfleto sobre AIDS ao ver a marca nas suas
costas: ele é o sexto comissário de bordo
com esses sintomas.
Nando quer
fugir, negar, continuar fingindo que isso tudo não é com ele e que pessoas
próximas não estão morrendo, mas é impossível… uma amiga acabou de morrer.
Pantera era uma drag lindíssima e talentosa que se apresentava em uma boate que
chama o seu nome na sua ausência, mas quem sobe ao palco no seu lugar é Raul,
que faz exatamente o que ela pediu que ele fizesse: conta para todo mundo que ela morreu de AIDS. Ela sabe que é sua
responsabilidade morrer dizendo a verdade, e Raul fala sobre como eles
precisarem FALAR sobre o assunto, porque se eles forem morrer, eles vão morrer
gritando… é assim que ele convence Fernando da necessidade de fazer o teste,
embora ele esteja com medo de fazer o teste e não poder mais negar o que tem.
Enquanto
espera o resultado do teste, que leva um
mês para sair, Fernando se “esconde” dentro de casa. Ele escuta uma
declaração de amor de Caio na televisão quando ele é o artilheiro de uma
partida importante – “Te amo, Vida, essa
foi pra você. Tô com saudade” –, mas isso só faz com que ele se sinta pior
ainda, e ele pede que a mãe não deixe a Lea o ver, e que diga que ele não quer
falar com ela se ela ligar. Mas Lea é sua melhor amiga, sua companheira, e não
é como se ela não entendesse: “Você acha
que eu não sei por que você tá se escondendo de mim?”. A cena de Lea
deitando-se ao lado de Fernando na cama e o abraçando, dizendo que não adianta
ele querer a afastar porque ela sempre estará com ele, é uma das mais lindas.
“Máscaras de Oxigênio Não Cairão
Automaticamente” é uma série triste, realista e necessária. Histórias que
precisam ser contadas. Quando recebe o diagnóstico de AIDS, o primeiro impulso
de Fernando é perguntar quanto tempo de
vida ele tem e agir como se ele já
estivesse morto, até que ele recebe um chacoalhão da médica que o atendeu e
que não pretende denunciá-lo para a companhia aérea: ela está ali para lidar com pacientes que queiram viver, não quem age
como se já estivesse morto. É na conversa com ela que eles falam sobre AZT,
e agora Fernando tem um plano, com a ajuda e companhia de Lea: ele vai conseguir o remédio que pode ser a
sua esperança. E, como sabemos, isso ainda é apenas o começo dessa
história. Excelente estreia!
Já sei que
será uma grande minissérie!
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Cairão Automaticamente” EM BREVE!
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