Simplesmente Blaine (Robbie Couch)
“Tudo o que eu queria de você era uma babosa nova,
Blaine Bowers”
Oficialmente
inspirado em “Legalmente Loira”, o
icônico filme de 2001 protagonizado por Reese Whiterspoon, que também ganhou
uma ótima adaptação musical para os palcos, “Simplesmente
Blaine” é o segundo livro de Robbie Couch, responsável também pelo
excelente “O Azul Daqui é Mais Azul”,
e eu inicio essa review dizendo: QUE
LEITURA MARAVILHOSA! Envolvente, divertida e talvez inesperadamente
sentimental, “Simplesmente Blaine”
traz personagens carismáticos que têm uma história linda a contar, com
romances, decepções, amizades, relações familiares e uma corrida presidencial
eletrizante que acaba por representar descobertas e amadurecimentos para os
personagens, em uma obra que valoriza a importância de sermos nós mesmos.
Robbie Couch
está se tornando um dos meus autores favoritos de literatura LGBTQIA+. “O Azul Daqui é Mais Azul” é um dos
melhores livros com protagonismo gay que eu já li, e eu gosto de como “Simplesmente Blaine” também é
ambientado em um ambiente escolar e adolescente, mas como Blaine Bowers tem uma
história diferente de Sky Baker, permitindo que o autor explore outras facetas
e possibilidades da vivência LGBTQIA+. Aqui, conhecemos um garoto criativo e
apaixonado por pintar murais nos comércios locais, que acaba decidindo largar
isso tudo e concorrer para presidente de classe em seu último ano na escola,
para poder provar para o ex-namorado que acabou de lhe dar um pé na bunda no
aniversário de 1 ano deles (!) que ele é “sério”.
E é
justamente aí que “Simplesmente Blaine”
se aproxima de “Legalmente loira”.
Assim como Elle Woods decide ir estudar direito em Harvard para provar a Warner
que ela pode ser “séria”, Blaine Bowers decide se tornar o novo presidente de
classe para provar a Joey que ele pode ser um “Cara Sério” – e se Elle Woods
achava que Warner ia pedi-la em casamento na noite em que ele termina com ela,
Blaine Bowers acredita que Joey vai convidá-lo para passar as férias em Cabo
com a sua família, e então sua vida muda completamente. Curiosamente, a
similaridade proposital no argumento inicial da obra não amarra a narrativa, e
eu sinto que “Simplesmente Blaine” se
torna independente com maestria, rapidamente se tornando a sua própria história
cativante.
E eu amo
esse livro mais a cada página!
Temos, ao
redor de Blaine, uma galeria de personagens incríveis de se acompanhar, como:
Trish, a melhor amiga de Blaine e sua líder de campanha, sempre com as melhores
ideias para ajudar o amigo; Camilla, a namorada de Trish, que é uma futura
cientista de sucesso e uma amiga excelente; a Tia Starr, que é a tia
desempregada de Blaine que está morando na sua casa até conseguir um novo
emprego, e que é uma das melhores pessoas para se ter por perto; Zach, o
candidato favorito à presidência de turma, que é um “Cara Sério” e o novo
namorado de Joey, mas que eventualmente não é tão ruim quanto parece (assim
como a Vivian); e, é claro, o maravilhoso Danny, que é o nosso “Emmett”, o
garoto incrível por quem Blaine não esperava se apaixonar.
“Simplesmente Blaine” é uma deliciosa
comédia romântica, e eu fico meio que suspirando pelo Blaine e pelo Danny
Nguyen desde o primeiro encontro caótico deles no livro, quando Blaine está
correndo afobadamente pela cidade para não chegar atrasado ao seu aniversário
de 1 ano de namoro com Joey (antes de saber que aquele se tornaria o que ele
chamaria de “O Pior Dia de Todos”), esbarra em Danny e acaba matando a sua
babosa novinha (rio toda vez que ele chama a planta de Danny de “Barbosa”). Há
um quê de provocação que nos deixa claro que vai ser delicioso acompanhar todo
o desenvolvimento dos dois, e eu gosto de como o livro não deixa isso para o
fim, de como eles se aproximam gradualmente e de como Blaine descobre o seu
coração se acelerando eventualmente…
Como não se
apaixonar pelo Danny?
Danny é um
príncipe: lindo, educado e prestativo, ele tem experiência no conselho
estudantil e aceita a proposta de Blaine de ajudá-lo na campanha, a partir do
momento em que percebe que Blaine realmente
tem algo a oferecer como candidato… é mais do que claro que ele se
inscreveu para as eleições por causa do Joey (seja para impressioná-lo, para
reconquistá-lo ou para se vingar, o que seja), mas Danny percebe que Blaine pode ser um candidato interessante
quando ele coloca um cartaz no refeitório escrito “Vamos conversar” (ideia de
Trish!) e escuta o que os outros alunos têm a dizer sobre a sua experiência na
escola e o que esperam de um presidente de classe. Blaine, Trish, Camilla e
Danny formam um quarteto PERFEITO em uma campanha improvável.
