The Sandman 2x04 – Chapter 14: Brief Lives

“My sister and I will be making a short journey together”

Durante a leitura de “Sandman”, “Vidas Breves” sempre foi um dos meus arcos favoritos. “Chapter 14: Brief Lives”, o quarto episódio da segunda temporada de “The Sandman”, começa a adaptação do arco de maneira sensível, intensa e bonita, mas em parte eu sinto que as coisas aconteceram muito rapidamente – é uma sensação que não se nota tanto durante o episódio, porque ele é bem conduzido, mas que se torna presente quando o episódio termina, e eu sinto que, se não tivéssemos que encerrar a série na segunda temporada, talvez o que nos foi mostrado aqui poderia ter durado um pouco mais… de todo modo, é um episódio bonito, com excelentes personagens, e é o momento em que iniciamos oficialmente a busca por Destruição dos Perpétuos.

Após a partida de Nada de volta ao mundo desperto, Morpheus está se lamentando e sofrendo na sacada de seu palácio, sob a chuva do Sonhar, até que ele seja interrompido por uma visita inesperada: Delirium, a sua irmã mais nova. Todo o diálogo entre Sonho e Delírio é fascinante, e também é um momento importante porque Sonho faz algo que talvez nunca tenha feito antes, que é pedir desculpas depois de ela reclamar de sua ausência e ele responder que estava distraído com outras coisas… é um simples “I’m sorry” no meio de uma frase, mas sincero o suficiente para que não passe despercebido pela irmã. E ela fala sobre o que lhe trouxera ali: ela quer ir em busca de Destruição, o irmão que abandonou seu reino, suas responsabilidades…

Os abandonou e pediu que nunca o buscassem.

Sonho sabe que outros Perpétuos disseram não a Delirium, mas a informação de que ela teve a ideia de buscar Destruição na companhia de Desejo chama a atenção de Morpheus: esse é mais um de seus planos? Então, Morpheus vai até a sua galeria para conversar com Desejo, e embora haja certa provocaçãozinha típica de qualquer interação entre Sonho e Desejo, não fica claro se Desejo tem algo a ver com isso… e, de todo modo, Sonho decide acompanhar Delirium. Não porque queira buscar Destruição, tampouco porque não queira que Delirium acabe indo sozinha… tem mais a ver com a vontade de caminhar pelo mundo desperto e buscar por Nada, como Desejo e Lucienne bem sabem e Morpheus não é assim tão bom em esconder.

Em paralelo, Destruição percebe que alguma coisa está acontecendo… ele está vivendo em algum lugar isolado, pintando quadros que são julgados por seu cachorro, Barnabas, em uma dinâmica muito bacana e tranquila: ele não quer ser encontrado, e ele já dissera isso antes. Tudo é parecidíssimo com o que vimos na HQ, o diálogo é adaptado à perfeição, e é Barnabas quem percebe antes que “algo está acontecendo na sala do fundo”, que é um lugar que Destruição chama de “Sala da Família”, e que em muitos sentidos parece uma Galeria dos Perpétuos… é dali que ele vê a movimentação que talvez ainda não entenda por completo, mas ele sabe tem problema à vista. E, de fato, a jornada de Sonho e Delírio não é sem percalços.

Delirium tem uma lista de antigos conhecidos de Destruição que eles podem buscar para perguntar se eles sabem algo sobre o Perpétuo que debandou – para isso, eles andarão pelo mundo desperto com a ajuda do Mestre Pharamond/Farrell, que preparou um carro para os Perpétuos e uma motorista, Wanda. O primeiro nome da lista de Delírio é “o advogado”, Bernard Capax, um mortal tão antigo que é uma das poucas pessoas ainda vivas que tem memórias dos mamutes. Depois de viver por 12 mil anos, Bernard Capax morre em um acidente bobo e recebe a visita da Morte, com quem tem uma conversa breve e bonita na qual ela diz que ele teve exatamente o que todos têm, nem mais nem menos: o período de uma vida.

Quando Morpheus e Delirium chegam, Bernard Capax já está morto e Sonho sabe que alguma coisa está acontecendo… Bernard viveu por tantos milhares de ano e morre justamente no dia em que eles estavam indo conversar com ele? Antes de buscar o próximo nome da lista, Wanda leva os irmãos para um lugar onde eles podem beber, conversar e descansar, e é uma cena esperada e bonita na qual ela, uma mulher trans, conta a sua história: ela fala sobre a família conservadora, fala sobre os livros dos quais sente falta (o comentário sobre como “O Mágico de Oz” é cultura gay, mas “A Maravilhosa Terra de Oz” é cultura trans é maravilhoso, e amo a brincadeira com sobre como Judy Garland passava muito tempo no reino de Delirium), do que faria se os encontrasse novamente agora…

É sensível, é bonito, é sincero, é real.

Infelizmente, eu sinto que queria ter visto mais de Wanda na série. Ela é uma personagem carismática que aparece durante esse episódio e tem essa cena importante conversando com Sonho e Delírio, mas eu queria mais… eu queria poder ter passado mais tempo ao seu lado para sentir que a sua morte tem mais significado. A morte de Wanda acontece quando Sonho e Delírio buscam o próximo nome da lista, “a dançarina” – trata-se de Belili/Ishtar, a antiga deusa da guerra e do sexo, outrora cheia de templos e sacerdotisas, agora com apenas um “templo” em uma boate a seu serviço. Sonho conversa sozinho com ela, pergunta de Destruição, e ela não tem nenhuma informação… mas ela pergunta por que ele a odeia, já que sua mera visita ali trouxe a morte.

Afinal de contas, Sonho sabia o que estava acontecendo, ele sabe da morte de Bernard Capax, e o alerta de que ela pode estar em perigo não é o suficiente… aquele é o único templo que ela tem, e se ela vai morrer naquela noite, ela quer fazê-lo dançando – ela quer dançar de verdade, como uma deusa, da maneira como nenhuma pessoa ali jamais viu. A sequência da dança é LINDÍSSIMA, traduz bem a sensação hipnotizante do momento, e então o lugar explode… dentre as vítimas, a própria Ishtar e Wanda. Desejo aparece para chamar a atenção de Sonho para o fato de que ele é o culpado daquilo tudo, foi ele quem levou a morte àquelas pessoas, e tudo porque quer andar pelo mundo desperto em busca de Nada, sem se importar com Delirium ou Destruição.

Assim, os caminhos de Sonho e Delírio se separam. Um final potente, um gancho excelente.

 

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