Último Capítulo de “Anos Rebeldes” (14 de agosto de 1992)
“O povo unido jamais será vencido!”
Uma
minissérie espetacular do primeiro ao último capítulo! Exibido originalmente em
14 de agosto de 1992, o último capítulo de “Anos
Rebeldes” nos traz a fuga de João Alfredo e Marcelo para o Chile, o destino
de personagens como a Heloísa e o Edgar, e os anos seguintes da Ditadura
Militar, conforme ela começa a perder a força e a reabertura para a democracia
dá passos importantes… com 1h03min de duração, esse capítulo final é repleto de
emoção, melancolia e pitadas de esperança e de alegria que encerram a obra com
uma mensagem muito clara e muito atual: histórias
como a de João Alfredo e tantos outros que sofreram e que lutaram durante a
Ditadura Militar precisam ser registradas e contadas, para que todos a conheçam
e para que ela não se repita.
O capítulo
começa ainda na discussão de Maria Lúcia e João Alfredo quando ela descobre que
ele e Heloísa nunca tiveram nada, e ela quer saber por que ele mentiu para ela, e ele explica que queria que ela fosse
feliz – “Como você ia se sentir sabendo
que eu tava vivendo na clandestinidade? Entrando em quartel pra roubar arma?
Sequestrando embaixador?”. João não se arrepende do que fez, porque viu que
ela seguiu sua vida, mas a verdade é que, como ela mesma diz, quem lhe garante
que ela está feliz? E não cabia a ela o direito de escolher? De todo modo,
Maria Lúcia pede desculpas a Heloísa por como a tem tratado e diz que gosta
muito dela, e Heloísa responde pedindo que ela também possa contar com ela… que, se algo lhe acontecer, ela cuidará de
sua filha.
E sabemos
que isso é mau presságio.
João
Alfredo, Heloísa e Marcelo têm um plano para escapar do país em um navio de
carga prestes a partir, e eles não conseguem fazer isso porque a partida do
navio é cancelada devido à traição de Valdir… um dia, há muito tempo, ele foi
amigo deles e ele deve o que tem a João Alfredo, mas ele não admite isso.
Impossibilitados de fugir pelo mar, eles precisam de outro plano – e a fuga se
torna ainda mais urgente quando a cidade é tomada por cartazes com as fotos dos
três que os chamam de “TERRORISTAS PROCURADOS”. E o pai de Heloísa, Fábio
Brito, poderia ter ajudado permitindo que eles partissem em um avião particular
decolando de sua fazenda, mas ele não quer ajudar. A “ajuda” que ele oferece é
“garantir” um “bom tratamento” para Heloísa se ela se entregar…
Heloísa não
tem motivo para acreditar nas pessoas que estão tentando matá-la há meses, e
ela tampouco pensa em abandonar Marcelo e João Alfredo. Então, eles precisam
aceitar um plano de Sandra que envolve a rota de contrabando, e eles conseguem
a inesperada ajuda de Caramuru, que tem um carro para levá-los até o lugar onde
eles poderão embarcar. E, infelizmente, as coisas não saem conforme o
planejado… o carro é parado em uma das tantas blitz espalhadas pela cidade, e
embora Caramuru jogue bem, inicialmente, e quase consiga a liberdade deles, “a
loirinha do cabelo curto” é eventualmente reconhecida, e então eles não têm
mais chance nenhuma… eles pedem que ela saia do carro e, ao fazer, ela é
alvejada de tiros impiedosamente.
Ela estava
com a mão dentro da bolsa para pegar sua identidade falsa, na qual a câmera
foca ao fim da cena, mas ninguém quis esperar… eles a mataram como fizeram com
tanta gente. Marcelo fica desesperado, mas João o mantém à força dentro do
carro, porque não há mais nada que eles possam fazer por Heloísa – e eles
precisam fugir. E é o que eles fazem,
chegando em segurança no Chile. Enquanto isso, Fábio tem o descaramento de
dizer que “ele fez tudo o que podia para ajudar a filha” e ainda que “não a
mataram, foi suicídio”, e o tapa que Natália deu nele foi ainda muito menos do
que ele merecia… depois da morte de Heloísa, que o Fábio poderia ter enviado,
Natália abandona tudo para trás no Brasil e vai embora para Paris, atrás de
Avelar…
Depois da
fuga de João Alfredo, o Edgar descobre por que Maria Lúcia aceitou se casar com
ele, e ele enfim precisa lidar com a verdade que no fundo sempre soube: que
Lúcia nunca deixou de amar o João e que se casou com ele porque precisava de um
amigo e de uma companhia… na verdade, ele também se iludiu, ele também quis
acreditar que Lúcia o amava ou poderia vir a amá-lo, mas agora talvez o melhor
seja se separar e seguir caminhos diferentes – ele sempre a amou, mas aquilo
que eles têm não é real. Por muito tempo, Edgar achou que seria o suficiente
amá-la, mas está sendo pouco, porque ele
também quer ser amado… Maria Lúcia diz que gosta muito dele (ai!), e
pergunta se essa sua decisão não é precipitada, mas ele sabe que foi um erro e
que vai ser melhor para os dois enfrentar a verdade…
“A gente não pode perder o que nunca teve”.
