O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera, 2004)

“Love me, that’s all I ask of you”

Certamente, “O Fantasma da Ópera” é um dos maiores musicais já produzidos, e sempre vai causar um impacto em mim, não importa quantas vezes o assista… a história forte de duas vidas que se cruzaram na infância e que poderiam viver um amor puro e verdadeiro, mas que é maculado pela persistente e obsessiva presença de um fantasma, que considera Christine Daaé, a garota cuja voz ele treinou durante anos, sua propriedade. Baseado em um livro francês de 1910, “Le Fantôme de l’Opéra” de Gaston Leroux, a história é um conto sombrio e macabro repleto de vítimas, de atitudes perversas, de sofrimento e, quiçá, de um pouco de esperança… a história foi adaptada para o cinema em 1925, em um filme de terror mudo, mas, atualmente, provavelmente a versão mais conhecida da história original é a transformada em musical por Andrew Lloyd Webber.

O musical “The Phantom of the Opera”, com música de Andrew Lloyd Webber, letras de Charles Hart e libretto de Webber e Richard Stilgoe, teve suas primeiras apresentações em um festival em 1985, e estreou oficialmente no West End em 1986, e na Broadway em janeiro de 1988, de onde nunca saiu de cartaz – totalizando mais de 13,000 apresentações, sendo o musical da Broadway há mais tempo em cartaz. Eu sempre falo sobre como a música tem a capacidade de intensificar os sentimentos (e isso não apenas em se tratando de musicais, na verdade), e “O Fantasma da Ópera” é uma obra com identidade musical fortíssima, marcante a ponto de ser reconhecida por apenas algumas notas, onde quer que você as escute… as notas iniciais de “The Phantom of the Opera” (a música, não o musical), por exemplo, me arrepia até hoje toda vez que as ouço.

Assistir a “O Fantasma da Ópera” é sempre uma experiência e tanto! Uma experiência que mistura satisfação e angústia, que assombra, sim, mas que também enche os olhos e os ouvidos… terminamos o musical surpresos, mesmo depois de tantos anos, com o conto macabro do qual somos convidados a fazer parte. O filme me conquista já nos primeiros minutos, em dois momentos específicos: o primeiro durante o leilão de anos depois da história, com a presença de Raoul e Madame Giry, quando Raoul compra o macaquinho que toca, de maneira melancólica, e melodia de “Masquerade”; o segundo é a transição, ao som daquela orquestra impressionante, entre o futuro e o passado, com o lustre retornando ao seu esplendor completo, junto com toda a Ópera Paris, emulando a emoção de ver o lustre subir ao som da orquestra no musical.

“O Fantasma da Ópera” conta a história da Ópera Paris, e de um gênio atormentado e obsessivo que mora em suas profundezas… escondido do mundo e incompreendido por ele, o Fantasma se torna uma pessoa perigosa e capaz de tudo para conseguir o que quer – e o que ele mais quer, agora, é o amor de Christine Daaé, uma garota do coro cujo talento ele vem “cultivando” há anos, como seu “Anjo da Música”, uma voz que aparece para ela, e que ela acredita ter sido enviada pelo seu pai… as coisas mudam de figura quando Raoul, Vicomte de Chagny, se torna um dos investidores da Ópera Paris e, durante a primeira grande apresentação de Christine, “Think of Me”, a reconhece como a “Pequena Lotte”, a garota com quem brincava na infância… e eles estão prontos para reassumir essa relação e viver, na fase adulta, um amor que nasceu na infância.

E, temendo perdê-la, o Fantasma se volta contra Raoul e atrai Christine.

O Fantasma é uma mente perturbada, perigosa, doentia. E o texto deixa isso muito claro. O Fantasma não “ama” Christine: ele a vê como sua propriedade, ele é obcecado por ela. Christine, por sua vez, tampouco “ama” o Fantasma: ela respeita sua genialidade artística e tem dificuldade para separar a figura real e violenta que conhece agora da voz que durante anos a treinou e que ela via como um amigo e um guia. Parece-me que, durante as cenas de Christine com o Fantasma, ela entra em uma espécie de “transe” quase hipnótico, que representa a fascinação e o controle que ele exerce (e que sabe que exerce) sobre ela. Mesmo assim, “The Phantom of the Opera”, cantada por ambos durante a descida até o covil do Fantasma (“The Phantom of the Opera is there… inside my mind”) é, provavelmente, a melhor música de toda essa história!

Com Raoul, embora uma parcela surpreendente dos fãs de “O Fantasma da Ópera” não goste dele (algo que eu jamais vou entender!), as cenas de Christine são doces, puras, sinceras e verdadeiramente apaixonadas… Christine e Raoul compartilham, também, uma conexão que vem de anos, e tem a jovialidade e a leveza da infância e da adolescência, e é suave como eles se declaram e como é um paralelo proposital com a maneira controladora e abusiva como o Fantasma tenta estabelecer uma “relação” com Christine, que é baseada em poder e controle. Com Raoul, durante “All I Ask of You”, que é outra das minhas músicas favoritas na obra, o sentimento fica claro, puro e altruísta, e ele fala sobre tirá-la da escuridão e protegê-la, e tudo o que um pede ao outro em retorno é que eles se amemmas eles têm sempre a sombra do Fantasma perto deles.

