Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente – Episódio 2: Canto de Oxóssi

“Você vai ser a Robin Hood gay”

Fernando é um comissário de bordo já acostumado a trazer “muamba” dos Estados Unidos em seus vários voos internacionais… quando ele recebe um diagnóstico de HIV positivo e é incentivado a não desistir de viver, ele decide comprar um medicamento que foi recentemente aprovado por lá, mas que ainda é proibido no Brasil: AZT. É um tratamento agressivo e Nando gasta 800 dólares na sua primeira ida à farmácia em busca do remédio, mas é a única esperança que ele tem, a única coisa que pode salvar a sua vida. O segundo episódio de “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente”, “Canto de Oxóssi”, é tão intenso, emocionante e importante quanto a estreia na semana anterior, e se aprofunda nesse capítulo de história.

Que o tratamento com AZT é agressivo não é novidade… e Fernando lida com vários efeitos colaterais que o deixam acabado, fora toda a parte psicológica: o medo que ele tem de deixar que a mãe o beije, por exemplo, porque a epidemia de AIDS foi acompanhada de muita desinformação e preconceito. Quando ele pergunta à médica da companhia aérea que o atende se “ela não tem medo”, ela responde simplesmente: “Só sangue e sexo. O resto é preconceito”. Mesmo com a informação, ver Lea compartilhando seu talher ainda é algo que o deixa nervoso, e esse é um retrato bastante fiel da época, e esses são estigmas que muitas vezes ainda hoje precisam ser quebrados, e gosto de ver a série se movimentando para passar informação.

Com o Fernando se sentindo fraco, Lea o aconselha a ficar em casa, e diz que ela traz para ele os medicamentos de que precisa… Lea, por sua vez, está lidando com seus próprios problemas: ela descobriu que está grávida do piloto que é m homem casado, e ele a incentivou a fazer um aborto nos Estados Unidos – mas ele não está presente para acompanhá-la à clínica como prometera quando recebe uma ligação da esposa dizendo que o filho está internado. Enquanto ele descobre que o filho está com tuberculose, “uma doença comum em pacientes com HIV positivo”, segundo a médica, Lea vai sozinha à clínica, mas não tem coragem de fazer o aborto. Muita coisa está passando pela mente de Lea ao mesmo tempo, mas, naquele momento, ela não quer tirar o filho.

O plano de Fernando para essa nova compra de AZT, no entanto, não era só para ele… o remédio parece estar dando resultado e controlando a doença, e a médica tem um plano: “Será que você pode trazer pra mais paciente, Fernando?”. Ela fala sobre outras pessoas que também estão precisando do medicamento: um cara famoso, cujo nome ela não pode revelar, um adolescente, uma garota de 8 anos cujos pais morreram de AIDS… Fernando não é exatamente o tipo altruísta, mas ela o convence ao citar a última paciente. O problema é que, quando Lea chega com o medicamento, não é a amiga deles que está responsável por inspecionar as bagagens, a que “faz vista grossa”, mas alguém que encontra os remédios e a leva para interrogatório…

Lea parece sozinha… mas assim que descobre o que aconteceu, Fernando tenta resolver o problema, e a sua única esperança é Raul: afinal de contas, ele tem um caso com um policial federal que pode ter voz dentro do aeroporto e pode conseguir que soltem a Lea. Nando pode ficar sem o seu medicamento e a Lea pode ir presa se eles não fizerem nada, mas Raul está pronto para negociar. Ele diz que vai ajudar o Fernando, SE ele trouxer medicamento também para a galera da Paradise: ele pode continuar trazendo os remédios para aquelas gays brancas e ricas, mas ele vai ter que ajudar também as pessoas que precisam de ajuda e não podem pagar por ela. E é assim que eles armam um plano que parece converter Fernando no “Robin Hood gay”.

Pelo menos é como Raul o chama.

Se o Delegado Santos vai ou não ajudar é muito incerto… o envolvimento dele com Raul não é de hoje, e os dois nos entregam o que deve ser a cena mais quente e mais bonita de sexo da série até o momento (até porque eles são um casal gostoso de versáteis, então… UAU!), mas Santos também tem alguns discursos duvidosos – Raul o descreve como “uma bicha que não gosta de bicha”. Ele questiona o fato de Raul se vestir como Suzy Lee para se apresentar na Paradise, por exemplo, e fica bravo quando descobre que a Pantera morreu de AIDS, mas ele também não consegue se afastar de Raul… e as ameaças de pegar o microfone do aeroporto como Suzy Lee para contar a todos sobre o seu caso com o Delegado Santos ajuda o caso de Lea e Fernando.

Essa é a única fez que ele o faz, no entanto…

E o que estão fazendo é arriscado: eles vão ser pegos novamente. Eles precisam de um plano.

Fernando também precisa parar de ignorar o Caio em algum momento… ele precisa ter coragem de enfrentá-lo: responder às mensagens deixadas na secretária eletrônica e contar a verdade para ele. E ele o faz. Caio insiste por dias, preocupado com Nando, tentando conseguir contato, e ele deixa uma mensagem fofa na casa de Lea, porque imagina que o Fernando estaria por ali, então ele vai conversar com o seu jogador de futebol… e é uma cena dolorosa e paradoxalmente emocionante, cheia de camadas e de surpresas. Quando ele conta que está com AIDS, Caio chora e parece haver sinceridade no seu olhar quando fala para eles se mudarem para Nova York e ter um cachorro, para que eles possam ver a neve juntos… ele até abandona o futebol

A ironia da cena está na dicotomia entre o que Caio diz a Nando e o que ele faz depois. Eu acreditei em suas palavras, nos seus beijos, no seu sentimento… mas não era uma jura de amor eterno: era uma despedida. Talvez por desinformação, talvez por medo, talvez por egoísmo, mas era uma despedida. Ele pede que o Nando prometa que não vai morrer, ele o deixa ir embora acreditando que eles vão se ver e se falar mais tarde, mas quando Nando sai, Caio limpa quase desesperadamente a boca dos seus beijos e liga para a portaria para deixar que ele não entre mais. No fim, é uma atitude covarde porque ele mente para Nando. Mas Nando não está sozinho: não quando ele tem a Lea e o Raul ao seu lado: a amiga que o apoia em tudo e o que diz a verdade.

“Filme de terror não tem herói, Vida. Tem sobrevivente”

 

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