Primeiro Capítulo de “Alma Gêmea” (20 de junho de 2005)

 

“Diz a lenda que cada um de nós procura a sua alma gêmea, para se unir a ela e os dois se transformarem novamente em um só corpo”

“Luna, você é a minha alma gêmea”

 

UM PRIMEIRO CAPÍTULO IMPECÁVEL! Romântico, divertido e, acima de tudo, envolvente, “Alma Gêmea” tem uma estreia fenomenal que, mais uma vez, nos mostra como o Walcyr Carrasco sabe fazer novela e sabe prender o seu público! Com um necessário ritmo rápido, o primeiro capítulo se sai muito bem apresentando os pontos importantes da novela, como o conceito de “almas gêmeas”, o amor de Rafael e Luna, a exacerbada inveja de Cristina e a traumática morte de Luna, que resultará em uma reencarnação rápida. Concebido quase como um conto de fadas, o romance perfeito não encontra problemas ou barreiras concretas – até o momento em que Luna é interceptada do lado de fora do teatro, na fatídica noite de sua estreia como primeira bailarina.

O capítulo começa nos apresentando brevemente a Roseiral, no dia da tradicional Festa da Rosa. Rafael, o mais importante produtor de rosas da cidade, é um jovem devoto que, a cada ano, colhe pessoalmente flores de seu próprio roseiral para levar à santinha, e é durante uma oração à Nossa Senhora da Rosa Mística que ele conhece Luna, em um momento dramático e impactante, que ficará marcado para sempre – como se fosse o destino. Rafael está orando em voz alta, falando sobre como se sente sozinho, e então Luna parece se assustar e, na tentativa de sair dali depressa, seu véu esbarra nas velas acesas, pega fogo e Rafael age depressa tirando o véu de sua cabeça e salvando a sua vida… então, ela sai correndo, e ele sai atrás, com o véu na mão, buscando por ela.

Assim como o príncipe com o sapatinho de cristal da Cinderela.

Enquanto isso, também conhecemos Cristina, uma jovem ambiciosa e já obcecada por Rafael. Ela faz questão de jogar uma rosa em suas mãos de dentro de um carro no desfile da cidade, e não tira os olhos dele quando é coroada rainha na Festa da Rosa – além disso, ela tem a pressão constante da mãe, Débora, que quer que ela se case logo com Rafael, porque ele é rico. Em seu mundo de fantasia, Cristina até acredita que Rafael está olhando de volta para ela e que vai dar algum passo importante naquela noite, mas quando sua prima Luna aparece na Festa da Rosa, Rafael só tem olhos para ela… e no momento em que Rafael para ao lado de Cristina para chamar Luna para dançar, nasce irrevogavelmente o ódio por Luna, como fruto da sua frustração e humilhação.

Acompanhamos a maneira como Luna e Rafael se apaixonam depressa, naquele momento em que estão dançando, conversando e sorrindo. Enquanto Cristina remói a maneira como “Luna estragou tudo” porque “parece que ela enfeitiçou o Rafael”, Luna e Rafael se sentam para conversar em um banquinho romântico do lado de fora, com a lua ao fundo, e ali eles falam seus nomes, falam sobre os pedidos feitos à Nossa Senhora da Rosa Mística, e se beijam pela primeira vez. Pouco tempo depois, eles estão anunciando o casamento, que algumas pessoas podem até achar precipitado (especialmente Cristina, cuja inveja a corrompe), mas eles não têm nenhuma dúvida sobre o amor que sentem um pelo outro… eles têm certeza de que encontraram sua alma gêmea.

Rafael entrega a Luna um anel de noivado na estufa que é seu local de trabalho e seu lugar favorito no mundo, o que é muito simbólico – é curioso ver a relação de Rafael com a estufa no primeiro capítulo de “Alma Gêmea”, antes que ele sinta que a vida lhe tirou tudo… naquele momento, ele sente que trabalhar com rosas é trabalhar com a vida, e ele é um jovem empolgado que cria novas variações de rosas e ama o que faz. Acompanhamos, em flashes rápidos conforme o tempo passa e o amor deles cresce, o casamento de Rafael e Luna, os dois correndo juntos no roseiral quando ela conta sobre a gravidez, o nascimento do bebê e o batizado de Felipe… se a vida de Rafael e Luna fosse um conto de fadas, eles teriam encontrado o seu “felizes para sempre”.

Mas não é um conto de fadas, no fim das contas.