Tendo desaparecido por três meses de paz (nos quais o amor entre Christine e Raoul pôde florescer com tranquilidade, embora não os acompanhemos de fato), o Fantasma da Ópera faz o seu retorno para anunciar “Don Juan Triunfante” durante uma das cenas mais marcantes do filme e do musical: “Masquerade”, que no musical abre o segundo ato do espetáculo, deixando toda a plateia vibrante e arrepiada… eu adoro a capacidade que “O Fantasma da Ópera” tem de brincar com suas melodias através de uma série de reprises, e de como ela adquire novos significados – assim como memórias são preenchidas com novos sentimentos através do tempo… se “Masquerade” é uma música razoavelmente alegre durante a sua apresentação completa, ela assume o tom mais melancólico de toda a obra quando é retomada no macaquinho do leilão.

Impressionante!

O Fantasma considera a Ópera Paris sua – ele dá as ordens por ali, exigindo um salário e que o Camarote 5 esteja sempre à sua disposição, por exemplo, e quando ele retorna, é com uma série de exigências e indicações de como as coisas devem ser feitas dali em diante… ele escreveu a próxima Ópera que será encenada, ele tem indicações para os papeis principais, e um plano que planeja executar durante a sangrenta apresentação de “Don Juan Triunfante”, que conta com um assassinato para que o Fantasma assuma o papel de Don Juan e se aproxime, no palco, de Christine Daaé… depois de ver Christine e Raoul juntos no terraço da ópera, o Fantasma jurara guerra contra ambos, e esse seu retorno traz a versão mais distorcida possível do personagem, preparando toda a tensão e o suspense que antecede o grande clímax de “O Fantasma da Ópera”.

A apresentação de “Don Juan Triunfante” segue as diretrizes apresentadas pelo Fantasma, porque todos sabem que ele estará presente se Christine Daaé estiver no papel principal, e talvez seja a melhor oportunidade que eles têm de capturá-lo… toda a sequência da apresentação é, no entanto, repleta de tensão, especialmente quando o Fantasma sobe ao palco e assume o papel de Don Juan durante “The Point of No Return” – que é uma cena que tem um detalhe que me agrada demais, e expressa essa “fascinação” quase inconsciente que Christine sente pelo Fantasma… durante a música, Christine chega a se envolver pela sensualidade perversa do Fantasma naquele seu quase transe, mas ela “desperta” dele quando o Fantasma usa, na música, trechos de “All I Ask of You” – que é a música que ela cantara com Raoul no terraço.

Ali, é como se ela acordasse, novamente, para a realidade, para o quanto o Fantasma é uma mente doentia… aquela música não lhe pertence, aquela declaração não era sua, mas quando Christine percebe, e tira a máscara do Fantasma na frente de todos, já é tarde demais, e ela é levada de volta ao covil dele – ele está agressivo, enlouquecido, e enquanto Christine percebe que “seu rosto não a assusta mais, porque é em sua alma que está a verdadeira distorção” (!), Raoul desce para salvar Christine, e é seguido por uma multidão que quer caçar o Fantasma… o Fantasma, Christine e Raoul protagonizam uma cena angustiante quando a vida de Raoul de Chagny está nas mãos do Fantasma, que exige que Christine diga que o ama e fique ali com ele para que ele solte Raoul, enquanto o próprio Raoul, sempre digno e apaixonado, pede que ela não jogue sua vida fora por ele.

Mas Christine beija o Fantasma… não porque ela o ame, mas porque ela ama o Raoul, e porque ela sabe que essa é a única maneira de salvar a sua vida. No fim, o Fantasma, mais transtornado do que nunca (e completa desfigurado pelo seu sofrimento, tanto que é quase difícil reconhecer o Fantasma que acompanhamos durante todo o filme), deixa Christine ir embora com Raoul, cantando uma reprise de “All I Ask of You”, enquanto o próprio Fantasma desaparece novamente nas profundezas do teatro e para além dele para nunca mais ser encontrado… é o melhor final que a história poderia ter, na verdade, com Christine finalmente livre para viver o seu amor ao lado de Raoul, mas é surpreendente melancólico e doloroso, de alguma maneira… uma obra certamente intensa, cujas músicas ecoam em minha mente continuamente, e que sempre me arrepia!

“Say you’ll share with me one love, one lifetime…”

 

Para reviews de outros FILMES, clique aqui.

 

Comentários

  1. Lembro de assistir esse filme aos dez anos, quando a minha escola de ballet decidiu fazer um espetáculo baseado nos grandes musicais da Broadway e a minha turma ficou com o fatasma da ópera. Eu aluguei o DvD e fiquei bem emocionada com a história. Seria um sonho ver uma montagem nos palcos um dia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário