Naked Boys Singing! Brasil (2022)

“É natural / A nossa nudez frontal”

Montado originalmente no circuito Off-Broadway em 1999, “Naked Boys Singing!” chamou a atenção pela sua irreverência, pelos seus temas que conversam com um grande público e, é claro, pela nudez frontal de seu elenco… em 2021, o Brasil estreou uma nova versão do musical, com um elenco diverso formado por 11 atores lindíssimos e talentosos, que estão de volta desde o dia 21 de janeiro, para uma temporada no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca – tive o prazer de assistir a esse musical incrível no último dia 22 e de me apaixonar por cada música, cada história contada e cada tema levantado para a discussão, como os garotos cantam que esperam que a gente faça já em sua primeira música: “O nosso roteiro vai te fazer rir, porém nós queremos te ver refletir”. E eles entregam tudo prometido: a nudez, a diversão e a oportunidade de refletir.

Acho o conceito de “Naked Boys Singing!” incrível! É inegável como a ideia de ver a nudez masculina é convidativa e claramente chama um público ao teatro, mas, ao mesmo tempo, nós sabemos, mesmo antes de o musical começar, que sairemos dali tendo tocado em assuntos pertinentes ao corpo e à sexualidade masculina e eu estava curioso sobre como isso seria feito. Não vou negar que eu estava, sim, ansioso para ver, como eles falam, “11 rolas na minha frente”, e tampouco vou ser hipócrita e fingir que eu não fiquei todo felizinho observando (fazer o quê?), mas “Naked Boys Singing!” não é uma peça erótica e muito menos pornográfica: ela consegue desmistificar todo o tabu do nu frontal masculino e mostrar o que todos já deveriam saber – que é natural, ao mesmo tempo em que aborda temas com os quais nos relacionamos, seja falando sobre o amor, sobre a masturbação, sobre sonhos, sobre ser quem somos e nos aceitar desse modo…

Essa é uma grande característica de “Naked Boys Singing!”: o poder de conversar com seu público, que eventualmente se reconhece em alguma das situações narradas em um musical no formato Vaudeville, ou seja, com várias cenas “independentes” que compartilham um mesmo universo, um mesmo tema geral. O musical começa com “Nudez Frontal” (não tenho um programa do musical, os “títulos” das músicas vão ser o que eu imagino que elas sejam de acordo com a letra), que é uma música irreverente, consciente e maravilhosa, relaxando o público, dizendo que nós podemos admirar sem sentir culpa, enquanto nos convidam para pensar e nos entregam alguns momentos divertidíssimos, como a piada com a economia no figurino ou mesmo o ator que sobe ao palco por último por supostamente “estar tirando fotos”. Ri muito nesse momento!

O elenco é formado por 11 atores incríveis, cada um brilhando em algum momento da peça, seja se entregando com tudo em um solo ou se destacando ao lado de seus companheiros em músicas que não são solos – João Hespanholeto, por exemplo, arrasa durante “Diarista Nu” e nos entrega excelentes momentos e arranca risadas espontaneamente do público; Luan Carvalho, um espetáculo, com uma voz incrível e que nos emociona com “Nada Além do Rádio a Tocar”; Aquiles, um verdadeiro encanto que estava fofíssimo naquele figurino de quem quer ser uma estrela, e que me emocionou demais nos agradecimentos finais; Ruan Rairo, nos emocionando ao cantar através da janela para o crush; Victor Barreto, que sobe por último no palco e chama a atenção; Tiago Prates, que eu achei de um carisma imenso e que roubou a cena mesmo em pequenos momentos; Raphael Mota, que protagoniza um dos melhores momentos de interação com a plateia e uma das músicas mais divertidas com “Ator Pornô que veio do Interior”; Silvano Vieira, falando sobre a circuncisão em uma cena inesperada e incrível; o incrível Lucas Cordeiro; o magnético e apaixonante, dentro e fora do espetáculo, André Lau, nos encantando e nos fazendo sorrir em “Fique Aí”, por exemplo; e, por fim, Gabriel Fabri, o talentoso e notável músico, que nos faz aguardar o momento em que ele estará junto dos demais no palco.