Débora consegue convencer Luna a colocar Cristina dentro da casa, para trabalhar como governanta… Luna até diz que gosta de cuidar de sua própria casa, mas ela de fato tem mais responsabilidades, agora com o bebê, e não pretende largar a dança, que é uma de suas paixões – então, ela resolve aceitar a proposta da tia. Quando Débora anuncia a Cristina, no entanto, ela se sente ultrajada, diz que jamais trabalharia como governanta, ainda mais naquela casa, porque ela odeia a Luna e sempre amou e desejou o Rafael, mas a mãe a convence de que trabalhar lá é a sua única chance: a casa é bem frequentada, Rafael tem amigos importantes, e talvez ela possa conseguir um bom partido. Cristina resolve aceitar, então, o que não quer dizer que está feliz com isso.

Uma das cenas mais emblemáticas desse primeiro capítulo começam quando, realizado, Rafael celebra que finalmente conseguiu criar uma nova variedade de rosas, em homenagem à Luna – “Consegui! Branca como o luar, é a rosa que eu criei para ela, para a minha amada”. Satisfeito, Rafael leva a esposa de olhos fechados até a estufa, onde a apresenta para a Rosa Luna, uma linda rosa branca que é supostamente uma “nova variação” de rosas… ele conta sobre como a criou especialmente para ela, e como pretende levá-la naquele dia tão especial para Luna, em que ela se apresentará como primeira bailarina. Antes de Luna deixar a estufa, no entanto, ela espeta o dedo no espinho da nova rosa e o sangue pinga sobre suas pétalas brancas, e ela fala sobre como sentiu um calafrio e acha que aquele foi um sinal…

E de fato o foi.

Naquele mesmo dia, Adelaide, a avó de Luna e Cristina, presenteia Luna com as joias da família – joias que foram passadas de geração a geração, que têm um valor inestimável e que agora são dadas de presente à neta que teve o primeiro filho, como ela planejara que faria. Joias que desempenharão um papel importante na trama de “Alma Gêmea”, porque Cristina tem duas obsessões na vida: 1) o Rafael; e 2) as joias da família. Enquanto Cristina é consumida pela inveja, Luna diz que “já tem tanto”, mas a avó já decidiu que quer que as joias sejam dela, e também quer que a neta use as joias da família naquela noite, depois de sua apresentação como primeira bailarina em um teatro de São Paulo, quando for cumprimentar os convidados e na festa mais tarde.

Esse é um momento importantíssimo da trama e da construção da personagem de Cristina, porque é o momento em que a inveja definitivamente toma conta dela: Luna já roubara seu sonho de se casar com Rafael, e agora ainda ficara com as joias da família. Em uma cena intensa, Cristina está furiosa em seu quarto quando diz que “queria ter a vida de Luna” e “queria o Rafael” – “Eu faria qualquer coisa para ter aquele homem. Eu daria a minha alma ao diabo para ter o Rafael”. Ao dizer isso, um vento súbito apaga as velas do quarto, Cristina sente um tremor e Débora se levanta para fechar as janelas, advertindo a filha: “Não faça promessas ao diabo. Ele pode aceitar”. Mas já é tarde demais. E, agora, Cristina já tem um plano para roubar as joias de Luna.

Com a ajuda de Guto.

A sequência final do primeiro capítulo de “Alma Gêmea” se passa na noite da apresentação de Luna. Depois de toda a felicidade do sucesso de sua apresentação, os aplausos, as rosas que Rafael leva de presente para ela, as fotos nos bastidores, Luna é assaltada do lado de fora do teatro, por um homem mascarado, o próprio Guto, que quer levar as suas joias. E vou dizer algo polêmico nesse momento: em parte, a morte de Luna é culpa de Rafael… se ele não tivesse se metido no meio para enfrentar o Guto e tentar pegar as joias de volta, talvez nenhum tiro tivesse sido disparado, porque Guto não estava instruído a matar Luna. De todo modo, alguns tiros são disparados, acertando convidados de maneira não letal, e um último tiro, mirado em Rafael, acerta Luna, que pula para protegê-lo.

Toda a sequência da morte de Luna é ICÔNICA. Ela é levada às pressas para um hospital para fazer uma cirurgia e retirar a bala, mas ela de fato morre… vemos a sua alma saindo de seu corpo e se afastando, enquanto o Rafael, desesperado, se curva sobre o corpo e pede que ela não vá, que não o deixe, dizendo que a ama – “Não vai, meu amor. Não! Volta, Luna!”. Luna tem uma cena linda na qual ela está fazendo a sua passagem e sua alma está prestes a encontrar a paz, quando um último grito desesperado de Rafael – “VOLTAAAAAAAA!” – faz com que tudo se dissolva ao seu redor, e seu espírito se vê em um labirinto de escadas infinitas do qual ela não consegue escapar, e então cai de volta na Terra, reencarnando em um bebê em uma aldeia indígena que acaba de nascer…

Um capítulo espetacular!

E, assim, começamos “Alma Gêmea”.

 

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