Anos Rebeldes – O ano de 1970: Os movimentos negociam a liberdade de presos políticos
O sequestro de
Giovanni Enrico Bucher.
Em algum
momento, a luta armada durante a Ditadura Militar deixou de ser sobre avançar e
derrubar o regime ditatorial e passou a ser sobre fazer o pouco que eles
conseguiam nessa luta sabidamente desigual, e esse “pouco” consistia em tentar
libertar os companheiros que foram presos para serem silenciados, e que estavam
sendo torturados e mortos pelo governo. E, durante algum tempo, o sequestro de
figuras internacionais importantes, como o Embaixador dos Estados Unidos ou o
Cônsul Japonês, garantiu a troca pela liberdade de pessoas que haviam sido
presas pelo governo brasileiro, e era uma forma de fazer alguma coisa e de
salvar a vida de tantas pessoas… como parte da VPR, João Alfredo e Heloísa são
parte de algumas dessas ações.
Depois do
primeiro sequestro, o do Embaixador dos Estados Unidos, Heloísa acaba sendo
presa por alguns dias, acusada de ter sido parte da operação por causa de um
casaco que encontram, e eventualmente ela acaba sendo solta e o pai recebe um
pedido de desculpas pelo engano, quando a detentora do casaco na época do
sequestro se entrega, mas isso não quer dizer que Heloísa não seja parte de
toda essa revolução… que ela não gostaria de ter feito parte de algo que
garantiu a soltura de companheiros com seus mesmos ideais. É fortíssima a cena
na qual o pai a confronta e ela mostra as queimaduras de cigarro pelo seu
corpo, que são apenas um vestígio das coisas terríveis que ela passou nos dias
em que esteve presa pelos militares…
Heloísa faz
uma leitura muito inteligente e muito real sobre o comportamento dos militares,
que diz respeito ao prazer que eles sentem na humilhação do ser humano, e
quando o pai tenta mandá-la para outro lugar, ela fala sobre como não vai
embora e como não vai fugir – até porque ela já está na luta armada há mais de
um ano. Ele se diz envergonhado porque a filha “participou do sequestro do
embaixador”, e Heloísa diz que ela ficaria orgulhosa
de dizer que fez parte mesmo, mas não fez… mas nada do que o pai diga vai fazer
com que ela mude a sua atitude ou as coisas nas quais acredita. Ela chega a
dizer que a única coisa que pode impedi-la é dar um tiro nas suas costas, mas
até onde ela sabe ele ainda não fez isso com ninguém… ou fez?
Em paralelo,
no réveillon de 1970, Edgar pede
Maria Lúcia em casamento, e isso a deixa balançada… ela sabe que ele sempre
gostou dela, também sabe que ainda pensa em João Alfredo e talvez não possa lhe
fazer feliz, mas ainda que fique inicialmente pensativa, ela acaba aceitando o
pedido de casamento, e eles se casam rapidamente. É um ano com celebração de
casamento, com mais uma Copa do Mundo e com o Galeno, que se tornou hippie,
fazendo audições para o musical de “Hair”,
o que me chama a atenção particularmente, porque “Hair” é um dos meus musicais favoritos de todos os tempos…
assisti-lo ao vivo no teatro em 2010 parece ter me mudado para sempre, então
qualquer menção a algo que é tão grandioso para mim mexe comigo.
O sequestro
do embaixador americano é o primeiro, e consegue a liberdade de alguns presos…
já o sequestro do cônsul japonês consegue a liberdade de 40 prisioneiros… então
chega o momento do sequestro do embaixador sueco, Giovanni Enrico Bucher, do
qual João Alfredo, Heloísa, Salviano e Marcelo participam ativamente… esse é um
dos sequestros mais famosos dessa época, porque demorou 40 dias até sua
resolução, e é interessante como ele é explorado em “Anos Rebeldes”, e como o vemos de
dentro do aparelho, desde o planejamento até a sua conclusão. Como eu já
comentei mais de uma vez: “Anos Rebeldes”
é uma minissérie em que a parte política não fica apenas como pano de fundo, e
esse se torna o principal evento de vários capítulos!
Giovanni
Enrico Bucher é levado para o aparelho que João Alfredo e Heloísa alugaram
juntos há aproximadamente 6 meses. A operação para pegar o embaixador (que
Heloísa eventualmente chamará carinhosamente de “Imperador”) é um sucesso e ele
é levado para o aparelho no dia 07 de dezembro de 1970, e ele não acredita que
eles conseguirão muito com a sua captura… segundo ele, ele não é americano,
japonês ou alemão e as pessoas não vão dar tanta importância assim à sua vida,
mas os revolucionários estão confiantes: eles têm três precedentes favoráveis.
O plano não é matá-lo, nem machucá-lo, eles apenas querem resgatar alguns
companheiros presos, mas eles inevitavelmente precisam pensar em quais são suas
alternativas…
Quer dizer,
se as exigências não forem cumpridas, o que eles pretendem fazer?
Eles escrevem
o Manifesto com as exigências, que incluem coisas imediatas e a soltura de 70
presos (!), mas eles ficam surpresos quando monitoram os jornais e nada é
publicado… o que os militares estão esperando, o que eles estão tramando?
Dentre os presos com soltura exigida no Manifesto, está Ubaldo, responsável por
salvar tantos deles. Quando as primeiras exigências já não são atendidas, uma
discussão se instala dentro do aparelho e, em nível mais amplo, em todo o
movimento: o que eles vão fazer agora? Liberar Giovanni Enrico Bucher apenas se
todas as exigências forem aceitas, para que eles possam manter as aparências e
matá-lo caso isso não aconteça, ou permitir alguma flexibilização que pode dar
a impressão de fraqueza?
Decisões a
serem tomadas.
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Visite também “Teledramaturgia Brasileira” em Além do Cantinho
de Luz

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