O Malefício (2023) – Os segredos de Enrique de Martino

Sinais da sucessão.

Enrique de Martino é o tipo de homem que sempre consegue o que quer… e um pacto feito há anos com o demônio Bael ajuda a garantir que sempre será assim. Os segredos desse bem-sucedido homem de negócios são desvendados lentamente durante “O Malefício”, conforme o vemos se aproximar de Beatriz (e de Juanito, que tem tudo para ser o seu sucessor na “organização” que lidera em adoração a Bael) e tentar esconder a qualquer custo de seu filho mais velho, Raúl, as reais circunstâncias da morte de sua mãe… e ele fala continuamente a respeito de como “foi ele quem fez o maior sacrifício”. Macabro, obcecado e poderoso, Enrique de Martino é um protagonista diferente do que o que estamos habituados a assistir em novelas mexicanas.

Devo dizer que toda a história do jantar ao qual ele convida Beatriz acaba sendo uma sacada inteligente… Enrique consegue que ela aceite o seu convite depois de ele ser muito legal com o Juanito, com toda a questão do álbum de figurinhas e o vídeo de uns jogadores de futebol, mas ela aceita o convite sob a condição de que “ele adivinhe seu lugar favorito” – eu achei que ele fosse ter uma ajuda sobrenatural ou mesmo de Vicky para escolher um restaurante ou algo assim, mas Enrique de Martino é astuto o suficiente e surpreende ao levar Beatriz para jantar na própria casa dela… com uma ajudinha de Vicky, Enrique enviou os seus chefs de cozinha favoritos para preparar o jantar, e Vicky e Juanito estão convidados. Todos os detalhes foram mesmo muito bem pensados…

Ali, Enrique realmente conseguiu chamar a atenção de Beatriz.

Quer dizer, eu mesmo já falei várias vezes sobre como ele é um tanto assustador e como a aproximação começa de maneira quase não-natural, mas esse é o primeiro momento em que, no lugar de Beatriz, eu teria verdadeiramente me emocionado: e eu acho que também tem o mesmo efeito sobre ela porque, mais tarde, ela diz à tia que tem medo de se apaixonar por Enrique. O jantar é um gesto bonito e Enrique se mostra galanteador durante toda a noite, com o apoio de Vicky e de Juanito, que eventualmente os deixam sozinhos para que eles possam conversar… a despedida, no entanto, traz um pequeno aceno ao sinistro, nos lembrando o quanto Enrique de Martino sabe ser macabro. Afinal de contas, ele nem está sozinho em seu corpo…

Duas cenas me chamam a atenção: primeiro, a maneira como ele se despede de Juanito dizendo que “promete que não é a última vez que vão se ver”; depois, quando a voz de Bael fala em sua cabeça, dizendo que ele não precisa dos filhos e que “não o decepcione”, o que nos leva a crer que Bael já escolheu Juanito como o sucessor de Enrique. De todo modo, em parte ainda existe um desejo de Enrique de que um de seus filhos seja o seu sucessor, e é por isso que ele quer tanto trazer Raúl, o seu primogênito, para a organização – e quando Raúl decide, em uma “conversa” com a mãe, deixar o passado para trás e seguir em frente, Jorge e Enrique acreditam que esse momento chegou… ao mesmo tempo, no entanto, Raúl sente que ele não é como o pai e o irmão.

Tudo gira em torno da morte de Nora – e como isso afetou Raúl para sempre. Ele não se lembra da morte da mãe em si, tampouco consegue se lembrar da última vez que a viu, mas um conselho de Gerardo sobre “abrir as portas de sua mente” parece deixar escapar, em um pesadelo, fragmentos de uma memória na qual Nora está fugindo de alguém que a persegue… na manhã seguinte, Raúl está profundamente atormentado, dizendo ao pai que “está ficando louco”, e embora Enrique tente convencê-lo de que foi apenas um pesadelo, Raúl sabe que é mais do que isso… ele sabe que tem a ver com uma porta fechada em sua mente que está se abrindo. Ele se pergunta se é essa porta que ele fechou em sua mente que faz com que ele sinta tanto medo o tempo todo.

Furioso ao saber dos “conselhos” de Gerardo, Enrique o confronta, e Gerardo tenta convencê-lo de que talvez Raúl esteja finalmente pronto para “enfrentar a verdade”, porque ele viu o que aconteceu, e ele precisa passar por isso para se tornar forte e ser o sucessor de Enrique, se é o que ele quer… Enrique, no entanto, não acha que o filho esteja “pronto para se lembrar”, e ele não quer que os filhos saibam que a morte de Nora não foi um suicídio – especialmente o Raúl. Todo o diálogo é curioso, e traz também algumas informações sobre como a relação de Enrique e de Bael está “mudando”: houve um tempo em que ele não sabia muito bem onde ele terminava e onde Bael começava, mas, aparentemente, agora ele se sente cada vez mais leve… mais livre.

Gerardo explica a Enrique sobre a unidade com o demônio, sobre como é o seu corpo que permite que Bael sinta todas as experiências que esse mundo pode oferecer, e Enrique fala sobre as suas diferentes percepções… sobre como, durante muito tempo, ele se sentiu como uma mera testemunha das ações de Bael, como se o demônio estivesse o empurrando e o conduzindo, mas essa sensação está cada vez mais fraca de uns tempos para cá, quase como se Bael já não estivesse mais presente. Então, Gerardo explica: ESSE PODE SER UM SINAL DA SUCESSÃO. Nesse caso, Bael pode estar querendo um novo corpo e, assim, ele vai guiar Enrique de Martino até ele… Gerardo acredita que pode ser um dos filhos de Enrique. Mas nós sabemos que não é.

É Juanito.

Por algum motivo, ele foi escolhido.

 

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