Chosen Home – Episódio 4
Terceira parte do contrato.
Tudo indica
que “Chosen Home” vai mesmo se
consolidar como uma das minhas séries favoritas no ano… novamente sensível,
emocionante e ocasionalmente divertido, o quarto episódio me faz chegar a uma
conclusão que eu já estava perto de atingir mesmo nos episódios anteriores: “Chosen Home” não é apenas um BL, mas também
uma série LGBTQIA+. Em outras ocasiões, eu já falei sobre esses conceitos e
não pretendo me aprofundar agora, mas, basicamente, “Chosen Home” não se passa no que parece uma “realidade paralela”
cor-de-rosa que ignora os desafios enfrentados pela comunidade e cujo roteiro
não depende da homossexualidade de seus protagonistas… e não se engane: dois homens se beijando não torna um BL
necessariamente uma obra LGBTQIA+ de verdade.
Por mais que
eu ame ver BLs, poucos o são.
O diálogo
entre Sakuta e Hatano no carro quando estão indo atrás do pai de Hotaru, no
entanto, é algo intrinsecamente LGBTQIA+, uma conversa de experiências com as
quais nós, enquanto homens gays, podemos nos identificar; e a homofobia do pai
biológico de Hotaru é tão sistemática e tão enraizada que nos atinge igualmente
por sua realidade. Gosto de quando uma série se propõe a tratar esses temas e o
faz bem – algumas propositalmente os ignoram por completo; outras a acrescentam
de maneira tão superficial que parecem notas
de rodapé, e essas são erroneamente aclamadas com frequência na internet
por pessoas que não entendem, de fato, o que é a vivência de uma pessoa
LGBTQIA+ e tende a encarar como um grande passo qualquer menção malfeita.
Nesse
episódio, Sakuta ainda está tentando entender o que levou Hatano a mentir sobre
ser o pai de Hotaru – parte dele pensa nas implicações legais de tal mentira e
na moralidade do ato, mas não é uma situação cujos livros de direito dirão o
que é “certo” e o que é “errado”. Hatano não errou, e humanamente Sakuta
entende isso, uma vez que consegue deixar de lado qualquer racionalidade sem
emoção… gosto de ver Sakuta se “juntando” à mentira como um cúmplice, aos
poucos, e é uma relação bonita que ele também
está construindo com Hotaru, que está ganhando uma família muito mais funcional
do que ela tinha antes. Sobre a declaração de Hatano, Sakuta não parece preparado para falar sobre isso, então
ele quase age como se não tivesse acontecido.
Mas está em sua mente… e ele parece ter
“superado” Yoshida.
Jin
Ichigaya, o pai biológico de Hotaru, faz uma nova tentativa de ficar com o dinheiro que a mãe deixara com
ela quando desaparecera. Seu plano atual é uma carta forjada como se Tomoe
estivesse convidando a filha a encontrar-se com ela e a entregar o dinheiro, e
no fundo Hotaru sabe que é mentira – mas ela joga o jogo, e precisa ser
“resgatada”. Enquanto isso, em um mundo pequeno como esse em que vivemos, o
melhor amigo de Hatano, que é um corretor de imóveis, descobre a mãe de Hotaru
escondida em uma casa “abandonada” que ele pretende colocar no mercado em
breve, e eles compartilham um momento interessante.
Sakuta, por sua vez, vai se tornando cada vez mais parte da narrativa quando
entende, por exemplo, o descaso de Jin com a filha…
Ele não se
importa com ela, e não faz questão de fingir que se importa. Ele quer o dinheiro.
Assim,
enquanto Hotaru está sendo levada para uma memória triste que lhe partirá o
coração, Hatano e Sakuta se unem para tentar resgatar a filha de ambos – embora
ainda não tenham oficialmente assumido essa posição como um casal. Gosto
muitíssimo da cena dos dois no carro porque mostra a força do texto de “Chosen Home”, quando os dois falam
sobre como é ser gay na sua sociedade, como ser você mesmo ou esconder quem é,
e sobre como descobriram que eram gays… o compartilhamento de experiências e
sentimentos torna a relação mais íntima e mais real. Sakuta fala sobre a barba
rala sob o queixo de um aluno mais velho que fez com que ele entendesse; Hatano fala sobre o melhor
amigo e paixão secreta que perdera por medo
ao sofrer homofobia.
Crescer com
medo e escondendo-se devido à homofobia ao nosso redor é uma realidade dolorosa
de muitas pessoas LGBTQIA+. São eventos,
sentimentos e reprimendas que deixam marcas para sempre. E mesmo mais
velhos, quando nos sentimos bem com quem somos e nos sentimos mais fortes, encontros com pessoas como Jin
acabam tocando em feridas que nunca estão inteiramente cicatrizadas… Hatano
está ali para impedir Jin de roubar o dinheiro que é tão importante para
Hotaru, e ele precisa ouvir o desdém de um homem preconceituoso que o julga
“menos” porque ele é gay, porque “ele não pode ter filhos”, e é particularmente
dolorosa a forma como Jin diz que ele “é normal”, como se Hatano não fosse. E
Hatano consegue enfrentar isso de cabeça erguida…
Mas não quer dizer que não doa.
Enquanto
Hatano está em uma disputa com Jin pela mala de Hotaru – que, no fim das
contas, não tinha dinheiro nenhum –, Sakuta fica responsável por Hotaru e ele a
“resgata” no restaurante em que memórias boas e ruins de um passado conturbado
se misturam. A lágrima silenciosa de Sakuta observando a uma família vivendo o
que ela vivera no passado e sabe que não se repetirá diz muito. E Sakuta segue
sendo uma pessoa incrível que a entende, a acolhe e a leva de volta para casa…
a casa cada vez mais cheia, mas que cada vez mais se parece com uma casa de verdade. Sakuta é eventualmente
acolhido dentro do contrato que Hatano e Hotaru têm um com o outro, formal e
informalmente, e Hatano retorna com a mala que não tem dinheiro, mas tem
memórias igualmente importantes…
Um episódio
lindíssimo!
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