Chespirito: Sem Querer Querendo 1x04 – Ninguém Tem Paciência Comigo

O nascimento do Chaves!

Exibido em 26 de junho de 2025, “Ninguém Tem Paciência Comigo” é o quarto episódio de “Chespirito: Sem Querer Querendo” e é o aguardado momento em que Roberto Bolaños cria um dos personagens mais icônicos da televisão: o Chaves. O episódio nos leva a pensar nessa diferença que existe de nomenclatura entre o México e o Brasil, e o fato de o personagem se tornar “Chaves” no Brasil diminui algo que eu gosto muito na obra original, que é o fato de ele não ter nome“El Chavo” é, literalmente, “O Menino”. É de uma inteligência estupenda o fato de o protagonista dessa série nunca ganhar um nome e ser chamado apenas de “menino” por todos os demais, mas é algo que acabou se perdendo na dublagem quando o programa foi trazido para cá.

Aqui, o “Menino” ganhou um nome.

Com um quê de fantasia, o episódio nos conduz pelo processo de criação do “Chaves”, e ainda que nós saibamos que haja licença poética na maneira como a série está contando a história de Chespirito, a ideia é de que ele escrevia com base no que ele via, observava e conhecia… ele parecia querer escrever sobre o que ele entende, sobre o que ele gosta – sobre o que ele gostaria de assistir se ele fosse espectador. Dessa vez, o episódio nos leva de volta a 1936, para um trecho da vida de Roberto que é importantíssima para a criação do Chaves, e a narrativa alterna entre 1936 e 1971, conforme os elementos que comporão a série nos são apresentados… o chapeuzinho que o próprio Roberto usava na infância, a maneira como a filha brinca com a alça do macacão…

Em 1936, Roberto é levado para Guadalajara para morar com uma tia, e a série coloca muito do que veremos em Chaves naquela versão criança de Roberto, desde o modo de falar até o amor por sanduíche de presunto, por exemplo. E, na vizinhança, ele também acaba chegando a uma vila… uma vila onde uma garota com o cabelo como o da Chiquinha chora depois de o pai brigar com ela, e de quem ele se torna amigo, e onde a mãe arrogante e metida a rica de um garoto esnobe não deixa que ele brinque com o Roberto porque não quer que ele se misture com essa “gentalha”. Memórias que vêm à tona quando, em 1971, Chespirito precisa ter uma nova ideia, porque o astro de seu programa está indo embora porque recebeu uma proposta irrecusável.

Roberto e Ruben se despedem em bons termos, até porque Ruben eventualmente retornará para ser o Professor Girafales, e Roberto se coloca a escrever, ainda que o canal queira optar pela facilidade de trocar o ator e seguir com a série… algo que Chespirito se recusa a fazer: ele escreveu o personagem para o Ruben, com ele em mente, e ele não pode simplesmente “ter outra cara”, então ele vai escrever um novo… e, para ter ideias, ele leva aos filhos ao parque, e é aí que a base de Chaves vai nascendo: o velho rabugento vendendo balões no parque e não sabendo lidar com crianças é a base perfeita para o Seu Madruga, e é emocionante ver a história começando a nascer dentro dele. Com as anotações que tem, Chespirito escreve e escreve e escreve.

Ainda que o primeiro rascunho traga o vendedor de balões e uma criança, Roberto diz que não quer crianças… ele não gosta de atores mirins, e acha uma crueldade, porque “eles nunca crescem pessoas normais”, então ele mesmo vai ser a criança – que Ramón chama de “a criança mais velha que ele já viu”. Aquela primeira criança, das primeiras esquetes, ainda não é o Chaves… mas o programa vai nascendo. Roberto percebe que aquele garoto e o vendedor de balões precisam de uma vila… ele precisa de mais personagens. Há resistência do canal: eles não querem fazer “um programa para crianças”, e tampouco têm orçamento o suficiente para construir uma vila para o Chespirito, mas ele insiste: ele diz que ninguém tem paciência com ele e que precisam confiar nele.

A visão de Chespirito é muito clara. Ele sabe exatamente o que ele quer para o programa, e então a vizinhança vai ganhando vida. É a sua última chance, mas ele sabe o que está fazendo… ele pretende fazer com que todos amem aquele menino – O MENINO DO 8. A verdade é que o Chespirito também é bom de marketing: essa cena na qual ele nomeia o programa de “El Chavo del 8” mostra o quanto pode ser bom para o canal… então a ideia vai crescendo, vai ganhando vida… ele precisa de mais personagens, de mais crianças, e ele não precisa de estrelas, como o Canal 8 insiste, ele precisa de bons atores que um dia virarão estrelas.

Chespirito acreditava tanto no que estava fazendo que ele faz outras pessoas acreditarem também. O elenco se reúne e ele define o que quer desse programa: são histórias de pessoas comuns, com suas virtudes e defeitos, seus sonhos… histórias e personagens com as quais as pessoas possam se identificar, em quem se vejam. Toda a reta final do episódio é emocionante: a vila se torna real, os atores se reúnem e ganham seus personagens… gosto muito da cena dos camarins, onde cada ator pega o seu figurino e eles se tornam a Turma do Chaves pela primeira vez. Acompanhamos meio que de maneira distante a primeira gravação, com a Chiquinha ainda sem o seu tradicional vestido verde, por exemplo… e, de longe, um Roberto Bolaños criança assistindo encantado.

Simbólico e bonito!

 

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Comentários

  1. Obs. Reparei que uma das filhas do Roberto tá de blusa amarela e macacão verde, lembrei da roupinha do Godinez (Alguma vez ele esteve na vila?)

    Olha, tem como vc ler e resenhar esse ano o Diário do Chaves + Belo e Sombrio Coração? (O 2° livro é do universo do liveaction da Branca de Neve)

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    1. Uma boa observação, eu não a associei ao Godinez na hora! Não me lembro, mas provavelmente ele esteve na vila pelo menos uma vez, sim!

      Não conheço esses livros que você mencionou, mas vou pesquisar a respeito!

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