Sem Fôlego (Brian Selznick)



“As histórias de duas crianças distanciadas por meio século se entrelaçam em fascinante simetria: uma em palavras, outra em imagens. Em silêncio, o menino sofre com a ausência do pai, e a menina acompanha de longe a carreira da mãe famosa. Ambos sonham com uma vida diferente, até o dia em que decidem fugir de casa e aventurar-se numa busca desesperada por aquilo de que mais sentem falta”

 

“Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós contemplam as estrelas”

MAIS UMA LEITURA DE TIRAR O FÔLEGO DE BRIAN SELZNICK. “Sem Fôlego”, publicado pela primeira vez em 2011, é o meu segundo contato com o autor, e apenas reforça o que eu já sabia graças à leitura de “A Invenção de Hugo Cabret”: ler as histórias de Brian Selznick é uma experiência única! Com seu jeito melindroso de contar histórias através tanto das palavras quanto das imagens, Brian Selznick consegue trazer nas páginas o que também se assemelha a uma linguagem cinematográfica, unindo perfeitamente o mundo da literatura e do cinema, construindo histórias lúdicas, complexas e cheias de informação e discussões pertinentes. Cada virada de página é acompanhada de um desejo ávido por mais, até que cheguemos ao final do livro!

Ainda que com seus traços perfeitos e facilmente reconhecíveis, Brian Selznick dá a “Sem Fôlego” sua identidade própria, diferente do que tínhamos visto em “A Invenção de Hugo Cabret”. Dessa vez, é como se duas histórias fossem contadas de forma paralela. Através das palavras, acompanhamos uma história que se passa em 1977 e é protagonizada por Ben, um garoto que perdeu a mãe recentemente e está morando na casa dos tios; através das imagens, acompanhamos uma história que se passa em 1927 e é protagonizada por Rose, uma garota surda cujos pais não a deixam sair de casa, porque julgam “muito perigoso”. As histórias se complementam, de alguma maneira, e criamos uma série de teorias de como, eventualmente, elas se tornarão uma só.

O trabalho de Brian Selznick é particularmente fabuloso pelo seu claro processo extenso, complexo e rigoroso de pesquisa, que enriquece suas histórias com elementos reais que são sempre fascinantes. Se “A Invenção de Hugo Cabret” trouxera com maestria a presença de Georges Méliès e a história do cinema, “Sem Fôlego” traz a história dos museus (grande parte da história se passa no Museu de História Natural, em Nova York), dos gabinetes de curiosidade, uma pitada de cinema com a introdução do cinema falado em 1927 (claramente uma paixão do autor!) e uma surpresa agradável na reta final do livro, que desperta a nossa curiosidade e nos faz desejar com todas as forças poder visitar o Museu de Arte no Queens, onde o Panorama está exposto.

Esse é um elemento que, para mim, engrandece demais a escrita de Brian Selznick. Ele consegue fugir do tradicional em sua forma de contar história, e elaborar uma trama instigante e sempre repleta de sentimento (tudo é muito intenso e muito real em “Sem Fôlego”, os personagens são carismáticos e grandes!), ao mesmo tempo em que valoriza constantemente a arte, a cultura e o conhecimento científico de uma forma que poderia ser excessivamente didática, mas não é: ele magistralmente transforma tudo em história e, quando percebemos, estamos tão imersos nessa narrativa que estamos aprendendo ao lado dos personagens, ansiosos por mais e mais informação. Mal posso esperar para ver o que o autor fez em “Os Marvels”, minha próxima leitura dele!

Preciso dizer, também, que ler “Sem Fôlego” foi particularmente divertido por causa de minha mania de “fazer teorias”, e então às vezes parava a leitura para pensar em possibilidades que eu sabia que seriam confirmadas ou desmentidas com algumas mais páginas viradas – mas é legal permitir que a imaginação voe para longe, e confesso que grande parte das minhas teorias iniciais, ainda na primeira parte do livro, se mostraram bastante equivocadas, enquanto acreditava que os tempos diferentes “se conectariam” em um estilo meio “Alta Frequência” por causa dos relâmpagos e o raio que eventualmente atinge Ben… e o autor provoca a nossa curiosidade interrompendo, por vezes, uma frase da história de Ben no meio para nos mostrar imagens da história de Rose…

E, assim, ambas as histórias vão se intercalando, por muito tempo parecendo “independentes”.