E são
grandes momentos!
Todas as
reuniões do quarteto no Grão Grandão são deliciosas de se acompanhar, e eu
gosto de ver como todos têm a contribuir, formando uma campanha consistente que
tem a ver com saúde mental, e o projeto de “Iniciativa de Bem-Estar no Colégio
Wicker West” realmente é algo grande para a campanha… e é gostoso ver a
campanha se delineando, ver o Blaine e os amigos conquistando pequenas e
constantes vitórias, como quando ele consegue as 50 assinaturas necessárias
para se inscrever para as eleições, quando ele faz um discurso inspirado na
frente de todo o conselho estudantil, se tornando oficialmente um candidato à
presidência, ou quando ele milagrosamente consegue “salvar” o debate contra
Zach na frente de toda a escola de ser um fiasco completo.
Nos últimos 2 minutos.
É uma
jornada e tanto, que nos faz acreditar realmente na possibilidade de vitória de
Blaine, porque o pessoal do Colégio Wicker West está querendo uma mudança e vê em Blaine a chance de ter
alguém que se importa com os seus
problemas de verdade – mas ele acaba não vencendo as eleições… e Zach vence com
uma margem que é muito maior do que o esperado, o que chama a atenção de Trish,
como líder de campanha, desde o primeiro momento, mas Blaine “não quer falar
sobre isso”. E, no meio de toda a sua frustração, que tem a ver tanto com a
eleição quanto com uma proposta de emprego que ele escondeu da Tia Starr,
Blaine acaba agindo como um verdadeiro babaca tanto com a Trish quanto com
Danny, duas das pessoas que mais o apoiaram esse tempo todo!
Gosto da
imperfeição dos personagens, gosto de como, no fim das contas, eles são
adolescentes e, por isso mesmo, agem como adolescentes: são ocasionalmente
egoístas, indecisos, egocêntricos e descontam suas frustrações e angústias em
quem não merece… não quer dizer que eles estejam corretos (e eu passei o livro
todo angustiado e inconformado com a forma como o Blaine
não contava para a Tia Starr sobre a proposta de emprego que era perfeita para ela e que ele sabia que era perfeita para ela!), mas
as pessoas têm mesmo as suas falhas, não têm? É curioso torcer por um
protagonista que entrou em uma corrida presidencial apenas por causa do término
de um namoro que era, por si só, todo problemático, e ver o que isso faz na sua
vida.
O livro
também tem uma reviravolta mais ou menos aguardada, mas ainda assim
interessante demais de se ler, quando Trish consegue provar que tinha razão ao desconfiar da contagem de
votos, e ela recebe a ajuda de Zach para desmascarar os verdadeiros “vilões” da
história: Joey, o ex-namorado de Blaine, e Ashtyn, a líder de campanha de Zach.
Toda a sequência na qual Trish e Zach levam Blaine para a escola sem ele saber
direito o que está acontecendo é maravilhosa, e é naquele momento que nós perdoamos o Zach por ele ter usado as
anotações de Blaine contra ele no debate… apesar daquele deslize, Zach não é realmente uma pessoa ruim, e ali ele prova
o seu senso de justiça, porque não quer ser presidente se o resultado das
eleições foi uma fraude.
E foi.
Com a
possibilidade de refazer a eleição,
porque não tem como saber de verdade quem entre Zach e Blaine recebeu mais
votos, Blaine está disposto a seguir adiante por Trish, Camilla e Danny, que
sempre confiaram tanto nele, mas a verdade é que ele não quer mais concorrer… ele não quer ser presidente. Então,
Trish acaba assumindo o seu lugar, porque ela está realmente apaixonada pela
ideia toda da Iniciativa de Bem-Estar do Colégio Wicker West, e ela foi a mente
brilhante por trás de toda a campanha possivelmente vencedora, então é justo que ela acabe se tornando a nova
presidente – e tinha uma cláusula que dizia que a líder de campanha podia
assumir o lugar do presidente em caso de desistência ou alguma emergência… e
aquilo é uma emergência.
Fiquei bem
orgulhoso da Trish. Eu votaria nela.
Blaine, por
sua vez, retorna para os seus murais, abandonados durante meses desde o término
traumatizante com Joey, e eu gosto muito da pessoa que o Blaine se tornou ao
fim do livro… e de como ele amadureceu
sem deixar de ser autêntico. Eu sinto
que, de alguma maneira, o Blaine é outra pessoa ao fim de “Simplesmente Blaine”, uma pessoa muito melhor do que aquela que iniciou o livro, mas isso sem perder
a sua identidade, sem deixar de lado quem ele é e o que ele gosta de fazer para
“agradar ou impressionar alguém”. É lindo ver o Blaine disposto a “levar a
sério os seus murais” (!) e aprendendo que está tudo bem “desistir”, se for
pelos motivos certos: sua escolha de ceder o lugar à Trish, apoiá-la e fazer o
que lhe faz bem é, sim, uma atitude madura.
