Anos Rebeldes – AI-5: O início dos Anos de Chumbo

Repressão. Violência. A ausência de direitos.

O Ato Institucional Nº 5 foi a oficialização de todo o ABSURDO que estava acontecendo no Brasil durante a DITADURA MILITAR. É um decreto que dá plenos poderes ao Presidente da República, dentre eles o de suspender direitos políticos e perseguir a oposição, bem como acaba com o já conquistado habeas-corpus e permite a tortura. O AI-5 ignora os Direitos Humanos e passa por cima da Constituição Federal dando início aos que ficaram conhecidos como OS ANOS DE CHUMBO, com uma intensificação da perseguição e da violência. É o ato que parece permitir todas as atrocidades que vinham sendo cometidas por baixo dos panos… censura, repressão, violência… o impacto sangrento deixado pela Ditadura Militar em nossa história se deve muito ao AI-5.

Em “Anos Rebeldes”, o Ato Institucional publicado em 13 de dezembro de 1968 é anunciado na televisão e a sua leitura é tão absurda que parece quase irreal… mas não é. Com o AI-5, vários artistas são presos ou precisam se exilar, e personagens como o Marcelo e o Avelar acabam sendo presos – quando o Avelar “é levado para outro lugar que eles desconhecem”, pensamos imediatamente em pessoas como o Rubens Paiva, que foram torturadas, assassinadas e cujas famílias passaram anos sem conseguir provar o envolvimento da ditadura nesses crimes. Enquanto isso, João Alfredo recebe a oportunidade de sair do Brasil e ir fazer um mestrado na Inglaterra, e ele sabe que o pai só quer tirá-lo do país porque teme que algo acabe acontecendo a ele…

Mas ele não pode aceitar.

“Eu tô me sentindo um covarde se eu aceitar”

Mais uma vez, João Alfredo cogita fazer algo que não seria a sua primeira escolha por causa de Maria Lúcia e para garantir a segurança de sua família. Avelar consegue uma ajuda graças a informações trazidas por Ubaldo e é solto, enquanto uma guerrilha urbana se intensifica… e é assim que retornamos às cenas que abriram “Anos Rebeldes”, capítulos antes. Estamos em 1969, e Maria Lúcia presencia um assalto ao banco que a deixa apavorada, porque ela não acha que a violência seja o caminho… mais uma vez, ela está cansada e com medo, e a luta armada a assusta mais do que qualquer coisa a assustara desde o início disso tudo, em 1964. E João Alfredo sabe que a luta armada não é necessariamente a solução ideal, mas é o que podem fazer agora…

“Como você acha que tão tratando o Marcelo na cadeia? A gente tem que reagir de alguma maneira, Lúcia”

Maria Lúcia pede que João Alfredo prometa que ela nunca vai o ver com uma arma na mão, e ele não consegue prometer isso… depois de segundos de silêncio, ele diz: “Vamos pra Londres, Lúcia. Eu vou cuidar dos passaportes”. Estar longe do Brasil, ainda que ele se sinta um covarde pela sensação de estar fugindo, é a única maneira de não se envolver na guerrilha cada vez mais presente. Mas então acontece o que vem acontecendo desde sempre: ele é lembrado de tudo o que está acontecendo. João está prestes a fugir com Lúcia quando se depara com um plano para salvar Marcelo, que é um plano de fuga quando ele estiver indo dar o seu depoimento… quando o cara responsável por essa fuga não pode ir, João Alfredo decide que ele vai…

Alguém tem que salvar o Marcelo!

E esse é o momento em que João Alfredo está segurando uma arma… exatamente como Maria Lúcia não queria que ele fizesse. João Alfredo manda Lúcia ficar em casa e então ele arma aquele teatro todo do “carro estragado” que culmina nele com uma arma na mão, gritando, ajudando o Marcelo a escapar. Naquele momento, a sua vida corria perigo, mas ele consegue salvar a vida de um amigo, e isso é o suficiente para ele. Agora, João vai se tornar uma figura carimbada, alguém procurado, e é natural que a preocupação de Maria Lúcia se torne ainda mais acentuada: ela só quer saber onde ele está e que ele está bem, e é angustiante quando ela encontra até mesmo o Marcelo antes de encontrar o João, mas finalmente ele também aparece…

Bem, em segurança. Dentro do possível.

O alívio quando Maria Lúcia e João Alfredo se encontram novamente é palpável. Eu entendo toda a dificuldade, eu entendo o medo no qual eles vivem, mas aquela cena também deixa claro o amor que existe entre eles… naquele momento, tudo o que importa para Lúcia é que o João está vivo e está ali com ela novamente… mas aquele evento muda tudo: ele não vai mais embora para Londres, ele vai ficar, porque ele precisa estar no Brasil, ele precisa ajudar mais pessoas, quantas eles puderem ajudar. Pessoas do país todo estão sendo perseguidas, presas, assassinadas… amigos e desconhecidos. Ele não vai conseguir viver em outro país fingindo que ele não sabe disso tudo, sabendo que ele não está fazendo o máximo que ele poderia estar fazendo.

Novamente, é um embate. João e Edgar têm uma briga acalorada na qual Edgar defende a sua posição covarde de suposto centro dizendo que a guerrilha pode só atrasar a volta da democracia, e ele traz Maria Lúcia para a discussão, dizendo que não vai mais permitir que o João a magoe e a deixe triste, e se ele a encontrar chorando sozinha mais uma vez, a amizade deles chega oficialmente ao fim e ele vai dar em cima dela, porque não acredita que ela vai continuar nesse masoquismo de insistir em uma relação com João Alfredo até o fim da vida. Em parte, o João sabe que Edgar tem razão e que a sua luta pode custar uma vida ao lado de Maria Lúcia, mas ele acredita na luta por um mundo melhor, pelo fim da ditadura e retorno da democracia.

Com todos os recentes eventos, João Alfredo e Edgar não cumprem a promessa que fizeram alguns anos antes, de que assistiriam juntos ao homem pousando na lua se fosse exibido na televisão. No dia 20 de julho de 1969, enquanto a TV transmite o pouso na lua, cada um está em um lugar diferente… Edgar pega de volta o livro que fizera há tanto tempo com João sobre a conquista do espaço e, em algum lugar dentro dele, sente falta do amigo; Maria Lúcia está sozinha em casa; João Alfredo está em um aparelho, trabalhando, e ele assiste sozinho, com uma lágrima discreta no canto do olho que representa muita coisa. É uma cena bastante poderosa e simbólica, que mostra o quanto esses laços vão se transformando no decorrer da vida, graças a inúmeros fatores…

Eles não são os mesmos que eram em 1964. Nem deveriam ser.

 

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