Isso é o que eu chamei de uma experiência diferente da de “A Invenção de Hugo Cabret”: essa impressão inicial quase desconcertante, mas maravilhosa, de que estávamos lendo duas histórias distintas, em duas linguagens diferentes, conectadas, talvez, por temáticas (como o fato de a garota em 1927 ser surda e o garoto em 1977 ter nascido surdo de um ouvido), ou mesmo “pontos de convergência” mais diretos, como o relâmpago no filme que Rose está assistindo no cinema e, quando viramos a página e percebemos que estamos de volta à história de Ben, ele também vê um relâmpago do lado de fora da casa, enquanto ele está sentado no quarto da mãe, lendo um livro interessante que ele encontrou por lá e que pode conter pistas do seu pai.

Gosto de como os protagonistas do livro são pessoas inteligentes e que se interessam por coisas como livros, bibliotecas, museus, gabinetes de curiosidades… Ben foi criado por uma mãe bibliotecária e leitora, sempre cercado por citações, e ele aprendeu a se encantar pelas estrelas e o espaço, pelos pássaros, por museus propriamente ditos… e, com o passar do livro, vou percebendo o quanto ele é muito mais do que eu jamais tinha esperado, enquanto ele vai começando a desenvolver discussões interessantes como a da surdez, especialmente quando Ben é atingido por um raio enquanto estava no telefone, tentando ligar para um número que ele achava que podia ter uma pista sobre quem era seu pai, graças a algo que encontrou no livro do quarto da mãe.

A surdez é retratada em ambos os pontos de vista dessa grande história, e achei extremamente interessante acompanhar Rose em 1927, que traz uma discussão sobre algo em que normalmente não pensamos: até então, enquanto o cinema era mudo, ouvintes e surdos podiam “aproveitar o cinema juntos”; quando se anunciou a instalação de aparelhos de som para que os filmes pudessem “ser ouvidos” também, as pessoas surdas foram simplesmente excluídas. Sem quaisquer palavras, Brian retrata no olhar de Rose a tristeza ao ver a propaganda do lado de fora do cinema que costuma frequentar, e pensamos, talvez pela primeira vez, na transição do cinema mudo e acessível ao cinema falado e excludente, e como isso pesou sobre quem amava a arte.

Em 1977, em paralelo, também acompanhamos Ben perdendo a audição do outro ouvido, por causa do raio que atingiu a casa enquanto ele estava no telefone, e a descrição dessa sua transição de condição é profundamente realista: a confusão dele ao ver as pessoas mexendo a boca, enquanto ele não consegue ouvir nada, e Brian Selznick transmite tanta verdade em suas palavras que quase nos sentimos no lugar de Ben. Interessante, por exemplo, a passagem na qual Ben chega a Nova York, uma cidade comumente descrita como “barulhenta”, e esse é um elemento que ele não consegue perceber, mas imagina, enquanto a sua percepção de Nova York se centra nos cheiros, nas cores, nos movimentos… e, curiosamente, o próprio Ben pensa no que está vivendo como “assistir a um filme mudo”.

A segunda parte do livro leva tanto Ben e Rose, sempre com seus 50 anos de diferença, a Nova York, onde eles passam quase pelos mesmos lugares, separados pelo tempo e todas as mudanças que aconteceram nesse período. Rose está em Nova York para visitar Lilian Mayhew, a atriz de quem sabíamos que ela era fã e, agora, descobrimos que ela é filha: uma mulher ocupada e superprotetora, que não quer que Rose saia de casa porque acha muito perigoso “uma menina surda andar pela rua sozinha”. Ben, por sua vez, está na cidade porque descobriu o nome e o possível endereço do pai nas coisas que encontrara no quarto da mãe, e ele é inocente o suficiente para achar que, mesmo depois de tantos anos, ele encontrará o pai no mesmo endereço.

E, naturalmente, não encontra.

Tampouco a livraria do marcador de página existe.

