DJAVAN: O Musical – Vidas Pra Contar (2025)

“Eu quero é viver em paz”

O teatro musical brasileiro vem, há muito tempo, se especializando em obras biográficas que celebram a vida e a obra de grandes nomes de nossa música. Sou particularmente apaixonado por “Cazuza: Pro Dia Nascer Feliz”, que fez sua primeira temporada em 2013, mas ainda menciono musicais como “Elis: A Musical”, de 2014, “Mamonas: O Musical”, de 2016, “Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado”, de 2023, e “Rita Lee: Uma Autobiografia Musical” e “Elza: O Musical”, ambos em cartaz atualmente. “Djavan: Vidas Pra Contar” se une a essa galeria sempre em expansão celebrando a vida e a obra de Djavan, um poeta que há décadas nos presenteia com seu talento, em um musical que fala sobre música, sobre relações, sobre amizade e sobre a negritude.

“Djavan: Vidas Pra Contar” é um musical idealizado e produzido por Gustavo Nunes, com direção artística de João Fonseca e texto de Patrícia Andrade e Rodrigo França; João Viana e Fernando Nunes ficam à cargo da direção musical, além de atuarem como arranjadores e pesquisadores. Já o papel do protagonista Djavan fica a cargo de Raphael Elias, que lidera um elenco que conta com nomes como Alexrandre Mitre, Aline Deluna, Douglas Netto, Eline Porto, Erika Afonso, Ester Freitas, Gab Lara, Milton Filho, Marcela Rodrigues, Tom Karabachian e Walerie Gondim. O elenco talentoso do musical dá vida, som e movimento à história que começa em Maceió e chega ao Rio de Janeiro, com tantas figuras que passam pela vida de Djavan, como Gal Costa e Caetano Veloso.

Gosto muito da relação de Djavan com a mãe, Virgínia Viana, que é um dos condutores do musical. Na história, ela é a primeira pessoa a acreditar em seu talento para a música, e é ela quem o incentiva a deixar de lado a bola de futebol e fazer aquilo que ele nasceu para fazer – aquilo que ele mesmo percebe que é sua vida no momento em que ele tem um violão na mão pela primeira vez. A partir daquele momento, ele passa a respirar e viver música, e nada mais faz sentido sem ela. É bonito ver não apenas o apoio da mãe, que acredita nele, mas a maneira como ele a carrega consigo para o resto da vida, e a relação dos dois entrega uma das cenas mais bonitas do musical, na sua morte… a Dona Virgínia vive para sempre no filho e em sua música.

Também é bonita a relação de Djavan com Aparecida, sua primeira esposa, que ele conheceu ainda em Maceió e que é uma apoiadora tão grande quanto a mãe do poeta e músico, e talvez seja a personagem mais cativante do musical todo! Acho que nos apaixonamos por ela ao mesmo tempo em que Djavan o faz, quando ela está dançando e seu vestido roda dominando o espaço. Aparecida é fundamental no sucesso de Djavan, e nos entrega cenas maravilhosas como aqueles telefonemas com pessoas famosas (“Desenvolve, desenvolve”; “Agradece”) que querem uma composição de Djavan para o seu próximo álbum… é triste, mas eles “se perdem” no caminho em algum momento da vida e seguem rumos distintos. A importância de Aparecida é inegável, no entanto.

A partir do momento em que Djavan percebe a grandiosidade da música para a sua vida, ele não quer saber de mais absolutamente nada – ele quer escrever, ele quer cantar, ele quer viver disso. E é por isso que ele deixa Maceió e parte para o Rio de Janeiro buscando uma oportunidade e recebendo vários “nãos”… seu talento é reconhecido, mas uma chance não é dada porque sua música é considerada “diferente demais” ou “difícil”. Mas mudar não é uma opção… sua música é ele, seu estilo é único. E é assim que ele conhece João Araújo, interpretado por Gab Lara (eu AMO o Gab Lara!), e muitas portas se abrem em uma parceria que rende bons momentos (“No seu tempinho, sem pressa… GRAVANDO!”) e que fazem com que o Djavan comece a ser visto no cenário musical.

Algo muito marcante em “Djavan: Vidas Pra Contar” é, também, o tema da negritude. Não é ignorado pelo roteiro o fato de que ser um homem preto com um nome “diferente” dificultou as coisas para Djavan, e o tema nos traz o que talvez seja a melhor cena do musical todo, na conclusão do primeiro ato, que é quando Djavan está em uma turnê com Chico Buarque que o leva até a Angola… “Kamuádi K’Ngola”, que é a saudação do povo a Djavan, é impactante para a audiência como deve ter sido para o próprio Djavan, porque é o momento em que seus horizontes se ampliam. A sensação de pertencimento se traduz em “Luanda”, música que foi gravada por Djavan em 1981, e que encerra o primeiro ato do musical com toda a força que o momento exige!

Há uma separação clara entre os atos do musical: se no primeiro vemos o Djavan descobrindo seu talento, tentando uma chance e finalmente sendo notado, o segundo ato traz o período de fama de Djavan… ainda com pitadas de drama, o segundo ato em muitos momentos parece um show, e traz apresentações do cantor com outros grandes nomes da música que fazem parte de sua vida e de sua trajetória. Durante o musical, encontramos também o Caetano Veloso, o Chico Buarque, a Maria Bethânia, a Alcione e a Gal Costa, que rende uma cena emocionante e bonita em homenagem à morte recente da cantora. Infelizmente, isso faz com que parte do público confunda o musical com um show, e eu me incomodei com celulares levantados e com a plateia cantando tão alto quanto os atores em vários momentos…

“Djavan: Vidas Pra Contar” traz grandes canções do artista para o palco, como “Pétala”, “Fato Consumado”, “Vento do Norte”, “A Ilha”, “Sina”, “Azul”, “Açaí”, “Meu Bem Querer”, “Samurai”, “Oceano” e “Amor Puro”, e gosto particularmente do Medley que é feito com algumas das muitas canções de Djavan que acabaram na trilha sonora de várias novelas, como “Alegre Menina”, que esteve em “Gabriela”, “Outono”, em “O Mapa da Mina”, “Milagreiro”, em “Esperança”, “Cigano”, em “Top Model” e uma breve menção à sua gravação com o Balão Mágico com “Superfantástico”. O musical é uma experiência fantástica através da vida e obra de Djavan, um dos maiores nomes da música brasileira. Fico muito feliz de ter vivido isso no teatro!

 

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