Twinless (2025)
A ânsia por companhia e a dor da ausência.
Escrito e
dirigido por James Sweeney e protagonizado por ele mesmo e Dylan O’Brien, “Twinless” fez sua estreia em janeiro de
2025, primeiro no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs, onde James
Sweeney ganhou o prêmio na categoria “Diretores Para Assistir”, e depois no
Festival Sundance de Cinema, no mesmo mês, onde o filme ganhou o “Prêmio do
Público”. Desde então, a obra gerou curiosidade
na grande audiência, que pôde finalmente assisti-la com o seu lançamento nos
cinemas em setembro… e eu preciso dizer: QUE FILME EXCELENTE! Apesar de ser
amplamente divulgado na internet por causa do protagonismo de Dylan O’Brien e o
fato de ele estar interpretando um homem gay com cenas quentes, “Twinless” é muito mais do que você pode esperar!
Aclamado
pela crítica desde a sua estreia, “Twinless”
se revela um drama profundamente sensível, complexo e intrigante… a direção de
James Sweeney cria um filme peculiar
com ideias inovadoras, que constroem uma boa narrativa a partir da simbologia
da perda de um gêmeo para refletir sobre marcas que muitas pessoas, com ou sem
um irmão gêmeo, têm – a solidão, a carência e a dependência emocional são temas
de um filme que se debruça desesperadamente sobre as relações humanas com suas
cicatrizes e imperfeições. É estranhamente divertido em vários momentos, mas
também intensamente doloroso, e lida com o luto e com a angústia por companhia… aquele sentimento
desagradável e sufocante de que você só
quer ter alguém com quem compartilhar as coisas.
Roman de um
jeito. Dennis de outro. Ambos desejando o
mesmo, de algum modo.
O filme abre
com a morte de Rocky, o irmão gêmeo de Roman, e ele não sabe lidar com a
sensação de que uma parte dele não existe
mais. Ainda que eles estivessem “separados” desde que Rocky fora fazer
faculdade no Japão, eles compartilharam uma vida e uma proximidade que apenas
gêmeos entendem… e é em seu temperamento explosivo que a mãe reconhece a
necessidade de buscar ajuda – e Roman
termina em um grupo de apoio para pessoas que perderam seus irmãos gêmeos. É
nesse lugar que ele conhece Dennis, um homem gay que supostamente também perdeu
um irmão, e ele acaba agarrando-se à sua companhia para não precisar fazer
coisas sozinho, como ir ao mercado, e
eles formam uma amizade pela perda em comum.
A verdade,
no entanto, é que Dennis nunca teve um irmão gêmeo… Dean, sobre quem ele conta
no grupo de apoio, nunca existiu – mas isso não quer dizer que a sua história
seja inteiramente uma inverdade. Quando o filme retorna para antes da morte de Rocky, descobrimos que
Dennis o conhecera, e eles compartilharam um encontro e uma noite de sexo
quente e gostoso seguido por uma conversa sincera que fez com que Dennis
acreditasse que “tinha conhecido o homem de sua vida”. Depois daquele primeiro
encontro, no entanto, Rocky nunca respondeu às mensagens, cada vez mais
insistentes, de Dennis… e quando Dennis foi até a casa de Rocky para falar com
ele e o encontrou com outro homem, ele acabou se tornando, de alguma maneira, o
responsável pelo acidente que lhe tirou a vida.
Dennis não
quis a morte de Rocky, mas quando gritou com ele no meio da rua e Rocky
atravessou sem olhar, ele foi violentamente atropelado – e agora ele se sente
culpado. Há alterações em muita coisa na história que ele conta no grupo de
apoio, mas o sentimento de culpa é verdade… e foi por isso que de maneira
obcecada e invasiva ele se aproximou de Roman, comparecendo ao funeral,
primeiramente, e o seguindo até o grupo de apoio, depois. Dali em diante, a
história fluiu dele e ele deixou que ela se tornasse cada vez maior, até o
momento em que encontrar uma maneira de dizer a verdade parecia impossível e
ele se absteve de fazê-lo, porque gostava de estar na companhia de Roman…
secretamente esperava viver com ele o que não teve com Rocky.
Ou mesmo com
“Dean”, quem sabe?
“Twinless” tem camadas inesperadas, e
seus dois protagonistas são personagens complexos e quebrados que rendem
excelentes discussões, e as atuações de James Sweeney e Dylan O’Brien conferem
à trama toda a profundidade e a verdade que engrandecem o filme. Destaco, para
o personagem de Roman, a cena na qual ele tem um monólogo com a câmera
concentrada nele, depois de ele bater em um grupo de garotos que o chamaram de
“bicha” em um estacionamento – ali, ele coloca tanta coisa para fora: sobre
como se sentiu quando Rocky escolheu ir embora para fazer faculdade e nem o
convidou para ir com ele, como se sentiu abandonado e como sentiu sua falta, e
como se sente mal por como reagiu quando Rocky se assumiu para ele, ou como o
amava…
As dores de
Dennis são paralelas. Ele precisa de ajuda, é verdade, e ele estava 100% errado
na maneira como se aproximou de Roman com uma mentira tão grande, mas a sua dor
não é menos real e/ou válida por isso. A obsessão por gêmeos desde sempre pode
ser, como ele diz uma vez, pela possibilidade de ter tido um gêmeo no início da
gestação de sua mãe, mas é mais provável que seja um reflexo da solidão que ele
sempre enfrentou, e da crença de que as coisas teriam sido mais fáceis se ele
“tivesse tido um melhor amigo”. A velocidade com que vê Rocky como “sua alma
gêmea” é fruto da ânsia por ter alguém ao seu lado, romanticamente ou não, e a
sua relação com Roman é igualmente pautada por esse sentimento… sua
possessividade, seu ciúme de Marcie…
Roman é “o
seu melhor amigo”.
Muita coisa
vem à tona no momento em que ele diz a verdade a Roman – tanto por ter sido
pressionado por Marcie quanto porque não
pode esconder isso para sempre. Quando Dennis conta a Rocky que “ele
inventou o Dean” e que “ele conhecia o Rocky” e “era o louco gritando com ele
na rua”, fica exposto muito mais do que a culpa que ele sente pela morte do
irmão gêmeo de Roman ou por ter mentido para ele durante todo esse tempo:
vemos, também, o medo/o pavor que ele sente de Roman passar a odiá-lo e de ele
perder a única pessoa que ele tem na vida atualmente… talvez eles nunca
tivessem se tornado amigos de outra maneira, e Dennis se agarra com todas as
forças a uma história que ele mesmo inventou porque quer que ela seja real.
Pensei muito
em “Querido Evan Hansen”.
“Twinless” é extremamente emocional. A riqueza
de seus personagens encontra o talento e a entrega dos atores que lhes dão
vida, culminando em uma obra marcante e inesperadamente necessária, e que mexeu
bastante comigo. Os caminhos de Dennis e Roman se separam, mas acabam
convergindo novamente, com um possível e provável perdão – Marcie dissera algo
sobre “merecimento não ser pré-requisito para o perdão – e o reconhecimento de
que algo de verdadeiro foi vivido
naqueles meses… de alguma maneira distorcida, quiçá problemática, mas não menos
real. A vida é imperfeita, tantas relações também o são, e as pessoas aprendem
a navegar por elas ocasionalmente. Irônica e paradoxalmente, existe sinceridade
e honestidade ali… a sincronicidade da última fala escancara isso.
Fantástico.
Simplesmente fantástico. FILMAÇO!!!
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