Eventualmente, tanto Rose quanto Ben terminam no Museu Americano de História Natural e, aqui, o autor flerta mais com a ideia de aproximar as histórias, tendo em vista que ambos seus protagonistas estão no mesmo lugar, embora não no mesmo tempo, e ele até nos prega peças, como quanto Rose joga um pedaço de papel em cima de um meteorito em exposição e, logo em seguida, Ben encontra um pedaço de papel no mesmo lugar – no fundo, sabíamos que não podia ser o mesmo pedaço de papel, não depois de 50 anos (!), mas talvez exista certo pesar quando percebemos que não é mesmo o mesmo papel. De todo modo, o pedaço de papel que Ben encontra é uma maneira incrível de apresentar um outro personagem importante de “Sem Fôlego”: Jamie.

Jamie é um garoto um tanto solitário que está felicíssimo frente à perspectiva de finalmente ganhar um amigo. Querendo devolver a Ben algo que caiu de sua caixa-museu na entrada, Jamie desenha um mapa ao futuro amigo que o leva até um diorama do Lago Gunflint, de onde Ben viera, e é uma passagem breve e de TIRAR O FÔLEGO. O impacto é tão grande no leitor quanto é em Ben quando ele vê diante do diorama do Lago Gunflint, de onde viera, e se depara com a aurora boreal que costumava observar com a mãe e os mesmos lobos que misteriosamente aparecem rotineiramente em seus sonhos… eventualmente, Brian Selznick retoma isso de uma maneira tão perfeita, conectando pontos e fechando o ciclo de uma forma que faz sentido completo!

A interação de Ben e Jamie é ótima – e ficamos felizes por Ben não estar mais sozinho. Jamie conhece um pouco da língua de sinais, mas como Ben ficou inteiramente surdo recentemente e, portanto, ainda não a aprendeu, Jamie se comunica com ele através de um caderno que, aos poucos, vai se transformando em um registro perfeito da amizade deles e de suas histórias. Os dois compartilham uma série de momentos fascinantes, e podemos ver como um aprende a se importar cada vez mais com o outro, e Jamie é a ajuda de que Ben precisava, porque ele consegue para ele um lugar para ficar, em um antigo depósito do Museu, e é uma companhia com quem Ben pode explorar o museu à noite, por exemplo, como naquela passagem linda em que Jamie o leva ao planetário.

E Ben adora as estrelas e o espaço!

A conexão é tão verdadeira e tão intensa que Ben conta ao novo amigo tudo a respeito da sua mãe, do pouco que sabe do pai, fala sobre os tios, sobre como e por que fugiu, e pede que Jamie o ajude a voltar para casa, mas Jamie, na verdade, não quer que ele vá, e pede mais uns dias, nos quais ele também conta sobre o seu pai e começa a ensinar para Ben a língua de sinais. Jamie comete alguns erros ao prometer e não ajudar Ben, no fim das contas, mas eu também acabo ficando bem triste por causa de Jamie, que está fazendo as coisas do jeito errado, mas está tão empenhado a não perder o único amigo que fizera em anos que só mostra o quanto ele é infeliz e solitário. Na verdade, foi bom para ambos que, no fim, eles se encontrassem no Museu de História Natural.

E, nos dias que Jamie pede que Ben espere antes de ajudá-lo a voltar para casa, Ben faz descobertas interessantes enquanto explora sozinho o museu durante a noite e encontra arquivos reveladores. Esperto e filho de uma bibliotecária, Ben sabe onde buscar os arquivos sobre os dioramas do museu, e encontra quatro pastas sobre o diorama do Lago Gunflint, com os lobos. Lá, por exemplo, ele encontra uma carta escrita por Daniel Lobel, seu pai, a Elaine, sua mãe, a bibliotecária da cidade a quem ele pediu ajuda: responsável por fazer um diorama do Lago Gunflint, Daniel quer saber se Elaine pode ajudá-lo e se, quem sabe, ela sabe onde ele pode ficar enquanto estiver na cidade, onde pretende passar alguns meses observando a região e os lobos.

Parece repetitivo dizer, mas eu digo: é de tirar o fôlego.

