Anos Rebeldes – Os 40 dias de sequestro de Giovanni Enrico Bucher

“Era pra resolver em uma semana. Já tem quase um mês!”

Quando João Alfredo e os demais sequestraram Giovanni Enrico Bucher, o Embaixador da Suécia, eles acreditaram que seria algo simples e que acabaria depressa, assim como foram os sequestros realizados antes – figuras como o embaixador americano e o cônsul japonês, que foram trocados por presos políticos –, mas a operação se estende por um total de 40 dias. O sequestro que acontece em 07 de dezembro de 1970 e leva Giovanni Enrico Bucher para um aparelho no qual ele fica vigiado por João, Heloísa, Marcelo e Salviano só chega ao fim no dia 13 de janeiro de 1971. E, durante esse tempo, algumas decisões precisam ser tomadas: se os militares se recusarem a atender o que eles pedem, qual é o procedimento? Matar o Embaixador?

O movimento não pensava em matá-lo… quando o sequestro aconteceu, essa não era uma possibilidade, porque nunca foi sobre machucar alguém ou sobre usar a violência, mas sobre salvar os presos políticos, seus companheiros torturados pela Ditadura Militar. Quando eles escutam na rádio o reconhecimento do pedido da resistência, eles experimentam alguns segundos de alegria quando se fala sobre soltar os nomes na lista que lhes foi passada… infelizmente, no entanto, alguns nomes são vetados: existem alguns presos que não serão soltos, por um motivo ou outro… com essa recusa súbita, algumas pessoas no aparelho acreditam que a solução é matar Giovanni Enrico Bucher, porque “eles já fizeram concessões demais”.

O próprio Marcelo diz isso… Heloísa também concorda, embora não queira matar o “Imperador”. Até mesmo Salviano está prestes a aceitar a morte do embaixador sueco, porque um dos nomes que se recusaram a liberar é de um garoto de apenas 17 anos que esteve com ele em uma missão, e que ele não quer que fique preso de maneira alguma. João Alfredo é contra a morte do embaixador, mas ele parece ser um voto vencido. Em uma cena forte e emotiva, João conversa com Heloísa sobre tudo o que está acontecendo, e admite que parece que, no fim, ela tem mais espírito revolucionário que ele. No fim das contas, no entanto, eles não têm coragem de matar Giovanni Enrico Bucher, e não apenas por ele: porque eles precisam conseguir algumas liberdades…

Eles podem não conseguir todos os nomes originalmente pedidos, mas ainda podem salvar a vida de muitas pessoas. Então, eles substituem os nomes que os militares se recusaram a liberar e reenviam a lista… e, enquanto isso, eles aguardam. Seguem aguardando e temendo qualquer movimento estranho, como quando a Aeronáutica aparece na rua, mas eles estavam fazendo algo que realmente não tinha nada a ver com eles. Quando uma vizinha entra na casa meio sem avisar, Heloísa age impulsivamente e decide anunciar uma FESTA DE RÉVEILLON para o ano de 1971 ali na casa: segundo ela, dar uma festa ali é a melhor maneira de garantir a segurança do aparelho, porque uma casa em que se oferece uma festa não vai chamar a atenção como possível aparelho…

E ela tem razão.

A virada de 1970 para 1971 é, então, inusitadamente marcada por uma Festa de Réveillon em um aparelho da resistência, enquanto João Alfredo fica escondido em um dos quartos, porque ele está sendo procurado e não pode dar as caras… ele só sai do aparelho durante a madrugada, quando é um pouco mais seguro andar na rua, e quando o dia está amanhecendo, ele tem um encontro não planejado com Maria Lúcia e com Edgar na praia. É a primeira vez que os vê desde o casamento, e é algo profundamente doloroso, mas ele sabe que foi uma escolha sua e ele não está arrependido dela… ele sabe que não poderia parar de lutar, e também sabe que Maria Lúcia não merecia e não queria essa vida. Mas não quer dizer que não doa a ver com outro.

Quando a terceira lista é enviada, finalmente eles chegam a um acordo… do aparelho, eles assistem na televisão a soltura dos 70 presos políticos, e é notável como eles estão fracos, como eles não estão bem, mas eles estão vivos e, naquele momento, é isso o que importa. Ubaldo é uma das pessoas que eles conseguem liberar. Agora, eles precisam soltar o embaixador, e um pequeno empecilho parece atrasar um pouco mais a conclusão de toda essa história do sequestro: eles precisam de um carro para levar o embaixador até o lugar da soltura, mas eles batem o carro e estão literalmente sem condução… e é um problema não soltar o Giovanni Enrico Bucher, tendo em vista que os 70 presos políticos já foram comprovadamente liberados…

É como se eles não estivessem cumprindo sua parte do acordo.

Felizmente, as coisas não se estendem por tanto tempo, e Giovanni Enrico Bucher ganha uma sequência de despedida inusitadamente emotiva, porque aquele grupo passou 40 dias juntos, e eles se tornaram quase “amigos” (se é que se pode chamar assim, nas circunstâncias). João Alfredo o presenteia com um disco da Gal Costa, diz que é para ele se lembrar dele… é da cantora de quem ele gostou e traz a emoção do país exatamente como ele falara outro dia. Heloísa, por sua vez, o presenteia com uma coroa de carnaval que combina com o fato de que ela o chamou de “Imperador” durante todo esse tempo. Há emoção sincera naquela despedida, e então o embaixador sueco é finalmente liberado e essa trama toda do sequestro chega ao fim.

 

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