Smash 2x14 – The Phenomenon

“To Kyle!”

Eu comentei isso no episódio anterior, mas eu retomo isso nessa review: é a terceira vez que eu assisto “Smash”, e eu nunca estou preparado para o fim do episódio anterior e para esse. “The Phenomenon” é um dos meus episódios favoritos de “Smash”, mas certamente o mais triste de todos eles. Assistindo agora novamente, depois de tantos anos desde a última vez que vi a série, eu chorei durante praticamente o episódio inteiro… chorei de soluçar, de engasgar e, no fim, é uma experiência lindíssima, mesmo que dilaceradora. Talvez o fim do episódio anterior nos deixe com uma pontada de esperança de que o Kyle tenha sobrevivido e esteja no hospital, mas quando a confirmação de sua morte vem, precisamos lidar com esse baque, e o episódio é uma homenagem belíssima ao personagem.

Inclusive, Kyle é um dos meus personagens favoritos de “Smash”.

Assim, assisti-lo aqui é doloroso e bonito, em uma mistura paradoxal que nos arrebata. Tudo o que acontece antes de Tom receber o telefonema da polícia que avisa sobre a morte de Kyle (porque ele ligou para ele e deixou uma mensagem, depois de ele não ter aparecido no dia anterior) parece desimportante para o episódio, enfim – e de fato o é. A conexão da morte de Kyle com “Hit List”, por outro lado, é explorada de diferentes maneiras, tanto de um ponto de vista comercial e frio, quanto com uma sensibilidade humana daqueles que realmente se importavam com ele, com direito a uma música dentro do musical convertida na melhor homenagem que poderia ser cantada a Kyle… “The Love I Meant to Say”, mais do que uma música, é um evento.

O episódio caminha por dois estilos de narrativa, que funcionam muito bem após a morte de Kyle. De um lado, vemos o dia seguinte à sua morte, as reações conforme as pessoas descobrem, o início do luto, as homenagens; de outro, vemos flashbacks que enriquecem a relação que Kyle tinha com diferentes personagens. Em parte, talvez os flashbacks pareçam diferentes do que eles podem de fato ter acontecido na realidade, até pela iluminação quase celestial usada e o tom calmo e poético dos diálogos, mas eu acho que tudo é proposital e justificado em um diálogo de Kyle e Tom, quando Kyle sugere uma mudança em uma cena de “Bombshell” e diz que “às vezes, quando lembramos das coisas, gostamos de pensar nelas melhores do que elas realmente foram”.

Interpreto os flashbacks, em parte, desse modo… não que Kyle não tivesse uma relação bonita com essas pessoas, porque ele tinha. Kyle não era perfeito. Kyle tinha sua parcela de egoísmo, tinha uma resistência à relação de Jimmy e Karen, por exemplo. Mas o fato de Kyle não ser perfeito talvez seja justamente o que o torna humano… e, consequentemente, a sua morte é muito mais sentida. Kyle não era perfeito, mas ele era muito mais incrível do que muitas pessoas que conhecemos, e suas qualidades, artísticas e humanas, prevaleciam sobre qualquer falha, no fim das contas. Ele era inteligente, ele era atencioso, ele era carinhoso, e ele tinha uma qualidade inegável que era a de se importar de verdade com as pessoas e com tudo o que estava fazendo.

Kyle era intenso, era verdadeiro.

Conseguimos explorar isso em vários flashbacks. Amo particularmente o seu flashback com Julia, porque eu sinto essa conexão que existia entre eles quando eles trabalhavam juntos… existia um respeito e uma admiração mútua que fez com que isso funcionasse tão bem, e é lindo ver o Kyle trabalhar com todo seu potencial, e igualmente doloroso, porque sua vida foi mais breve do que deveria ser e ele não vai ter a chance de ter outros trabalhados. O flashback com Tom também é interessante, embora não tenhamos de fato assistido à relação de Kyle e Tom antes, mas ver Tom cantar “Vienna” para Kyle e ver os olhinhos de Kyle brilharem com tanta satisfação, admiração e prazer é algo que enche o meu coração. Passei a música toda chorando, limpando lágrimas e sorrindo.

Destaco algumas das reações em relação à morte de Kyle – especialmente as inesperadas de Derek e de Eileen. Esperamos ver Karen sofrer, porque ela era próxima a ele e foi dele que ela se aproximou primeiro, quando “Hit List” ainda não era praticamente nada, e esperamos, também, ver a dor e o pesar do elenco, que trabalhava direta e diariamente com ele, ou de pessoas como a Julia. Mas Derek demonstra uma humanidade sincera à qual nem ele mesmo está habituado, quando ele diz ao Scott que eles vão cancelar o show daquela noite e que não existe outra alternativa, porque é o certo a se fazer; e Eileen fica profundamente tocada com a morte de Kyle, também, a ponto de deixar de lado toda a campanha para o Tony que a estava consumindo.

Isso mostra o quanto eles são boas pessoas.

