Anos Rebeldes – O fim de 1967: A morte de Orlando Damasceno

“É nisso que você quer se transformar, meu filho? Num guerrilheiro?”

Desde o Golpe de 1964 que instituiu a Ditadura Militar no Brasil, João Alfredo é parte de um grupo de resistência que percebe que o que está acontecendo é muito grave e eles não podem não fazer nada, mas há quem, mesmo não apoiando o governo, viva em negação sobre a gravidade da situação, como se não fosse algo com que eles mesmos precisassem se preocupar. E é assim que os anos passam, a Ditadura Militar ganha força, silencia qualquer voz dissonante, e é quase curioso assistirmos à sequência que simboliza a passagem de ano de 1967 para 1968, porque 1968 é aquele que ficará conhecido como “O ANO QUE NÃO TERMINOU”. 1968 é o ano que vai dar início à fase mais difícil e mais brutal da Ditadura Militar no Brasil.

Orlando Damasceno é uma dessas pessoas que sabem, desde o início, a gravidade da situação. É por isso que ele nunca se calou. Damasceno é um renomado jornalista de esquerda que vê o seu trabalho – que não é apenas o seu sustento, mas sua maneira de dizer o que pensa – comprometido quando o jornal é fechado, e isso lhe causa um infarto do qual ele se recupera dentro de algumas semanas… mas a sua saúde está debilitada. Sempre esteve, ele passou algum tempo preso e agora isso. Por isso, os exames feitos na sequência revelam que ele precisa urgentemente de uma cirurgia, e a família e os amigos começam a reunir dinheiro para que ele possa fazer a sua cirurgia na Argentina… eles conseguem o dinheiro, mas não conseguem o tempo.

Antes de Orlando Damasceno ir para a Argentina para fazer a cirurgia, ele acaba morrendo, e isso nos rende uma das cenas mais tristes e sofridas de “Anos Rebeldes”. É extremamente doloroso para Maria Lúcia, que amava o pai profundamente, mas também é muito doloroso para João Alfredo, porque os dois compartilhavam uma conexão que nascera dos mesmos ideais há alguns anos, quando João o procurou para dar uma palestra… por isso, é natural que ele também esteja sofrendo, e gosto de como a série expressa isso e deixa tudo muito claro. Infelizmente, durante o velório de Damasceno, já começam os comentários a respeito de dinheiro, pensão, trabalho que a Carmem precisará arrumar para poder continuar sustentando a família…

E Carmem se coloca a trabalhar.

Em paralelo, Heloísa segue sendo uma deliciosa surpresa. Ainda que venha de uma família abastada e de direita que ajudou a financiar o Golpe Militar de 1964, ela nunca concordou com os pensamentos do pai, e é ótimo vê-la se envolvendo cada vez mais com a resistência. Inclusive, ela trocou o curso de Letras pelo curso de Sociologia, para o desespero do pai, que diz que “esse curso é cheio de subversivos” e que “em breve ela vai estar em manifestações por aí”. Bem, ele não perde por esperar. Gosto de como Heloísa não abaixa a cabeça, de como ela escuta algumas atrocidades do pai e seu discurso conservador, mas escolhe se retirar, dizendo que “não vai ficar escutando babaquices”, e é por isso que ela decide sair de casa e morar sozinha…

Como era de se esperar de Fábio Brito, ele acha um absurdo a possibilidade de Heloísa sair de casa para morar sozinha… ela quer ser adulta e viver a sua vida, e só pede alguma ajuda do pai enquanto ela conclui os seus estudos, mas o pai se nega a deixar que ela saia a não ser que ela esteja casada – em palavras fortes, ele diz para ela que, por ele, solteira e fora dessa casa, ele a quer morando embaixo da ponte e pedindo esmola para poder comer. Então, Heloísa faz a única coisa que poderia fazer para sair de casa, e se casa com Olavo, ainda que não esteja apaixonada por ele e que saiba que o casamento deles pode não funcionar… mas ao menos ela consegue sair de casa, e Olavo sempre quis ficar seu noivo mesmo. Os dois ainda terão embates por pensamentos políticos divergentes.

Por fim, menciono a sequência de Ano Novo que dá início a 1968. Em referência à cena bonita que eles compartilharam anteriormente sobre a conquista do espaço, João Alfredo e Edgar falam sobre a ida do homem à lua enquanto olham para ela, dizendo que eles acham que “vai ser nesse ano” (ainda não, mas está perto), e é um daqueles momentos singelos que ajudam a renovar a amizade e o carinho que eles têm um pelo outro. Maria Lúcia se junta a eles a tempo de estar ali para dar um beijo em João Alfredo e desejar um “Feliz Ano Novo” enquanto os fogos de 1968 estão brilhando no céu. Mesmo com tudo o que eles têm enfrentado há mais de quatro anos, eles não têm noção de como as coisas estão prestes a piorar e muito… e o ano já começa movimentado.

O assassinato de Edson Luís coloca algo grave em evidência…

Não dá mais para fingir que “nada está acontecendo”.

 

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