A Casa das Sete Mulheres – A certeza de Rosário
“Eu sei que é horrível o que eu vou dizer, mas eu acho
que a Rosário tá ficando louca”
O Capitão
Estevão, soldado caramuru por quem Rosário se apaixonou já no primeiro capítulo
de “A Casa das Sete Mulheres”, morreu
com um tiro de Afonso Corte Real, que disparou para salvar a vida de um
farroupilha como ele, o Joaquim, filho de Bento Gonçalves. Rosário, no entanto,
se nega a aceitar que seu capitão esteja morto… quando Afonso lhe conta a
respeito da morte indubitável, Rosário derruba uma lágrima em negação, mas a
visão do cavalo de Estevão, que só ela pode ver, lhe parece a confirmação de
que o capitão não está morto! É curioso como o cavalo se torna um símbolo de Estevão para Rosário, porque
é o mesmo cavalo no qual ela o vira chegar à região da estância, da primeira
vez, quando ele foi acolhido e salvo, apesar de ser um soldado caramuru.
A partir
desse momento, Rosário passa a se encontrar com Estevão no galpão – e eu acho
curioso o conceito de “Rosário encontrando Estevão no galpão”. É,
provavelmente, uma resposta ao trauma da guerra sangrenta e a perda de um amor,
mas, por vezes, nos questionamos se quem Rosário vê é apenas uma projeção de Estevão, algo que está
em sua mente e apenas isso, ou se, de alguma forma, é o espírito do soldado
caramuru que está mesmo visitando Rosário… afinal de contas, em uma das
ocasiões de sua visita, Estevão alerta Rosário sobre “soldados caramurus
rondando a estância”, algo que ela não podia saber a não ser pelo aviso do
Estevão e, então, ela tenta avisar às demais sobre o perigo que estão correndo,
mas é difícil acreditar de verdade em Rosário…
Confesso
que, em minha memória, era “menos claro” o momento em que Estevão morria e, a
partir de então, aparecia apenas como um “fantasma” em “A Casa das Sete Mulheres”, mas na verdade isso é bastante definido
pelo roteiro. E eu gosto de como as cenas “brincam” com elementos como, no
reencontro emocionado com os dois com os olhos cheios de lágrimas, um estende a
mão em direção ao outro, mas eles não chegam a se tocar ainda, porque Maria
chama por Rosário e ela sai correndo apressada… o que não quer dizer que,
eventualmente, eles não se toquem. E gosto de como Estevão conta a sua versão
da história, a respeito do tiro que levou, sobre como “poderia ter morrido” e
como prometeu a Rosário que voltaria e nada o faria quebrar essa promessa.
Enquanto
Rosário reúne ervas para cuidar dos ferimentos de Estevão e “salvar a sua
vida”, as demais assistem de longe, sabendo que não existe Estevão algum, enquanto Rosário justifica dizendo coisas
como “Estevão se recusa a aparecer com mais gente por perto”. Dona Maria,
convicta da insanidade de sua filha, anuncia que vai mandá-la para um convento
porque “ela está doida”, e é Bento Gonçalves quem intercede pela sobrinha,
dando razão às demais que alegam que não
existe motivo algum para mandá-la embora, pois não está fazendo mal a ninguém.
Bento decide que Rosário só vai ser isolada se ela “representar perigo para a
família”, porque mesmo que “não esteja em seu juízo perfeito”, ele não vê
porque tirá-la do convívio da família.
Bento Gonçalves sensatíssimo novamente!
Naturalmente,
a situação vai se agravando a cada dia… Rosário está tão convencida de que
Estevão está vivendo escondido no galpão que passa mais tempo lá do que em
qualquer outro lugar ou com qualquer outra pessoa. Ela até leva a mãe, animada,
para conhecer o seu noivo, brigando com ela logo em seguida porque ele “sumiu”,
dizendo que “ele deve ter fugido porque ficou com medo dela”, e, em outra ocasião,
ela faz amor com Estevão – o que, eu
preciso dizer, rende uma das cenas mais engraçadas da Rosário na manhã
seguinte, quando Maria a encontra seminua no galpão e a leva para casa,
enquanto Rosário grita, de maneira quase delirante, que “ainda sente o Estevão
dentro dela” e coisas do tipo. E, então, Maria decide que vai sim enviá-la ao convento…
Maria diz
que “Rosário tentou bater nela” e, para ela, isso “cumpre o pré-requisito”
estabelecido anteriormente por Bento Gonçalves: ela representa um perigo para a família a partir daquele momento.
Durante o ataque dos caramurus à estância (!), Rosário realmente parece um perigo à família, tentando impedir que elas
atirem para se defender, dizendo que “Estevão pode estar lá fora tentando
protegê-las”, e foi naquele momento que eu
realmente não culpei mais a Maria… e, enquanto está sendo levada para o
convento, Rosário vê novamente o mesmo cavalo que vira outras vezes, e então
ela entende que “Estevão sabe para onde ela está indo”. Então, os encontros de
Rosário com Estevão continuam
acontecendo, mesmo enquanto ela está morando no convento…
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Total! Estou lendo o primeiro livro e aos poucos dá para perceber qur ela está interagindo com algo que apenas ela vê.
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