Anos Rebeldes – O início da luta armada e o fim do relacionamento de João Alfredo e Maria Lúcia

“É a clandestinidade ou largar a luta”

Talvez o relacionamento de João Alfredo e Maria Lúcia estivesse fadado ao fracasso desde o início… talvez o amor deles não fosse o suficiente para superar todas as diferenças acentuadas pelos horrores da Ditadura Militar e da resistência que empurrou João Alfredo na direção da luta armada… talvez coisas maiores que eles estejam acontecendo e ditando os rumos de suas vidas nesse momento, os impedindo de ser plenamente felizes porque a vida é política e negar isso é impossível, ainda mais em tempos de crise como esse. Conforme os grupos de esquerda tendem à guerrilha porque é tudo o que eles podem fazer, João Alfredo e Maria Lúcia têm o seu relacionamento testado uma última vez, até o momento em que eles simplesmente não podem seguir insistindo.

Lúcia dá a João Alfredo a notícia de uma gravidez no dia em que ela o vê saindo de uma casa abraçado a Heloísa e ele explica que eles estavam fingindo serem recém-casados para poderem alugar uma nova casa da qual a resistência precisava como aparelho, e ela sabe que essa gravidez não vem em um momento ideal… João Alfredo também sabe disso. Ele a ama imensamente, como lhe garante, mas eles têm mesmo condições de ter esse filho nesse momento? Então, os dois vão até uma clínica dispostos a tirar o bebê, mas não têm coragem de seguir com esse plano e acabam voltando para casa determinados a levar a gravidez adiante e criar esse filho, independente das condições em que estão… eles se amam, eles podem se casar, e não adianta esperar pelo “momento ideal”.

Talvez ele nunca chegue.

Infelizmente, a gravidez de Maria Lúcia não vai adiante. Ela perde o bebê no dia em que ela precisa correr atrás de João Alfredo e avisá-lo da polícia antes de ele chegar ao aparelho onde estão esperando por ele, e é uma situação tão estressante que é um fator determinante no aborto espontâneo que ela tem em seguida. É um sofrimento tão grande que deixa Maria Lúcia em uma depressão profunda que exige um internamento para que ela possa se tratar e se recuperar… a verdade, no entanto, é que a depressão não é causada apenas pelo aborto, que é apenas o gatilho que desencadeia um quadro construído ao longo de anos por tudo o que Maria Lúcia tem vivido, todo o medo que sempre enfrentou, todas as brigas, todas as perdas, toda a falta de perspectiva…

Quando Maria Lúcia sai da clínica recuperada dentro do possível, João Alfredo sabe que ela precisa dele mais do que nunca… mas também sabe que o movimento precisa dele. Sandra o está pressionando a entrar na clandestinidade, que envolve roubo de armas, um grupo de guerrilheiros e missões para resgatar companheiros que foram presos e estão sendo torturados. Para se juntar a essa luta, no entanto, João Alfredo teria que viver escondido, sem que ninguém saiba onde ele está, se ele está vivo ou morto, e ele sabe, no fundo, que Maria Lúcia não merece isso… e não sabe nem se ela vai aguentar. João Alfredo é empurrado nessa direção quase sem escolha, sabendo que Maria Lúcia é contra a luta armada e não tem como ela concordar com essa ideia.

Ele estava certo… Maria Lúcia não concorda. Mas a luta armada se mostra cada vez mais necessária, cada vez mais como a única saída para o que está acontecendo – agora, eles começam a sequestrar pessoas poderosas para trocar por presos políticos e, assim, salvar quem eles puderem salvar… quando Ubaldo, responsável pela liberdade de tantas pessoas, é preso, João Alfredo sabe que algo precisa ser feito, que eles precisam ajudá-lo. Infelizmente, eles chegaram em um momento que nem é mais sobre “avançar”, mas sobre libertar companheiros que foram levados… companheiros como o Ubaldo, que João não pode e não quer deixar para trás. Maria Lúcia não concorda com nada disso, acha que tudo o que ele vai conseguir é ser preso também…

“Fica comigo, João. Por favor”

João Alfredo está em um dilema, mas a verdade é que ele já fez a sua escolha… no fundo, nunca houve uma escolha. Em uma conversa com Galeno – em sua fase mais hippie e mais “paz e amor”, sem concordar com a luta armada tampouco –, ele fala sobre como sente que se sair da organização nunca mais vai ter coragem de olhar para o próprio reflexo no espelho. E é a conversa com Galeno que o faz entender o que precisa ser feito em relação a Maria Lúcia: ele entende que ele precisa renunciar ao seu amor. E, para fazer isso, ele precisa fazer com que Lúcia acredite que ele está apaixonado por outra pessoa, e ele tem a história perfeita para ela, envolvendo a Heloísa… e aquilo que ela viu, no dia em que descobrira a gravidez, parece ajudar a vender a história.

É uma cena dolorosa, até injusta e cruel… mas João faz o que ele acredita que tem que fazer para proteger a Lúcia e seguir ajudando a salvar companheiros. Ele termina com Maria Lúcia a fazendo acreditar que ele se envolveu com Heloísa enquanto ela estava na clínica, e ele vende bem a sua história falando sobre as afinidades que ele e Heloísa têm por causa da resistência, e os dois terminam machucados… profundamente machucados. Em uma cena forte, vemos Lúcia desmoronar em lágrimas desesperadas enquanto grita para João Alfredo e o manda sumir dali, porque “ela o odeia”, mas não o deia de fato… apenas está machucada. O desespero está claro em seu choro, e essa dor se reflete no choro silencioso de João Alfredo do lado de fora, dizendo adeus ao seu amor…

Agora, ele vai se dedicar inteiramente à luta. Ele fez sua escolha.

 

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