Sandman, Volume 2 – Casa de Bonecas (Parte 4)

Uma das edições mais emocionantes de “Sandman”

Eu ainda não sei o que virá a seguir em “Casa de Bonecas”, mas eu estou inclinadíssimo a dizer que “Homens de Boa Fortuna” é a MELHOR EDIÇÃO DESSE ARCO. Eu gosto dessas histórias “paralelas”, desses contos do Senhor do Sonho, que nos mostram um pouco do que é a sua vida, do que ele faz quando não está fazendo coisas grandes como ir atrás de sua algibeira roubada e vendida há tanto tempo ou do irmão de Rose Walker… aqui, temos apenas Sandman, e a sua vida como um Perpétuo. Essa edição, simbólica, inteligente e sensível, me remeteu bastante a “O Som de Suas Asas”, e eu acho que é o melhor tipo de história que Neil Gaiman contou até agora… mas eu também sei que toda a história de “Sandman” ainda está bem no começo… que ainda tem muita coisa a acontecer, muitos novos estilos e caminhos para experimentar.

Nessa edição, Sonho e Morte entram em uma taverna séculos atrás para “observar” alguns humanos, e se interessam pelo discurso de Hob Gadling, que acha a Morte uma “bobagem sem sentido” – para ele, não há motivo para morrer, e ele até acredita que as pessoas só fazem isso para imitar umas às outras. Assim, ele diz para os amigos, que escutam tudo com risadas, que “ele decidiu que não vai morrer”, e os Perpétuos ali presentes resolvem ver aonde isso vai dar… Sonho convence a irmã a deixar Hob Gadling vivo, e faz um acordo com o homem: estará de volta, daqui exatos 100 anos, naquela mesma taverna, para encontrá-lo novamente e saber o que ele pensa sobre a vida que está levando e se continuará pensando da mesma forma que pensa agora. E o homem, convencido de que estará vivo, aceita o seu acordo: estará ali em 100 anos.

100 anos depois, então, Sonho aparece para conversar com Hob Gadling e saber como foi sua vida, e escuta com interesse a tudo o que ele fez… seus investimentos, seus trabalhos, e ao longo de séculos, ele vê a ascensão e a ruína desse homem. Às vezes 100 anos em que viveu muito bem, teve “boa fortuna”, casou-se e teve um filho, às vezes 100 anos em que as coisas deram errado, ele ficou pobre, passou fome, mas nada o faz mudar de opinião a respeito da Morte: ele continua achando uma bobagem, e ele continua não querendo morrer. O homem, que agora é chamado de Sir Robert Gadlen, acredita que as pessoas não mudam suas opiniões ao longo do tempo, não sobre coisas realmente importante… não suas crenças mais enraizadas, como é o seu caso. E embora Sonho talvez nunca realmente diga isso em voz alta, isso causa certa admiração.

Ao longo desse tempo, pode-se dizer que Sonho e Robert passam por “algumas coisas” juntos… Robert, por exemplo, é uma espécie de conselheiro para William Shakespeare, um ator com sonhos de ser um escritor, mas sem muito talento, com quem Sonho acaba fazendo uma espécie de pacto (!), ou ainda a Lady Johanna Constantine, que os prende em uma armadilha (“Há uma lenda nestas partes de Londres que diz que o demônio e o judeu errante encontram-se numa taverna uma vez a cada século”) porque está curiosa com essa história dos homens que se encontram ali uma vez a cada 100 anos… e eu achei interessantíssimas as conversas que eles tiveram a cada encontro, e desejei que Neil Gaiman pudesse ter feito dessa uma edição longa como a próxima, porque era um à parte interessante que eu queria mesmo acompanhar… que eu estava amando o tempo todo!

No penúltimo encontro que acompanhamos dos dois, Robert comenta com Sonho que percebeu o motivo de ele vir encontrá-lo toda vez… não é porque espera que ele mude de ideia em relação à Morte, porque já sabe que isso não vai acontecer, mas por amizade – porque Sonho é um ser solitário que anseia por essa companhia, por essa conversa. E é claro que Sonho refuta essa ideia imediatamente, diz que é um absurdo pensar que ele se tornaria amigo de um mortal e que “alguém se sua linhagem precisaria de companhia”, e ele sai furioso, mas Robert diz que, se em 100 anos ele estiver ali novamente, é porque eles são amigos… e, em um momento singelo e tocante, Sonho está lá de volta, 100 anos depois, e quando Robert diz que não tinha certeza se ele viria, Sonho responde que “sempre ouviu dizer que é falta de cortesia fazer um amigo esperar”.

Sei lá, eu achei tão emocionante.

Essa edição me fez muito bem! Tocante, bela.

Amei, do início ao fim!

 

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