Pornographer | Mood Indigo – Episode 2: In Search of the Time I Forgot

Chocante.

Intenso e triste, “In Search of the Time I Forgot” é o episódio que me faz perceber a grande diferença de tom entre “Mood Indigo” e “The Novelist”. Não que, na primeira série de “Pornographer”, o Kijima não tenha enganado o Kuzumi o fazendo escrever um livro que já tinha sido publicado (!), o que sabemos que não foi certo, mas não tínhamos, lá, um personagem tão desprezível quanto o Sr. Gamouda, que proporciona uma sequência final absurda e revoltante. Aos poucos, “Mood Indigo” vai nos conduzindo e nos fazendo entender, então, como Kijima se transformou na pessoa “quebrada” que conhecemos em “The Novelist”, o que, em termos de roteiro, é algo interessantíssimo, porque é justamente essa a ideia dessa segunda série de “Pornographer”.

Depois de Kido ter feito a Kijima a proposta de escrever romances eróticos na editora para a qual ele trabalha, Kijima fez uma primeira tentativa – que não chegou de fato a agradar Kido, porque não era quente o suficiente. Kijima tem talento, sua escrita é incrível, mas não serve muito como romance erótico, tendo em vista que só tem uma passagem quente, que chega nas últimas 10 páginas do livro, e que termina rapidamente… para poder ser bem-sucedido nesse negócio, como Kido tenta explicar para ele, ele terá que aumentar o número de passagens quentes, melhorar o ritmo da história e fazer os protagonistas se conectar mais cedo e ser mais detalhista nas cenas de sexo. Kijima precisará tentar de novo, mas Kido acredita que ele pode chegar lá.

O episódio também traz, rapidamente, algumas informações sobre o passado de Kijima, que podem ou não ser exploradas nos próximos episódios. Quando Kido volta para casa do trabalho no dia seguinte, ele encontra Kijima bastante bêbado e passando mal, e embora o Kido ajude a cuidar de Kijima quando ele começa vomitar e, na manhã seguinte, preparando o café-da-manhã, eu tenho a impressão de que Kido é extremamente egoísta e parcialmente insensível. Não é errado ele não querer que o Kijima beba como bebeu no dia seguinte, mas eu acho que ele falha miseravelmente em seu lado empático, quando não parece entender ou reconhecer que o motivo da bebida de Kijima tem a ver com o pai, cuja morte completou um ano, e ele não foi, porque não foi nem mesmo no funeral…

Kijima e o pai tinham uma relação péssima, e é doloroso ouvi-lo falar sobre isso.

Mas Kido me parece o tipo de pessoa bastante autocentrada. Querendo a oportunidade de trocar de linha editorial, porque acredita que se sair dos romances eróticos ele terá uma chance de reatar com a ex-namorada, cujo pai não gostava do seu trabalho, Kido coloca Kijima em uma situação delicada sem nem mesmo perguntar-lhe sobre isso, e o oferece como aprendiz do Sr. Gamouda, na esperança de que isso convença o autor a publicar seu último livro com a editora: é disso que ele precisa para fazer seu nome e, quem sabe, conseguir uma transferência. Kido explica a Kijima o que fez, diz que “acredita que será vantajoso para ele também”, mas a verdade é que suas motivações são puramente pessoais, e “Mood Indigo” não faz questão alguma de esconder isso do espectador.

Ele diz a Kijima: ele precisa desse trabalho.

E faria de tudo para consegui-lo.

Assim, chegamos àquela sequência final desconfortável. Kido leva Kijima consigo na sua próxima visita ao Sr. Gamouda, e é uma cena tão absurda – Gamouda é o tipo de personagem que nos enoja. Furioso, ele diz a Kido que ele o enganou, e que acreditou que o “aprendiz” de quem falou era uma mulher, mas “não tem nenhum interesse em ter um aprendiz homem”, o que, por si só, é nojento em vários sentidos: tanto pelo que é formalmente dito quanto pelo que é implícito. E o Sr. Gamouda parece irredutível: ele não vai aceitar Kijima como seu aprendiz. Antes de eles irem embora, no entanto, o próprio Kijima se aproxima do escritor para dizer que gostaria muito de ajudá-lo com seu livro e ser seu aprendiz, porque está em um momento delicado do seu processo criativo e sente que pode aprender muito com ele.

Gamouda não é uma pessoa boa, tampouco uma pessoa sensata ou correta. Quando Kijima diz que “faria qualquer coisa” para que ele o aceitasse como seu aprendiz, Gamouda diz algo que parece tão descabido e absurdo que nos pega de surpresa: ele pergunta se Kijima “chuparia” Kido e diz que, se ele o fizer gozar, então ele permitirá que ele publique o seu livro. Todo o contexto é desconfortável porque é a manipulação baixa de duas pessoas visivelmente desesperadas por alguém poderoso que sente que “pode obrigá-los a fazer o que ele quiser”, e nem temos tempo para nos perguntar se Kijima e Kido vão mesmo aceitar essa “proposta”, porque Kijima se aproxima de Kido disposto, dizendo que “não se importa” e lembrando a Kido que ele quer muito esse trabalho, portanto “não vai se opor”.

Eles vão mesmo fazer isso? Na frente do outro?

 

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