Avatar (2009)

“I see you”

James Cameron é daqueles diretores que gostam de fazer história no cinema. Foi assim com “Titanic”, em 1997, e é assim com “Avatar”, em 2009 – por motivos diferentes. Contando uma história sobre a destruição que a ambição humana pode causar, “Avatar” é uma revolução para o cinema… não necessariamente por causa da história (embora o filme tenha um roteiro muito bom e uma discussão pertinente que ainda é válida), mas por causa da inovação tecnológica que o filme apresentou. Particularmente, eu não sou um grande fã do cinema 3D, mas “Avatar” é, provavelmente, o filme que melhor usa o recurso na história, permitindo que o espectador se torne parte de Pandora e dos Na’vi, quase como se o avatar de Jake Sully nos representasse enquanto assistimos ao filme… também estamos entrando naquele mundo fabuloso, e o visual é estonteante.

Por isso, “Avatar” é, antes de tudo, uma experiência fascinante. É a ideia de estarmos em um lugar completamente novo, repleto de possibilidades… essa exploração de novos cenários sempre foi algo que me chamou muito a atenção na ficção científica (foi um dos principais motivos pelos quais me apaixonei por “Star Trek” desde muito pequeno e por “Doctor Who”, quando mais velho), e Pandora é um dos lugares mais belos, complexos e harmoniosos que já conhecemos. Usando uma tecnologia de 2009, é natural que nem sempre o CGI seja o mais perfeito possível, mas o resultado do filme é, ainda, muito bonito, e parece que, no decorrer de “Avatar”, as coisas vão parecendo cada vez mais reais – talvez porque estejamos nos habituando àquele mundo, talvez porque, assim como Jake Sully, estamos começando a percebê-lo como o “mundo real”.

Em termos de história, “Avatar” tem um roteiro muito bom – não realmente inovador, nesse quesito, porque é um tema explorada em centenas de outras obras, mas sempre necessário… é uma história de colonização e exploração: os humanos descobriram um planeta com um metal precioso que querem tomar para si, e se sentem no direito de fazer qualquer coisa para conseguirem o que querem… se sentem superiores aos “selvagens” nativos do planeta. Toda a relação com os Na’vi é uma alegoria a todas as histórias de colonização que vimos na história da humanidade, enquanto humanos oferecem coisas das quais os Na’vi não precisam, como “estradas”. Humanos não têm nenhum direito sobre Pandora, e não têm nada de que os Na’vi precisam para oferecer, já que os Na’vi vivem em tão perfeita harmonia com o ambiente ao seu redor… eles são uma sociedade avançada e riquíssima em tantos sentidos!

Jake Sully, um dos protagonistas do filme, é um meio-termo entre dois grupos humanos: de um lado, a parte militar e bélica, disposta a atacar e matar quem estiver no caminho até o metal que querem roubar; de outro, a parte científica, que quer se aproximar dos Na’vi e estabelecer uma relação diplomática. Jake acaba assumindo o lugar do irmão, que morre tragicamente, porque ele já estava no Programa Avatar, e o avatar que ele deveria usar foi caro e não pode ser desperdiçado… mas Jake é um fuzileiro. Então, Jake Sully entra nesse mundo sem saber direito o que esperar, sem ter estudado ou treinado para isso, e embora ele deva seguir ordens de Grace e fazer aquilo que o irmão fora treinado para fazer, parte dele está inclinada a seguir ordens do Coronel Quaritch e se infiltrar entre os Na’vi para coletar informações de como melhor destruí-los.

Só o tempo dirá que lado ele vai escolher.

Sabemos, no fundo, que caminho Jake Sully vai seguir – mas é prazeroso o acompanhar enquanto ele conhece Pandora, os Omaticaya e se apaixona por Neytiri. Conforme ele se torna cada vez mais parte dos Na’vi, é possível notar como Jake se deslumbra com os segredos daquele mundo, e como se encanta pelo planeta, pela fauna e pela flora de Pandora, bem como por tudo o que os Omaticaya veem, sabem e acreditam. É um mundo que não falha em ser FASCINANTE, então nós nos apaixonamos simultaneamente, abrindo sorrisos involuntários conforme exploramos as possibilidades e percebemos o quanto tudo é mágico, belo e bonito em Pandora… adoro o fato de tudo estar tão conectado, de como os Na’vi, as plantas e os animais vivem em uma sintonia perfeita com o planeta, como a conexão é física e mental, representada pelos fios no cabelo.

