Último Capítulo de “A Casa das Sete Mulheres” (08 de abril de 2003)
“E coube a
mim contar essa história povoada de heróis, amor e morte. Aquecida pela minha
grande paixão por Garibaldi, por quem sempre esperei até o fim”
Chega ao fim
uma das minisséries de maior sucesso da Rede Globo, com um capítulo intenso,
emocionante e melancólico – e não poderia ser diferente. “A Casa das Sete Mulheres” acompanha as vidas afetadas durante a
Revolução Farroupilha e os quase 10 anos pelos quais a guerra se prolongou, e
não apenas do ponto de vista daqueles que estavam no campo de batalha, lutando
por seus ideais, mas também daqueles que tiveram que se retirar para estâncias
isoladas para estar em segurança, lugares onde aguardaram, ouviram histórias da
guerra que era um dos poucos remédios contra o tédio, e viveram tudo mais
intensamente do que o normal: os amores e as perdas exacerbados pelos nervos à
flor da pele causados por tudo ao seu redor.
Manuela
passou a sua vida revivendo em sua mente o romance de curta duração que teve
com Giuseppe Garibaldi, e embora tenha sido uma vida possivelmente solitária e
triste de constante espera, eu fico
feliz por ela não ter se casado com o Joaquim, porque eu acredito que ele teria
sido um péssimo marido… quando ele termina o noivado com ela, dizendo que o
amor dela por Garibaldi “é uma doença”, ele pode até dizer que ele não tem nada
que perdoar e que a culpa não é de Manuela, mas dele, por ter se enganado e
nutrido esperanças, mas o seu tom diz algo totalmente diferente: ele chega a
gritar, mas mesmo quando não está gritando, há um tom de desgosto e acusação
que estão direcionados a fazer com que Manuela se sinta mal e culpada por
“tê-lo enganado”.
Joaquim é um
tremendo babaca.
Rosário, por
sua vez, também pagou um preço alto pela guerra… tendo se apaixonado por um
soldado caramuru que morreu há muito
tempo, ela viveu um “romance” com um fantasma, e depois de ter tentado
deixá-lo para trás indo embora do convento no qual estava vivendo e aonde se
encontrava continuamente com ele, ela retorna chamando por ele, vestida de
noiva, sorridente e dizendo a Estevão que “voltou por ele” – “Eu vim para morrer e partir contigo, meu
amor”. Então, Estevão lhe estende a mão (“Vem comigo, minha amada. Vem comigo pra eternidade”), e no momento em que ela toca a mão
dele pela primeira vez desde a sua morte, entendemos que ela está morta também…
e, então, os dois desaparecem juntos durante um beijo.
É triste, é
dramático, mas também há um quê de poesia trágica e bela.
Uma conclusão shakespeariana para um romance
shakespeariano.
A madre
superiora, depois, leva o corpo de Rosário de volta para a Estância da Barra, e
Manuela é a primeira a vê-la… a madre explica que o corpo foi encontrado no
cemitério e ninguém sabe como ela
morreu – mas ela está sorrindo, claramente em paz, e Manuela explica que “ela
morreu do desejo de morrer”. É forte, triste e perfeito para o último capítulo…
perfeito para concluir essa história que também foi tão forte no primeiro capítulo de “A Casa das Sete Mulheres”. Manuela pede
que Ana não fique triste, porque isso é o que Rosário queria e ela está, agora,
com Estevão na eternidade. Bento Gonçalves, por sua vez, se sente culpado,
dizendo que tudo isso é sua culpa, já que foi ele quem começou e quem fomentou
essa guerra… essa morte está em suas mãos.
Durante o
funeral de Rosário, Mariana se aproxima de Maria para dizer que Matias, seu
filho, a reconheceu como a mulher que esteve na Estância do Brejo procurando
por ela há pouco tempo, e então ela chora perguntando à mãe por que ela não entrou, e perguntando
por que ela não coloca o orgulho de lado, mas Maria diz que o que a impediu de
entrar não foi o orgulho… Maria chega a dizer que tem inveja de Rosário, que também queria morrer, mas “Deus vai
obrigá-la a engolir o fel dos seus dias, até o fim dos tempos, para penitenciar
seus pecados gravíssimos”. Eu realmente AMO a resposta que a Manuela dá,
dizendo que seu pecado não tem a ver com o Simão ou com o filho que ela
esperava, mas com o que ela fez na sua vida… e, sim, ela será cobrada por isso.
MANUELA
MARAVILHOSA SEMPRE!
Em 1845,
finalmente a guerra chega ao fim, e as negociações de paz também colocam um fim
na própria República Rio-Grandense, que volta a fazer parte do Império do
Brasil – e nas esperanças de todos que haviam lutado por ela durante quase 10
anos. A narração final de Manuela eventualmente falará sobre como Bento
Gonçalves morreria dois anos depois,
e como o que o matou não foi mesmo a pleurisia, embora ele tenha sido acometido
da doença, mas o desgosto de não
conseguir realizar plenamente seu destino de político e guerreiro. A
revolução termina com um gosto amargo, muitas mortes e poucas vitórias, e uma
das cenas mais bonitas dessa conclusão vem com Bento Gonçalves e Netinho, no
qual ele fala sobre como a luta deles segue.
O fim da
guerra traz um pouquinho de felicidade a alguns personagens… Perpétua engravida
e dá a luz a um bebê ao qual ela dá o nome de Teresa, cujo parto é feito por
Manuela, e Antônia transfere a Estância do Brejo para o nome de Mariana e João,
como um presente para eles e para Matias… o abraço de Mariana é lindo, e o
diálogo um dos mais emocionantes de toda a minissérie: “Voismecê não sabe como eu queria ter nascido tua filha”, Mariana
diz, e Antônia responde: “Tu és minha
filha”. TÃO LINDO! E quando Maria parte de volta a Pelotas, Mariana aparece
com Matias para se despedir e pedir sua benção, e Maria a dá, dessa vez… ela
mal consegue tocar a cabeça do neto, mas é o pouco que ela pode oferecer, e é
mais do que pudera em outros tempos.
Assim como
Maria, Caetana também se prepara para partir, e temos momentos melancólicos de
despedidas conforme as pessoas se preparam para “retomar” suas vidas em
Pelotas, mas Mariana, Perpétua e Manuela ficam para trás, porque as suas vidas
agora são ali, com Antônia e Ana… “A Casa
das Sete Mulheres” termina com Manuela escrevendo em seu diário sobre a
casa esvaziando e sobre as memórias das festas, dos encontros, das músicas de
Tia Ana no piano, dos amores vividos e perdidos… é um final emotivo e belo, com
direito a flashbacks rápidos e
informações futuras, como a morte de Anita Garibaldi na Itália, lutando pela
unificação italiana, ou como ela passou o resto da vida esperando e chorando. Uma
cena final da “Noiva de Garibaldi” que é de arrepiar.
“A Casa das Sete Mulheres” é MESMO uma
grande minissérie!
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