His Dark Materials 3x04 – Lyra and Her Death

A separação de Lyra e Pan.

Eu sabia que seria horrível de se assistir a essas cenas, mas talvez nem isso tenha me preparado para a separação de Lyra e Pan – foi doloroso de se ler em “A Luneta Âmbar”, e foi doloroso de se assistir em “His Dark Materials”. “Lyra and Her Death” traz várias cenas da Sra. Coulter de volta no Magistério, um pouquinho apenas da Dra. Malone chegando no ponto da história que é a minha favorita em toda a trilogia “Fronteiras do Universo”, e todo um desenvolvimento de Lyra e Will na entrada do Mundo dos Mortos… e temos conceitos bem interessantes sendo trazidos e retratados de maneira inteligente e reflexiva. Vou me abster de spoilers, para quem não leu aos livros de Philip Pullman, mas toda a sequência do Mundo dos Mortos é, sim, extremamente importante para a história geral de “A Luneta Âmbar”, tanto que é a sequência retratada na capa do livro.

E eu sinto que isso precisa ser dito.

Toda a parte da Sra. Coulter no Magistério rende boas cenas – mas não é a minha parte favorita da história. Ainda assim, eu adoro o fato de “His Dark Materials” ser, em parte, uma grande crítica à igreja como instituição, e toda a interação da Sra. Coulter com o “Presidente” deixa isso muito claro, com direito a umas falas diretíssimas que são profundamente reais. Marisa, naturalmente, sustenta muito bem toda a sequência, tem cenas interessantes com o Presidente, com o Padre Gomez e com a Dra. Cooper, com direito a muito deboche e persuasão. Como o Magistério quer matar Lyra a todo custo, porque “ela é o próprio pecado” ou qualquer coisa assim, Marisa está fazendo de tudo para salvar a vida da filha, inclusive tentando sabotar uma bomba que está destinada a matar Lyra a perseguindo por causa de uma mecha de cabelo que estava com Marisa.

Ironicamente, enquanto Marisa está tentando salvar Lyra da morte, Lyra está caminhando por vontade própria para o Mundo dos Mortos – e eu acho interessante como ela tem uma determinação que nem entende muito bem (ela sabe/sente que precisa fazer isso, embora não entenda bem o porquê), em paralelo a um Pan assustado e a um Will incerto. No fim do episódio passado, Will e Lyra atravessaram para o que acreditavam ser o Mundo dos Mortos, mas era apenas um lugar antes daquele. Gostei muito de como a série retratou o lugar, com tudo muito silencioso, cores mais escuras, pessoas meio “perdidas”. Sempre se corre o risco de fazer essa aura de morte como algo mais sombrio, mas Philip Pullman e “His Dark Materials” não trazem isso à tona como algo assustador, mas mais como algo melancólico. E é, talvez, um sentimento muito mais forte.

Quando li “A Luneta Âmbar” pela primeira vez, fiquei apaixonado pela beleza da ideia de um mundo no qual a sua morte o acompanha o tempo todo, desde o dia em que você nasceu… porque, na verdade, é assim mesmo, não é? Philip Pullman cria os conceitos desses mundos com tanta destreza que é impossível não percebê-los como reais – e Lyra e Will têm uma reação como se a ideia de ter a sua morte ao seu lado fosse algo assustador, mas não precisa ser… ela é uma amiga que te acompanha o tempo todo, que te conhece melhor do que ninguém, que estará lá quando chegar o momento para te levar em sua última jornada. E Lyra percebe que, para conseguir chegar ao Mundo dos Mortos e falar com Roger, ela precisará entrar em contato com sua morte… quando ela coloca sua mente no estado certo e se sente preparada para esse encontro, sua morte aparece.

Adorei a representação da morte da Lyra, porque traz a sensação necessária de uma amiga e companheira, sempre presente, com a voz calma e muita sabedoria. Lyra tenta “fazer um acordo” com ela, embora a morte normalmente não faça acordos, e eventualmente sua morte aceita levá-la até o barqueiro que os atravessará para o outro lado – de lá em diante, no entanto, ela não poderá segui-la… e se Lyra pretende mesmo voltar, ela terá que fazer isso sozinha, sem a ajuda de sua morte, porque isso não compete mais a ela. Sem saber dos riscos que está correndo, ou talvez os ignorando, é difícil saber, Lyra aceita o que está por vir. Will, por sua vez, é um parceiro realmente incrível. Ele não entende por que Lyra precisa tanto ir ao Mundos dos Mortos, ele acha que é arriscado e que eles podem não voltar, mas ele não vai deixar que ela vá sozinha.

O mais doloroso, é claro, vem por último. Lyra deveria ter percebido, deveria ter se dado conta de que não havia como Pan acompanhá-la até o Mundo dos Mortos (até porque, no seu mundo, os daemons desaparecem quando alguém morre), mas Lyra está tão acostumada à sua presença como parte dela mesma (porque, afinal de contas, Pan e Lyra são uma única pessoa) que nem cogitou a possibilidade de deixá-lo. Mas, com Pan, o barco não parte: daemons não podem ir para o lugar aonde Lyra está indo. A separação dos dois é cruel e dolorosa, e me partiu o coração ver o Pan se sentindo traído, como se Lyra estivesse escolhendo Roger no seu lugar. Lyra não quer deixá-lo, diz ao barqueiro que “eles são um”, diz que “eles morrerão se se separarem”, mas não é isso o que ela está fazendo, no fim das contas? Então, ela deixa Pan para trás e parte sem ele.

Senti falta, nessa sequência, de a dor de Will ser também explorada com mais detalhe… Will tenta negociar com o barqueiro enquanto Lyra se despede de Pan, diz que não é justo que Lyra tenha que deixar para trás uma parte dela se ele não tem que deixar nada, e o barqueiro diz que ele também deixará uma parte sua – a diferença é que Lyra pode ver e conversar com a parte que está deixando para trás, e Will não saberá da sua até que estejam no meio do rio e já seja tarde demais. Eu entendo que “Lyra and Her Death” trouxe o foco dessa cena final na dor de Lyra e na sua separação com Pan, e foi horrível ver o Pan chorando, olhando para o barco se afastando, e ver a Lyra gritar com uma dor física quando eles se separam, mas o Will também vai passar pelo mesmo. Seu daemon, que sempre viveu dentro dele, também está ficando para trás.

Com pouquíssimo tempo de tela, temos a Mary Malone FINALMENTE chegando ao MUNDO DOS MULEFAS – e eu esperei tanto por isso, porque o arco de Mary sempre foi meu favorito em “A Luneta Âmbar”. Senti falta de termos uma primeira impressão mais impactante desse mundo no qual ela está, de ela já ter visto a árvore (que eu acho que fica para o próximo episódio), por exemplo, mas eu estou tão feliz com essa história sendo contada que eu só quero mais tempo de tela para ela e para os mulefas… a primeira impressão dos mulefas é paradoxal: eu sinto falta das patas em forma de losango e, mais do que isso, de ter visto os mulefas andando com as sementes (isso é tão essencial para a história!), mas, ao mesmo tempo, Atal tem o carisma que eu esperava dela… ela é linda e fofíssima, e a primeira interação com Mary, embora breve, foi incrível.

Ansioso por mais. Virão as rodas ainda? Espero que sim.

 

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