Também amo a
maneira como a reta final do livro traz os personagens de Zach e de Joey. Zach,
depois de descobrir a fraude orquestrada por Joey, não só termina o namoro com
ele, mas também acaba se tornando um grande e inesperado amigo de Blaine, e eu
sinto o coração quentinho ao ler as conversas ou interações virtuais entre
eles, porque eu quero gostar do Zach
Chesterton! Joey, por sua vez, foi retirado do seu pedestal por seus próprios
erros, e conhecemos uma nova versão
do personagem – na sua maneira de se vestir, de falar e de pensar –, que está
saindo de sua zona de conforto e enfrentando frustrações inesperadas para ele,
mas que pode ter a chance de se livrar de algumas amarras sufocantes dos seus
pais que também o incomodam.
Gosto da
conversa final de Blaine e Joey e de como não há uma romantização ali: Blaine
diz a Joey coisas que estavam engasgadas e que precisavam ser ditas, a respeito
de como ele deixa que os pais ditem a sua vida, por exemplo, e eu gosto da
sinceridade e intensidade que estão naquelas palavras. No fim das contas,
Blaine está menos bravo com Joey do
que ele imaginava, e ele meio que espera que ele possa ser feliz, mesmo que os
seus planos não tenham saído conforme ele esperava, mas isso não quer dizer que
ele vai se esquecer de tudo o que ele sofreu nos últimos meses por causa de
suas atitudes continuamente escrotas (!), e embora em parte torça por ele, ele
não vai estar por perto para “ver” essa nova versão do Joey. Ali, os caminhos se separam.
E Blaine encerra essa história.
A história
com Danny tem seus altos e baixos, o que acaba me pegando de surpresa… gosto
muito de ver como a relação deles se
transforma durante o livro, como as provocações por causa da babosa acabam
cedendo lugar a uma relação amigável na qual um se importa de verdade com o
outro, e Blaine começa a entender que talvez o Danny não o odeie – ou pelo
menos não o odeia mais. E eu gosto de
como o Blaine não passa o livro todo acreditando que ele quer “reconquistar o
Joey”, e como ele acaba deixando esse sentimento de lado e reconhecendo a
maneira como ele se sente bem ao lado de Danny… é bonito como avistá-lo
sorrindo para ele no meio da plateia lhe dá forças para salvar o debate em um
dia que tinha tudo para ser desastroso, por exemplo.
Os diálogos
de Blaine e Danny sempre funcionam, gosto de como eles falam abertamente, em
algum momento, sobre gostarem um do outro (embora não objetivamente de forma
romântica) e como estão felizes em estarem juntos nessa campanha, mas quando
tudo desanda depois da aparente derrota e o Blaine age como um idiota, ele
procura Danny para pedir desculpas, e tem uma ideia para o mural que o Bao, pai
de Danny, o convidou a pintar na parede do Grão Grandão… e o que eu acreditava
que seria o momento mais romântico dos dois acaba sendo um golpe quando Danny diz a Blaine que “sente que estava mandando os
sinais errados” e que ele “não quer ser mais do que um amigo”. Aquilo nos
atinge em cheio exatamente como atinge o Blaine.
Vê-los
afastados é tristíssimo, mas eu sinto que o Danny precisava daquilo…
Ele precisava se entender.
E isso não
tem necessariamente nada a ver com sua orientação sexual, pois Danny já era assumidamente
bissexual quando o livro começou, mas em relação aos seus sentimentos pelo
Blaine, especificamente. E quando Blaine está por terminar o mural no Grão
Grandão, Danny aparece de surpresa em uma cena linda, na qual ele agradece à
babosa nova que o Blaine finalmente comprou para ele (!), e diz que ele mentiu
quando disse que “não queria ser mais do que um amigo”. É uma explosão de
sentimento e de fofura! A maneira como Danny diz gostar de Blaine, como Blaine
responde que também gosta dele, como
Danny se aproxima, o beija e gentilmente o puxa para mais perto de si e Blaine
sente que “quer experimentar aquilo mais um milhão de vezes”.
Que casal
PERFEITO!
Omigod you, guys!
Novamente,
Robbie Couch entregou um livro apaixonante! De certa maneira, eu acho que é
mais simples do que “O Azul Daqui é Mais
Azul”, que tocava em alguns assuntos mais delicados, mas “Simplesmente Blaine” é uma comédia
romântica despretensiosa, carismática e deliciosa, que entrega um romance
lindinho, amizades encantadoras e toda uma história de superação de seus
próprios limites. E vai muito além de ser apenas “uma versão gay de ‘Legalmente Loira’”. Ambientado em um
contexto adolescente, “Simplesmente
Blaine” conversa com a sua audiência, encanta, emociona e faz suspirar, se
tornando uma daquelas leituras especiais que vamos guardar para sempre com
muito carinho no coração! Ansioso para ler o próximo trabalho de Robbie Couch!
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