Conforme as peças vão se encaixando lindamente nessa leitura empolgante e rica, ficamos crescentemente empolgados e intrigados, ansiosos para colocar as últimas peças do quebra-cabeças, mas Ben parece chegar a um beco sem-saída quando ninguém no museu parece se lembrar de “Daniel Lobel”. Ironicamente, quem lhe dá a próxima peça importante que talvez o leve a todas as respostas é Jamie, que fez de tudo para não deixar que Ben fosse embora, e que agora entrega para ele, sem querer, o endereço de uma nova Livraria Kincaid, que é a livraria do marcador de página que começou toda essa história… e, aqui, chegamos à terceira e derradeira parte do livro, um momento aguardadíssimo onde as “duas” histórias vão finalmente se encontrar e se tornar apenas uma.

Com palavras e imagens se complementando e contando a mesma história, no mesmo tempo e no mesmo lugar, temos uma experiência mais parecida à de “A Invenção de Hugo Cabret”, mas com uma construção bastante diferente que nos leva até esse momento. Quando Ben chega à Livraria Kincaid, ele a encontra vazia e se senta na escada que leva até o segundo andar, para esperar – e é então que aparece uma mulher de cabelo grisalho, a mesma mulher que ele vira outro dia na frente do diorama do Lago Gunflint com os lobos (e que Jamie dissera que “sempre estava lá”), e que, agora, descobrimos que é Rose… o destino levou Ben até a livraria de Rose e de Walter, o irmão mais velho de Rose que a resgatou depois de ela fugir da mãe no teatro em Nova York.

A cena de Rose e Walter conversando rapidamente em língua de sinais é particularmente mágica – naquele momento, é como se um mundo estivesse se abrindo em frente aos olhos de Ben, e quando ele cai da escada na qual está e o medalhão em seu pescoço, com a foto que descobrira do pai, se abre, todas as respostas com as quais Ben sempre sonhou estão a seu alcance finalmente. Com as mãos trêmulas, Rose pega o caderno e a caneta de Ben e escreve: “Ben?”, antes de abraçá-lo. Rose é mãe de Daniel e, portanto, avó de Ben, e embora Ben e nós saibamos que ainda existe muita coisa a ser explicada, podemos sentir o carinho sincero e verdadeiro de Rose enquanto abraça o neto. Sabendo que ele tem perguntas, no entanto, ela está disposta a responde-las…

Mas em outro lugar. No Museu de Arte do Queens.

Conforme Rose conta a Ben a história, ela pincela rapidamente aquilo que já sabemos graças à sua história contada em imagens em 1927, e ela preenche as lacunas que separam aquilo que já sabíamos da Rose que vemos agora, em 1977. Descobrimos que ela foi “resgatada” pelo irmão, por exemplo, que brigou por ela para que ela pudesse ir para a escola, e foi então que Rose descobriu o mundo, encontrou outras pessoas como ela, conheceu o seu marido, teve um filho… Rose também fala das dificuldades de ter um filho ouvinte e os problemas colocados por outras pessoas, mas a maneira como ela e o marido fizeram o melhor. Lemos um relato emocionante de uma vida bastante realizada de uma mulher que finalmente pôde viver todo o seu potencial e realizar sonhos.

Danny, o pai de Ben, cresceu com ela no Museu de História Natural, onde ela trabalhava, e aquele se tornou, naturalmente, o único lugar onde ele também queria trabalhar. Durante alguns anos, depois de ele crescer, eles trabalharam juntos no Museu, até ela resolver sair porque ficou sabendo de um projeto ali no Museu do Queens, de uma maquete imensa de Nova York, na qual ela precisava trabalhar, porque era como se ela tivesse se preparado sua vida inteira para isso: desde pequena, olhando a cidade de Nova York através de sua janela, ela recriava os prédios que via em esculturas de papel com as quais enfeitava o seu quarto… ela sabia que precisava ser parte daquele projeto, que é uma beleza arquitetônica fantástica, e realizou o seu sonho.

O Panorama, como é conhecida a maquete, é uma obra real, em exposição em Nova York – E EU FIQUEI ABSOLUTAMENTE ENCANTADO enquanto lia sobre ela, e enquanto via os desenhos de Brian Selznick, recriando aquela beleza. Já era fascinante nos desenhos do autor e ilustrador, mas eu fui atrás de imagens reais no Google e eu fiquei simplesmente maravilhado. Novamente, elogio a maneira como Brian Selznick traz elementos reais para as suas obras de uma maneira não apenas didática, mas real e, mais do que isso, repleta de história: ele transforma esses elementos em poesia, conferindo ao Panorama todo um background através de uma das pessoas que trabalharam nele. E quantas histórias assim não devem existir? É um trabalho lindíssimo, uma realização e tanto.

