HAIR: O Musical (2025) – A ERA DE AQUÁRIO: Ficha Técnica

“Na madrugada dessa Era de Aquário”

Minha história com “Hair: O Musical” começa em 2012, na reta final de outra produção brasileira do musical que mudou a minha vida para sempre. Sim, eu tenho consciência de que parece exagero quando colocado dessa maneira, mas não… não é exagero. “Hair” não foi o primeiro musical que eu assisti ao vivo no teatro, mas eu o tenho como o musical que mais me marcou. A minha experiência em 2012, com o elenco liderado por Hugo Bonemer e Fernando Rocha, foi tão impactante que eu precisei retornar ao teatro mais duas vezes e isso viveu comigo durante todos esses anos… ao longo dos últimos 13 anos, ouvi de novo e de novo à trilha sonora do musical e chorei copiosamente a cada vez que Sheila iniciava “Bom dia, estrela” ou que Claude iniciava “Com fome, o meu olhar cruzando o seu…”.

A experiência de “Hair” é, e tem que ser, transcendental – “A meditação transcendental no oceano da realidade é o amor”. “Hair” não é um musical para ser assistido no conforto da sua poltrona e para ser esquecido no momento em que você deixa o teatro… “Hair” é um musical para ser sentido e para ser vivido, para se sentir parte da tribo, e para aceitar o convite à reflexão que o texto nos faz continuamente, porque os temas ficam martelando em nossa mente por dias e dias após a experiência mágica do teatro. É intenso, é místico, é livre tal qual seus personagens, que tentam “escapar” de uma realidade bruta e se encontram e se refugiam uns nos outros, enquanto falam sobre liberdade identitária e sexual em uma sociedade repressora, preconceituosa e em guerra.

“Hair: O Musical” está ambientado na Nova York de 1968, mas a verdade é que poderia se passar nos dias de hoje, porque ainda que o movimento hippie seja muito tradicional dessa época, as temáticas abordadas seguem sendo atuais… quando jovens estão sendo enviados para a Guerra do Vietnã para “morrer por seu país”, acompanhamos uma tribo que se reúne em um velho teatro abandonado e tenta se recusar a ser bucha de canhão, resistindo enquanto podem à pressão externa e vivendo intensamente no meio-termo. É nesse cenário que conhecemos personagens como o Berger e o Claude, que são pessoas distintas e que se portam cada um à sua maneira frente à convocação para a guerra que lhes chega, por exemplo. O musical é um fluxo de consciência fascinante.

O musical foi trazido anteriormente para o Brasil em 1969, no auge da Ditadura Militar, fazendo uma temporada até 1972, contando com nomes como Aracy Balabanian, Sonia Braga, Zezé Motta, Luiz Fernando Guimarães, Antônio Fagundes, Ney Latorraca, Nuno Leal Maia, José Wilker e Wolf Maia em seu elenco, e eu acredito que é aí que começa o legado de “Hair” no Brasil, e sempre gosto de ver pessoas mais velhas retornando ao teatro agora e lembrando de sua época, quando assistiram ao musical pela primeira vez há mais de 50 anos; gosto de pensar que talvez seja eu, em 2069, assistindo à celebração de 100 anos de “Hair” no teatro. Com a remontagem do musical na Broadway em 2009, Möeller e Botelho trouxeram uma nova versão para o Brasil em 2010…

Que foi onde eu tive meu primeiro contato com “Hair”.

A versão de 2025 de “Hair: O Musical” chega aos teatros brasileiros também com direção de Charles Möeller e versão e supervisão musical de Claudio Botelho. Marcelo Castro fica responsável pela direção musical e arranjos, Alonso Barros pela coreografia, Nicolás Boni pela cenografia, Fernando Torquatto pelo visagismo, Nicolás Boni, Plínio Hit e Alba Trapero Garcia pelo desenho de vídeo, André Breda pelo desenho de som, Vinicius Zampieri pelo desenho de luz, Tina Salles pela coordenação artística, Marcela Altberg pelo casting, Bianca Carusa pela direção de produção, Aniela Jordan pela direção artística e produção geral e Luiz Calainho pela direção de negócios e marketing. É uma equipe grande, empenhada em trazer essa história novamente à vida.

O elenco de 2025 é liderado por Rodrigo Simas, que está simplesmente fantástico no papel de Berger, e por Eduardo Borelli, que dá vida ao nosso adorado Claude. O elenco ainda com Estrela Blanco como Sheila, Thati Lopes como Jeanie, Drayson Menezzes como Hud, Giovanna Rangel como Crissy, Beatriz Martings como Dionne, Pietro Dal Monte como Woof e, em papéis diversos e como parte da tribo, Thuany Parente, Vinicius Cafer, Wagner Lima, Rafa Vieira, Gabi Porto, Murilo Armacollo, Celso Luz Noah, Milena Mendonça, Vicenthe Delgado, Gabriel Vicente, Andreina Szoboszlai, Caio Nery, Carol Lippi, Felipe Mirandda, Fui Souza, Gabriel Querino, Henrique Reinesch, Kabelo, Karine Bonifácio, Lola Borges, Lorena Fraga, Tai Martins e Vinicius Cosant.

Como eu tenho uma relação muito forte com “Hair” e a versão de 2010 foi meu primeiro contato com a obra, algumas comparações são inevitáveis ainda que eu não quisesse que isso tivesse sido tão forte para mim… a produção é visualmente lindíssima (cenários e figurinos perfeitos), algumas atualizações nas traduções são bem-vindas e você percebe o cuidado e a dedicação da equipe para que o musical aconteça. Tenho questões com o tom de alguns personagens, sinto que eu gostava mais do Claude na outra versão e que ele tinha uma força rebelde comedida, mas mais notável, da qual eu sinto falta, e questiono escolhas musicais da Sheila, que extingue a suavidade de “Bom dia, estrela”, por exemplo, mas eu acho que muito é questão de ajuste ao longo da temporada…

Afinal de contas, assisti à versão de 2025 de “Hair” no fim de julho, ainda no primeiro mês desde a estreia da temporada, enquanto assisti à outra versão de “Hair” em janeiro e em abril de 2012, com um elenco que já estava interpretando esses personagens desde 2010… esse tempo permite uma sintonia quase simbiótica que talvez o elenco atual ainda não tenha alcançado, e eles conheciam seus personagens e o que eles estavam dizendo mais do que ninguém, porque eles estavam há anos entregues a eles. “Hair: O Musical” é uma produção lindíssima e envolvente que merece ser vivida no teatro e, se eu tiver a chance, gostaria muito de poder retornar. Fazer parte da tribo que literalmente te convida a ser parte dela é uma experiência única!

 

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