Aproveito para comentar brevemente sobre como esse elenco é CARINHOSO e ATENCIOSO, além de tudo. Além de se entregarem de corpo e alma para esse espetáculo e para as histórias que estão contando, eles ainda são seres humanos incríveis com quem tive a oportunidade de conversar brevemente na saída do teatro, e foram momentos maravilhosos! João Hespanholeto é tão vivo, carismático e envolvente quanto o seu personagem; Aquiles, que, quando eu chamei de “um verdadeiro encanto” no parágrafo anterior, também me referia a como ele nos recebeu com carinho ao sair do teatro, como conversou, como foi simpático e divertido e maravilhoso; André Lau, que, apesar de ser absurdamente lindo por si só, fica ainda mais lindo quando podemos conversar com ele e ele é a simpatia em pessoa, e tem uma vibe tão envolvente e acolhedora; Tiago Prates, que tinha um brilho tão intenso no olhar que a gente se sentia acolhido só de olhar para ele! Não tive a chance de interagir com todos, mas foi uma experiência INCRÍVEL poder interagir com alguns desses atores, e isso faz com que eu me apaixone ainda mais por eles e pelo espetáculo que encenam.

Gostaria de destacar alguns números musicais que me marcaram bastante, a começar por “Perfeição”, que traz a ideia do nu artístico colocado de uma maneira lindíssima no palco, ao mesmo tempo em que fala sobre o que é a perfeição, de fato, e que não é necessariamente o corpo mais definido… a perfeição tem tantas camadas além do corpo, e por isso, também, “Naked Boys Singing Brasil” é tão importante, trazendo um elenco diverso para falar sobre o corpo humano real. Em paralelo, comento a sequência da academia e da sauna, protagonizada por Gabriel Fabri, o pianista do espetáculo, que me surpreende primeiro porque é uma mudança drástica no estilo de música que ouvíamos até ali, e depois porque o elenco arrasa em uma sequência que é tanto divertida quanto crítica, falando sobre o famoso “boy padrão”… mas, remontando a uma cena que vem mais cedo no musical, às vezes as pessoas só querem um Mazzaropi.

Também destaco algumas cenas que foram mais divertidas e que nos arrancaram risadas e nos proporcionaram momentos incríveis, além de terem dado aos atores a oportunidade de brilharem juntos, em números grupais impecáveis. Adoro aquela sequência da “definição” e “sinônimos” de pênis. Também adoro aquela sequência do vestiário, com “Fique Aí!”, em que os personagens enfrentam ereções involuntárias ao ver os companheiros do time de futebol nus no vestiário ou tomando banho, e tentam esconder para que “ninguém pense que eles são gays”, o que é todo tratado de uma maneira divertida, mas levanta questões a respeito de homofobia e repressão e nos deixa pensativos, porque acho que é algo pelo qual muitos jovens LGBTQIA+ já passaram em algum momento de suas vidas…

E, é claro, A MARAVILHOSA “BATER UM BOLO”. Gosto particularmente dessa cena por uma série de motivos que são até difíceis de se enumerar, mas que eu vou tentar, porque eu acho que esse é facilmente um dos pontos altos de “Naked Boys Singing!”. Em primeiro lugar, acho que gostaria de falar sobre como a cena é brilhantemente concebida, como a coreografia é intensa e perfeitamente calculada para nos conduzir por uma experiência quase hilária que nos remete à masturbação, com aquele jogo de mãos/tapas perfeitamente recriando o ritmo e o som de uma masturbação, mas sem que a cena se torne vulgar por isso… e esse é o segundo ponto sobre o qual quero falar ao explicar por que gosto tanto dessa cena: porque “Bater um Bolo” fala e mostra justamente como “bater um bolo” é algo NATURAL, que dá prazer, que faz bem e que não tem nada de errado…

Que cena brilhante!

Na verdade, que musical brilhante! Confesso que quando a reprise de “Nudez Frontal” começou (agora incrementada com pequenos trechos de músicas que cada um dos personagens cantou durante o musical), eu fiquei dividido… estava com um sorriso no rosto e plenamente satisfeito com o espetáculo que eu tinha acabado de assistir, mas, ao mesmo tempo, estava triste com a perspectiva de ter que me levantar daquela cadeira e ir embora, porque eu queria poder continuar ali e assisti-los mais um pouco… se eu morasse em São Paulo, eu certamente retornaria ao teatro para vê-los novamente! “Naked Boys Singing!” é vivo, divertido, ocasionalmente emocionante e diferente de tudo o que você pode esperar, trazendo à tona assuntos que certamente conversarão com você, de um jeito ou de outro… uma experiência incrível que merece ser vivida e compartilhada.

Se você tiver a oportunidade, ASSISTA, vale muito a pena!

Em cartaz de sexta a domingo, no Teatro Nair Bello!

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