3 Body Problem (O Problema dos 3 Corpos) 1x03 – Destroyer of Worlds
San-Ti.
Assistir a
essa adaptação de “O Problema dos Três
Corpos” tem sido uma experiência curiosa e contraditória para mim –
visualmente é incrível, e os conceitos são interessantes, mas eu sinto que eu
estaria muito mais alucinado com a série
se eu não tivesse lido o livro. Ironicamente, eu sinto que o livro de Cixin Liu
é muito mais imersivo, nos colocando
no lugar daqueles personagens que não
sabem o que está acontecendo e que estão resolvendo os mistérios aos
poucos, enquanto a série tem uma ânsia de explicar
tudo depressa, o que eu acho que é reflexo de uma audiência que quer
respostas imediatas, e que não combinam com qualquer tipo de narrativa… você não precisa entender tudo com três
episódios de uma temporada que tem oito episódios no total.
Está tudo
bem tomar seu tempo, desenvolver aos poucos, manter o mistério.
(Por isso
tanta gente desgosta de “Lost” e ela
é, para mim, uma das melhores coisas do mundo!)
Se toda a
trama dos Trissolarianos (chamados na série de San-Ti, aparentemente) foi
apressada em sua apresentação, eu acho que o jogo “Três Corpos” foi o que mais
sofreu. Visualmente, o jogo é INCRÍVEL, e traz muitas das coisas que eu queria
ver e que me deixaram empolgadíssimo quando li o livro. Por outro lado, eu
sinto que as coisas se movem excessivamente depressa. Mais do que uma questão
de tempo, eu acho que é uma escolha criativa que priva a audiência da
experiência de tentar resolver os enigmas
por si só – com as partidas “resumidas”, Jin Cheng traz respostas prontas e
mastigadas para o público, sem que possamos acompanhar o processo que levou a tais respostas, então tudo parece, sim,
bastante claro… mas, ao mesmo tempo, bastante simples.
Há públicos
e públicos… particularmente, eu não sou do público aficionado por respostas
mastigadas, e gosto quando as obras não subestimam a inteligência da audiência.
Sinto falta da tensão, das teorias e da expectativa que engrandecem o momento das revelações, quando todo o Problema dos
Três Corpos é mencionado e explicado, e na série ele não chega a vir como uma
“solução” ao mistério do jogo… faz mais parte da premissa da série e
apresentado como isso. Quando Jin Cheng joga o Nível 2, ela já chega com a resposta pronta em relação ao
movimento dos sóis no jogo – o que, sem o desenvolvimento necessário, parece
sem profundidade. A série NÃO DÁ material o suficiente para que essa
possibilidade seja levantada pela audiência e, portanto, é menos satisfatório
do que o esperado.
Tentando
deixar isso de lado (porque percebo agora que pode parecer que eu não estou
gostando da série, e não é isso: eu estou gostando e muito!), Jin Cheng joga o
Nível 2, no qual anuncia o sistema estelar instável com três sóis, cujos
movimentos a física é incapaz de prever, e então ela avança, com Jack Rooney,
para o Nível 3, no qual um exército de 30
milhões de soldados em formação de computador tenta prever, com cálculos,
as próximas Eras Caóticas e Eras Estáveis (é muito, muito rápido, diga-se de
passagem). Sabendo que aquilo é impossível e que não há solução para o Problema
dos 3 Corpos, Jin Cheng acelera o tempo para mostrar que a tal “Era Estável” que
estava apenas começando não duraria por tantos anos quanto tinha sido prevista…
A civilização é exterminada em uma sizígia
trissolar.
(Inclusive,
uma das cenas que eu mais estava ansioso para ver!)
O Nível 3 é
essencial para definir uma coisa de uma vez por todas: NÃO HÁ COMO PREVER ERAS
CAÓTICAS E ERAS ESTÁVEIS. Portanto, o objetivo do jogo não é desvendar o enigma do movimento do sol (ou
dos sóis), no fim das contas… mas salvar a população do planeta. Com essa
percepção, Jin Cheng chega ao Nível 4 do “Três Corpos”, é convocada para uma
reunião presencial e então encerramos toda essa parte do jogo. Quando entra no
“Três Corpos” novamente, Jin Cheng não tem muito o que fazer, apenas conhecer: ela se vê em um deserto
desolado que é o que sobrou do planeta depois de milhares de civilizações serem
exterminadas de diferentes maneiras, naquele sistema estelar instável com três
sóis: não há salvação para o planeta…
E eles precisam de um novo lar.
“Destroyer of Worlds” é o episódio no
qual todo o básico da premissa da trilogia de Cixin Liu é escancarado e
esmiuçado. Jin Cheng e Jack Rooney descobrem que o que estão jogando não é
meramente “um videogame”, mas uma representação de um planeta real, a
aproximadamente quatro anos-luz de distância, que é parte de um sistema estelar
instável com três sóis – e que, portanto, está procurando um novo lar porque não há como sobreviver sendo incapaz de prever a
próxima Era Estável… e uma frota imensa de naves já foi lançada ao espaço, rumo
ao planeta que fez um convite a eles.
Há muitos anos, na Base Costa Vermelha, Ye Wenjie fez um convite a alienígenas
com quem entrou em contato… e, agora, eles estão rumando para a Terra em busca
de onde viver.
Antes de
encerrar a review, eu preciso fazer um comentário de comparação entre a série e
o livro, por mais que eu gostaria de reduzi-los: o conceito por trás do jogo
tem algumas mudanças. Nesse caso, não acho que tenham sido mudanças ruins, apenas geraram diferenças. Enquanto na série é preciso
se ter um “convite” para entrar no jogo e exista toda essa coisa de os
jogadores “estarem sendo lidos” enquanto jogam, no livro é muito mais simples…
e, ironicamente, mais complexo. No livro, o jogo “Três Corpos” é livre para ser
jogado por quem chegar até o seu site, mas o jogo acaba não gerando interesse em muita gente, ao mesmo tempo em que gera um
fascínio em cientistas como Wang Miao, que se sentem tentados a resolver o mistério por trás do jogo…
Essa escolha
pessoal que o aproxima do jogo me encanta.
Essa curiosidade nata. Essa vontade de encontrar
respostas, resolver problemas.
Como o
suspense, o mistério e a filosofia são diminuídos em “3 Body Problem”, em comparação ao material-base, eu acho que a
série deve entrar em uma fase de mais
ação de agora em diante. Afinal de contas, os San-Ti já foram oficialmente
apresentados, e já se sabe que eles estão vindo rumo à Terra, embora ainda
falte muitos anos até a sua chegada… e a série também já deixa claro que não se deve confiar nesses visitantes –
se não bastasse a “sabotagem” a cientistas com a contagem regressiva que estava
fazendo pessoas no mundo todo cancelarem suas pesquisas ou tirarem a própria
vida, ainda temos uma manifestação alienígena na forma da garota que falou com
Auggie no primeiro episódio e que recrutou Jin Cheng aqui… e que matou Jack Rooney quando ele quis sair.
O perigo é
evidente.
O que vem
pela frente?
Para mais reviews da série “3 Body Problem”, clique
aqui.
Para ler minha review do livro “O Problema dos Três Corpos”, clique
aqui.
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