Depois do
fim do seu casamento com Edgar, Maria Lúcia recebe a chance de cumprir a
promessa que fizera a Heloísa na última vez em que elas estiveram juntas.
Quando Bernardo, o irmão de Heloísa, fica responsável pela criança que ela e
Marcelo deixaram, Maria Lúcia pede que ele
a deixe criar a menina… ela explica que isso lhe faria bem, que ela precisa
de uma razão para viver – ela fala sobre como admira Heloísa e os demais por
viverem por uma causa, mas isso é algo que ela nunca pôde e nunca poderá fazer,
mas talvez viver por uma pessoa… assim, Maria Lúcia e Bernardo vão até Minas
Gerais para buscar a criança que cresce como filha de Maria Lúcia nos anos
seguintes… e Maria Lúcia tem muitas histórias para contar sobre Heloísa, cuja
memória jamais será esquecida.
João se
encontra no Chile, se torna um jornalista reconhecido, cobre a revolução para
outros países, e o seu exílio faz com que Lúcia pense nele e em tantos outros
que não têm o direito de voltar para o seu país – não por escolha, mas porque
foram perseguidos. Conforme o tempo passa, com matérias de jornais e cenas de
telenovelas, chegamos ao momento, em 1979, em que a anistia foi concedida e,
assim, os exilados começam a retornar para o Brasil… pessoas recebidas como
heróis, como revolucionários que não se calaram e que estão retornando para
casa. Muito bonito o retorno de Marcelo, que abraça a filha que ele teve com
Heloísa e não pôde ver crescer; depois, João Alfredo também chega, no meio de
gritos de “O povo unido jamais será
vencido!”.
É uma cena
emocionante e muito significativa.
Ali, João
Alfredo e Maria Lúcia se reencontram…
tantos anos depois, João vai aos poucos descobrindo novidades dos anos em que
esteve fora. E quando ele e Maria Lúcia conversam, ele fala sobre o livro que
está escrevendo agora, que é a sua
história na luta – e ele fala sobre como ele e os demais têm o dever de
divulgar o que aconteceu com eles, para que isso nunca mais aconteça. Quando
Lúcia pergunta se ele vai falar sobre “eles dois”, João se aproxima dela para
perguntar se ela acha que existe alguma chance para eles… e, naquele momento de
reencontro e de reconexão, eles se beijam novamente e passam a noite juntos,
como se retornassem aos tempos em que estiveram no auge de sua paixão. Mas a
verdade é que eles ainda são pessoas
muito diferentes.
João quer
ficar com Maria Lúcia, mas quando ela pergunta se ele acha que está pronto para
levar uma vida “normal” ao seu lado e ter filhos, nós percebemos que não é
possível, ainda que eles se amem tanto e isso fique claro o tempo todo. Na manhã seguinte, apesar da convicção de João
Alfredo ao dizer que poderia, sim, levar uma vida normal ao seu lado, ele
recebe uma ligação para uma reunião do movimento, e é a mesma coisa que Lúcia
já viveu tantas vezes… no fundo, ela sabe que as coisas não mudaram o
suficiente e que ela não estará pronta para entrar nesse mundo mais uma vez,
mas ela aceita o convite de João para ir com ele até essa reunião. Quando ela o
escuta se voluntariar para buscar dados em um lugar distante, ela é levada de
volta no tempo…
Ela já
esteve naquela mesma situação… era isso o
que ela não queria para sua vida.
Então,
lembrando-se de discussões passadas, Maria Lúcia se levanta em silêncio e sai
sem dizer nada. João Alfredo a segue, mas naquele momento ambos sabiam que era
uma despedida do romance deles… uma despedida tranquila, triste e racional: ela
o ama e ela o admira por sua força e sua determinação, na verdade, mas ela não
é assim. João Alfredo fala sobre “Sabiá”,
a música sobre a qual eles discutiram em um dia de festival no passado, e então
eles se abraçam sabendo que os caminhos deles se separam novamente – dessa vez,
no entanto, sem mentiras. Ambos sabem o que está acontecendo, o que estão
fazendo e decidiram por eles mesmos. João seguirá na luta, porque ela não
acabou e ele tem um dever a cumprir; Lúcia retorna para casa, sozinha, e chora
ao olhar as fotos do passado.
Um final
melancólico, forte e belo.
“Anos Rebeldes” é uma obra admirável!
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Visite também “Teledramaturgia Brasileira” em Além do
Cantinho de Luz
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