Novamente, o autor instiga, provoca e faz com que nos apaixonemos.

É fascinante!

Rose também ajuda Ben a preencher pequenas lacunas da história do pai, embora ele já saiba grande parte dessa história: enquanto trabalhava no Museu de História Natural, ele foi encarregado do diorama do Lago Gunflint e foi graças a ele que Daniel conheceu Elaine, a mãe de Ben – embora, até onde ela saiba, ele nunca soube sobre Ben, e morreu cedo, por causa de um problema no coração. Para explicar como ela pode saber de Ben, se nem Daniel sabia, Rose precisa primeiro mostrar algo no Panorama – e eu acho essa uma das passagens mais geniais e mais emocionantes de “Sem Fôlego”. De maneira brilhante, o autor reúne seus temas naquele momento, ao nos mostrar que Rose transformou o Panorama em uma espécie de gabinete de curiosidades.

Rose escondeu pequenas coisas de Danny dentro dos prédios da maquete de Nova York, como se fossem portas e gavetas de um gabinete de curiosidades, e agora ela mostra esses pedaços de história guardados para sempre, como uma foto do Danny bebê dentro do prédio que representa o hospital onde ele nasceu, um dos seus lápis dentro da escola onde ele estudou e coisas assim… e Ben sabe, no fundo, que haverá algo muito importante dentro do Museu de História Natural, e é PROFUNDAMENTE EMOCIONANTE quando Rose nos revela o que está lá: um desenho dos lobos, feito por Daniel, e um desenho do diorama do Lago Gunflint, feito pelo próprio Ben, quando ele tinha aproximadamente quatro anos de idade… e nem se lembra de ter desenhado.

Mas ele sabe que tudo faz sentido… depois da morte de Daniel, o museu organizou uma homenagem para ele, e Rose conhecia todo mundo que estava presente, menos duas pessoas: Elaine e Ben. É uma passagem lindíssima que explica muita coisa: explica como Rose sabia a respeito do neto, e explica o motivo de o “seu sonho” estar representado naquele diorama no Museu, que é, na verdade, porque o diorama causou uma impressão muito grande nele quando ele era pequeno. Elaine nunca contou que Daniel era pai de Ben, mas Rose não conseguia não pensar nisso, e é bonito que o ciclo tenha se fechado agora, com aquele reencontro e com o Ben adicionando sua própria contribuição ao Panorama/Gabinete de Curiosidades idealizado por Rose.

A escrita de Brian Selznick transborda sentimento. É uma narrativa profundamente emotiva, com um coração gigantesco. E fiquei muito feliz por Jamie fazer uma reaparição, do lado de fora do Museu do Queens durante um apagão em Nova York, e então percebemos que está tudo bem entre ele e Ben, porque Ben o apresenta à avó, usando a língua de sinais que o próprio Jamie lhe ensinou, como “seu amigo”. Afinal de contas, mesmo com seus equívocos, Jamie foi um bom amigo, e foi essencial para que Ben fizesse as descobertas que fizera. A história termina com Ben, Rose e Jamie juntos no terraço do museu, “contemplando as estrelas”, mais visíveis que o normal graças ao apagão, felizes por estarem juntos… e por toda a história deles estar registrada naquele caderno.

Que baita registro aquele caderno.

Lindíssimo. “Sem Fôlego” é uma leitura magnífica, uma experiência única. Amo a interessante mescla complementar de linguagens distintas, amo a maneira como as histórias se conectam eventualmente, amo toda a alma do livro, que o torna tão emocionante, e amo o trabalho de pesquisa meticuloso e elaborado ao qual Brian Selznick se dedica, antes de juntar tudo de forma agradável e instigante, nos conduzindo por paisagens reais, discussões pertinentes e paixões do autor, como os museus, nesse caso, através de uma história inspirada, criativa e envolvente. Me apaixonei verdadeiramente pelo filme, e vou sentir falta de Ben e de Rose agora, mas sei que eles sempre estarão lá, esperando por mim novamente assim que eu resolver abrir esse livro mais uma vez.

Incrível!

 

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