Aquilo é de arrepiar, a meu ver.

Temos uma série de sequências belíssimas para Jake Sully, explorando Pandora em seu novo avatar. Gosto muito da cena em que ele precisa se conectar com um banshee/ikran (e nem sei o que dizer sobre a sequência no fim do filme na qual ele se torna um Toruk Makto ao conseguir domar e montar um toruk), como um rito de passagem para se tornar um guerreiro Na’vi, e a cena em que Neytiri mostra a Jake Sully, quando ele finalmente “se torna um deles”, a Árvore das Vozes é uma das cenas mais lindas de todo o filme! A maneira como as árvores guardam memórias e informações, como os antepassados dos Na’vi estão presentes naquele lugar, como parte daquele mundo… é lindíssimo. E Jake Sully percebe, cada vez que acorda de novo em sua cápsula no Programa Avatar, que o mundo real é cada vez mais o que ele está vivendo do lado de fora.

Essa aproximação com os Na’vi, que só é possível quando se está aberto para isso, permite que Jake Sully entenda como os Omaticaya têm uma sociedade perfeita – algo com que os humanos poderiam apenas sonhar. E embora ele tenha começado o filme passando informações ao coronel, ele finalmente entende que o que os humanos estão fazendo é errado e, se sentindo cada vez mais como um Na’vi, ele vai fazer de tudo para ajudá-los… e quando os humanos atacam brutalmente, de maneira covarde e absurda (destruindo a árvore que era a casa dos Omaticaya, bem como tudo o que era sagrado para eles!), Jake tenta negociar com ambos os lados: tenta dizer aos humanos que vai conversar com os Na’vi para que eles evacuem, antes que os humanos ataquem, e tenta dizer aos Na’vi que está do lado deles e quer ajudar… mas como eles podem confiar nele?

O último ato do filme é uma grande guerra repleta de destruição e desespero – e o asco que sentimos daquele grupo de humanos é indizível. Ver o fogo tomar conta de Pandora e de cenários pelos quais nos apaixonamos, que eram o lar dos Omaticaya e símbolos importantes para eles é algo que me doeu profundamente. Jake Sully se tornou tão parte dos Omaticaya que a conexão que ele estabeleceu com os Na’vi e com o planeta são expressas em dois momentos muito claros, depois dos quais ninguém pode questionar sua posição ali: primeiro quando ele se torna um Toruk Makto, montando um ikran de um tipo raríssimo, montado por apenas outros cinco Na’vi na história; depois, quando ele conversa com tanta certeza e sinceridade com Eywa, a divindade dos Na’vi, pedindo sua ajuda na luta contra os humanos que está por vir, e ela atende.

Há um gosto agridoce na batalha contra os humanos. É doloroso e desconfortável assistir à destruição causada em um lugar que vivia tão bem antes da chegada dos colonizadores, mas também é forte e bonito ver a união de diferentes clãs e do planeta em si, com a ajuda de Eywa, na batalha para defender algo tão belo que eles amam tanto – e Jake Sully se entrega inteiramente por Pandora e pelos Na’vi, até que a batalha esteja vencida, mesmo contra todas as possibilidades, e os humanos são mandados embora, já que nunca deveriam ter estado ali, para começo de conversa… é linda a cena de Neytiri salvando o corpo humano de Jake Sully, até para que, quando ele for transferido para o seu avatar permanentemente, seja por uma escolha consciente, porque ele é, realmente, um Na’vi e não porque “é a única alternativa”. A cena dos Omaticaya reunidos na cerimônia é lindíssima.

“Avatar” é um marco, um ícone do cinema… tratou de assuntos importantes e contou uma história emocionante, ainda que não inovadora, revolucionando a maneira como histórias eram contadas através das novas tecnologias utilizadas – e se sobressai, ainda hoje, por causa de seu visual incrível que nos encheu os olhos na época, e continua enchendo atualmente. Estou muito curioso para ver para onde James Cameron vai expandir esse universo e essa história: 13 anos depois do filme original, a sequência “Avatar: O Caminho da Água” chega aos cinemas agora em dezembro, e é o segundo filme de uma franquia promissora que tem pelo menos cinco filmes confirmados nos anos vindouros. Que outras histórias fascinantes os Na’vi têm para contar? Que segredos maravilhosos de Pandora ainda temos a descobrir? Sinto que falaremos muito sobre “Avatar” nos próximos anos!

 

Para reviews de outros FILMES, clique aqui.

 

Comentários