Todos esperam, no entanto, pela reação de Jimmy… e sabem que precisam contar a ele da maneira correta. Jimmy canta “High and Dry” (eu ADORO ouvir o Jeremy Jordan cantar, a voz dele é maravilhosa!) antes de saber sobre a morte do melhor amigo e irmão, enquanto anda pela cidade lidando com tudo o mais, e só chega ao teatro mais tarde, depois de a notícia ter se espalhado, e diz a todos que sabe que Kyle deve estar decepcionado com ele, já que “não atende às suas ligações e não estava em casa naquela manhã”, e então contam para ele com pouco cuidado, mas também não havia outra escolha – e, infelizmente, Karen não está ali quando o Jimmy chega, e ela não tem tempo de falar com ele antes de ele ir embora do teatro sem falar com mais ninguém.

Então, Karen o busca, e toda a construção da trama passa tanta credibilidade, tanta dor que uma simples conversa de Karen e Derek pelo celular me arranca mais lágrimas… mas ela sabe onde deve buscar Jimmy, o último lugar ao qual ainda não foi: o “lugar de Jimmy e Kyle”. O lugar onde Karen encontra Jimmy e pede que ele volte com ela para o teatro porque vão fazer um concerto de “Hit List” em homenagem a Kyle e precisam dele, é o mesmo cenário do flashback de Jimmy com Kyle, quando eles estão conversando sobre “Hit List” depois de Karen ter “feito o Derek se interessar pelo projeto”. E estamos em um daqueles dias em que Jimmy e Kyle estão bem, o que é um baque e um contraste perfeito à cena do Jimmy dizendo a Karen que o Kyle morreu por sua culpa.

Ele sempre vai carregar isso com ele.

Esse é, provavelmente, o ponto de virada para o personagem de Jimmy… assim como a morte de Amanda, em “Hit List”, é o ponto de virada para o personagem de Jesse. Quando Kyle perguntou a Jimmy se Amanda “tinha mesmo que morrer no final”, Jimmy disse que sim, porque todos os bons musicais, pelo menos aqueles dos quais Kyle mais gosta, não tinham finais felizes – e isso automaticamente me faz pensar no fato de que Andy Mientus fez “Spring Awakening”, um grande exemplo do que Jimmy está dizendo. Jimmy precisa lidar com a própria dor, com a angústia, com a culpa, mas saber que haverá uma apresentação de “Hit List” naquela noite era necessário, porque ele tinha que, então, decidir o que ele queria fazer pelo amigo… seu lugar era estar lá, por ele?

Infelizmente, a apresentação de “Hit List” acontece pelo motivo errado, no fim das contas. Parece que o público está se reunindo do lado de fora do teatro, querendo assistir ao musical mesmo depois de eles terem cancelado a apresentação do dia, mas, na verdade, Scott agiu da maneira mais egoísta e desumana possível ao não cancelar o espetáculo, apesar do combinado, e ainda mentiu que Julia havia convencido o elenco a se apresentar naquela noite. Ao menos isso acaba com a parceria de Julia e Scott definitivamente, e com razão. Felizmente, Derek e o elenco conseguem converter essa apresentação comercial em uma homenagem ao Kyle, porque independente do motivo pelo qual o show acontece naquela noite, a intenção deles é fazer aquilo por Kyle.

E eles fazem de todo o coração. E é profundamente emocionante.

Jimmy não está presente na maior parte da apresentação, mas ele chega em um momento perfeito no qual pede que Karen pare de cantar, e diz que ele não quer fazer aquela cena seguinte em forma de concerto: ele quer fazer a cena de verdade – até porque é a cena que se passa no lugar que significava tanto para ele e para Kyle, e na qual o personagem de Jimmy canta uma música que diz exatamente tudo o que ele mesmo gostaria de dizer para Kyle naquele momento… “The Love I Meant to Say” é, possivelmente, a cena mais sincera, mais triste e mais dolorosa não só de “Hit List”, mas de “Smash”, e existe muita emoção em cada palavra, enquanto Jimmy faz uma homenagem sincera a Kyle e, com aquelas palavras, diz tudo o que queria dizer…

Tudo o que devia ter dito antes, e nunca disse.

Lindíssimo. Emocionante. Triste.

O episódio ainda traz uma sequência final linda promovida por Julia e Eileen. No flashback de Julia com Kyle, eles conversaram sobre como Kyle sempre amou a tradição de apagar as luzes da Broadway para veteranos do teatro, e Julia gostaria de fazer isso por ele nesse momento – e embora eles não consigam fazer isso em toda a Broadway, nada os impede de fazer isso em seu próprio teatro, na casa de “Bombshell”. E é um momento emocionante quando todos se reúnem do lado de fora do teatro enquanto as luzes se apagam e eles levantam seus copos em um brinde a Kyle. Certamente, o episódio mais triste de “Smash”, mas também o mais lindo e o mais emocionante. Uma belíssima homenagem a Kyle, um episódio tributo poderoso como deveria ser.

Agora, “Hit List” está indo para a Broadway. Sob produção de Jerry.

E que venha a competição pelos Tony.

 

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