Mauricio de Sousa: O Filme (2025)

“Eu vou viver dos meus desenhos!”

A importância da Turma da Mônica e dos demais personagens criados pelo Mauricio de Sousa na vida de tantos leitores brasileiros é inegável… assim como o pequeno Mauricinho do início desse filme, nos apaixonamos pelos desenhos, pelas cores e pelas historinhas que encontramos em revistas que passaram a fazer parte da nossa própria história. Com o grande cartunista brasileiro completando 90 anos em 2025, “Mauricio de Sousa: O Filme” é uma breve viagem pela sua história e pela criação de personagens icônicos como o Bidu, o Cebolinha, o Horácio e, é claro, a Mônica, em um filme leve que segue tendo como principal audiência o público infantil, de uma maneira talvez excessivamente fantasiosa, mas tem o seu quê de emoção e certamente desperta nostalgia.

Conheço muito da obra e pouco da história de Mauricio de Sousa, e sinto que esse filme não tem intenção alguma de inverter essa situação. Jogando de forma segura, o roteiro parece ter saído de uma das tirinhas do cartunista e mostra uma sucessão de fatos que o levaram à posição que ele ocupa atualmente no mercado não apenas brasileiro de quadrinhos, bem como as inspirações que o permitiram criar os mais de 400 personagens que ele tem em seu currículo atualmente, mas pouco nos permite conhecer suas angústias, seus defeitos e percalços mais dolorosos. É leve, belo e emocionante, mas passa a sensação de incompletude, se tornando mais uma homenagem ao seu legado do que, de fato, uma cinebiografia – o que não é um problema por si só, mas o filme parece aquém do que poderia ser.

No elenco, temos Diego Laumar dando vida ao pequeno Mauricio de Sousa na sua infância em Mogi das Cruzes e Mauro Sousa, o filho do Mauricio, dando vida ao pai – o que adiciona uma camada extra de emoção em muitos momentos. Pequeno, Mauricio já mostrava determinação e descobriu sua paixão pelos quadrinhos, pelas histórias e pelo desenho… ele cresceu ouvindo a Vó Dita contar histórias como a de quando Chico e Nhô Bento encontraram a mula-sem-cabeça ou perdendo a noção do tempo no cinema da cidade, e disso para ele querer contar as suas próprias histórias era uma questão de tempo. Embora tenha ganhado alguns concursos em rádio, ele não queria cantar, tampouco queria engraxar os sapatos dos clientes de seu pai na barbearia…

Ele queria desenhar.

Mauricio de Sousa cresceu com uma timidez que quase não combinava com sua determinação, e uma paixão irredutível pelo desenho – ele estava decidido a viver disso, mesmo quando parecia mais improvável. Eu não gosto muito do discurso de que “você pode conseguir qualquer coisa se se esforçar o suficiente”, porque infelizmente não é essa a realidade que todos encontram, mas Mauricio parecia acreditar nisso… para ele, “desistir não era uma opção”. O que não quer dizer que tenha sido um caminho fácil de trilhar… ele acabou trabalhando como datilógrafo, fazendo faculdade, mal tendo tempo para pensar em seu sonho, e então aceitando um emprego de revisor de texto em um jornal, porque isso o colocava um passo mais perto de uma possível publicação futura.

Até que as suas tirinhas começaram a fazer sucesso… seu primeiro personagem foi o Bidu – inclusive, o nome do meu primeiro cachorro –, e com ele veio o Franjinha pouco depois, e Mauricio começou a vislumbrar um futuro no desenho, trabalhou com o Ziraldo, e foi “sabotado” na época em que as publicações infantis foram canceladas e o seu envolvimento com o movimento dos artistas fez com que ele fosse chamado de “subversivo” durante a época da ascensão da ditadura militar… isso fez com que ele precisasse dar um passo atrás, retornar para Mogi das Cruzes com a esposa e as filhas, e repensar sua estratégia. Mas ainda sem cogitar desistir. Ele começa e negociar clichês com cidades próximas, então, e logo para vários lugares do país…

Seu trabalho começa a ser reconhecido.

É só com a Mônica, no entanto, que o sucesso vem para ficar… Bidu era um excelente personagem e conquistou o público, tanto que o nome do seu primeiro local próprio de trabalho foi “Bidulândia” e o cachorro azul – que só é azul por causa de um erro de impressão, por sinal – é, até hoje, o símbolo da Mauricio de Sousa Produções, mas quando ele foi perguntando por um colega de trabalho se ele era “misógino”, Mauricio descobriu que ele precisava escrever para meninas também, e ele não sabia como contar histórias para meninas… ou imaginava não saber, até que Vó Dita a instrui a olhar para a própria família: ele tinha, na época, três meninas em casa, dentre elas uma enfezada com um coelhinho de pelúcia amarelo e uma que não parava de comer…

Gosto muito da apresentação do nascimento de alguns dos personagens mais famosos do Mauricio de Sousa… é lindo vê-los ganhar vida conforme o Mauricio os coloca no papel, e é por isso que eu digo que o filme é primordialmente uma homenagem à sua obra e ao legado que ele deixará: além de Mônica e Magali, vemos o “nascimento” do Cascão, do Astronauta, da Turma do Penadinho e do Horácio, descrito como uma espécie de “alter ego” do artista. E é o Mauro Sousa quem torna tudo um pouco mais especial… sua expressão em momentos como quando ele ouve “Vamos publicar” pela primeira vez, ou quando vê crianças lendo suas produções, ou quando vê o resultado no papel de um personagem que estava em sua mente: a alegria, o sorriso, as lágrimas…

“Mauricio de Sousa: O Filme” talvez não seja o que eu esperava, talvez não seja o que você espera… mas é um filme delicioso e tranquilo sobre um homem que sempre acreditou em seu talento e em seu sonho, e conseguiu fazer sucesso com seus desenhos, como sempre quis, depois de insistir muito. É leve, divertido e narrado como uma história contada para crianças, e se torna encantador se você tiver relação o suficiente com os personagens que fazem parte da extensa produção de Mauricio de Sousa. A publicação do primeiro Gibi da Mônica, pela “Bidulândia”, é um momento marcante e um ponto de virada na carreira do cartunista, que teve sua obra publicada em tantos países e fez parte de tantas histórias… obrigado por tudo, Mauricio de Sousa!

 

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Comentários

  1. Oi. Eu queria perguntar quando você vai voltar a fazer resenha dos filmes dos Trapalhões?

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    1. Nesse fim de ano eu estou tentando colocar em dia filmes que saíram nesse ano, então está meio apertado, mas assim que possível vou postar... você chegou a ver minha postagem de "Uma Escola Atrapalhada"?

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