A Casa das Sete Mulheres – A bondade de Antônia

Acolhida como uma filha.

Felizmente, Manuela, Rosário e Mariana podem contar tanto com o apoio umas das outras quanto com a proteção incondicional de mulheres fortes e decididas como Antônia e Ana, que não temem enfrentar Maria durante todos os seus surtos… graças a traumas enfrentados no passado, Maria faz de tudo para garantir que cada uma de suas filhas seja infeliz como ela foi, e agora ela está fazendo de tudo para que Mariana perca o bebê que ela está esperando de João Gutierrez, porque não aceita que a filha esteja grávida de um indígena. Quando ela manda que as escravas preparem um chá abortivo que ela pretende obrigar Mariana a tomar, Luzia pede a ajuda das mulheres mais velhas e todas invadem o quarto de Mariana para impedi-la de tomar o chá.

Felizmente.

Aquele é um momento decisivo na história de Mariana: ultrajada com a atitude de Maria, Antônia manda Mariana arrumar as suas coisas, dizendo que ela vai embora para a Estância do Brejo com ela. Enfurecida, Maria quer invadir o quarto, impedir Mariana de arrumar as coisas, mas Antônia se posiciona em frente à porta, impede a entrada de Maria e a enfrenta, dizendo que se Maria pode fazer loucuras, então ela também pode. O abraço agradecido e amoroso de Mariana em Antônia é emocionante, e é lindo, embora por um motivo profundamente triste, ver a maneira como Antônia acolhe Mariana em sua casa, como se fosse sua filha… e, sem entender a mãe, Mariana pergunta por que ela é assim, o que foi que a tornou tão amarga desse jeito.

E Antônia diz que foi o amor… Antônia compartilha com Mariana, embora sem grandes detalhes, a história de Maria, sobre como ela se apaixonou por um peão da fazenda de seu pai, chamado Simão, e como embora eles se amassem, o romance era proibido e ela abortou um filho que estava esperando dele. Quando Maria decide ir visitar Simão novamente, agora, ela descobre que ele está morto, e que morreu quando ela ficou noiva de Anselmo: foi o pai dela quem mandou matá-lo. Quando ela retorna para a estância, ainda mais traumatizada ao descobrir que o único homem que amou de verdade está morto há tantos anos, ela pergunta às demais se “agora elas entendem por que seu casamento não podia ser feliz” e “por que sua vida é um inferno”.

Mas quer saber? ISSO NÃO JUSTIFICA.

A história de Maria é, sim, triste, e é uma pena que ela tenha sido proibida de viver o seu amor, mas isso não muda o fato de que ela fez as filhas sofrerem a vida inteira… ela usou a própria dor e tristeza para reproduzir com as filhas tudo o que fizeram com ela, o que é muito irônico. Tudo o que a machucou durante a vida ela infligiu às próprias filhas eventualmente. Mariana certamente está muito mais feliz morando na Estância do Brejo, acolhida por Antônia e longe da mãe perversa, e é linda a cena em que se espalha a notícia do nascimento de seu bebê… inclusive, também é emocionante o momento em que Perpétua pede para segurá-lo um pouco e Mariana diz que ela será a madrinha… um momento belo e sensível. Mas Mariana queria que a mãe viesse conhecer seu filho.

Mas Maria não tem bondade o suficiente em seu coração para isso.

Rosário, por sua vez, é “mandada embora” do convento porque claramente a vida religiosa não é a sua vocação, e quando Estevão aparece para ela antes de ela ir embora, ela pede que, se ele a ama de verdade, que “pare de assombrá-la”. É uma relação confusa a de Rosário e Estevão, porque ele foi “segurado” nesse mundo por causa do imenso amor de Rosário que não o deixou partir, mas agora ela quer que “ele a deixe em paz”, e Estevão está disposto a atender ao seu pedido… enquanto Rosário prepara as coisas para ir embora, dando adeus a seu amor, Estevão diz que estará ali esperando por ela, caso ela mude de ideia. E, uma vez de volta na estância, Rosário não consegue deixar de pensar no seu capitão caramuru… ela daria tudo para vê-lo vivo mais uma vez.

Enquanto isso, a guerra se estende interminavelmente, e todas as discussões para um acordo de paz acabam não levando a lugar nenhum, ou por que as propostas imperiais são ruins, ou por que o caso dos escravos é um impasse ou por que os republicanos não querem que Bento Gonçalves leve os louros pela pacificação. E Bento Gonçalves está, ainda, enfrentando consequências por causa de um acordo feito com o Uruguai, que foi o começo da derrocada de sua carreira, e enfrentando, também, a inveja constante de Bento Manuel, que sempre quis tudo que era dele… e, conforme Bento Gonçalves se afasta da guerra, ele se torne menos um herói e mais uma pessoa frágil e doente, com a narração de Manuela falando sobre como “os homens eram mais felizes na guerra”.

Que triste, não?

 

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