Uma das edições mais emocionantes de “Sandman”
Eu ainda não
sei o que virá a seguir em
“Casa de
Bonecas”, mas eu estou inclinadíssimo a dizer que
“Homens de Boa Fortuna” é a MELHOR EDIÇÃO DESSE ARCO. Eu gosto
dessas histórias “paralelas”, desses contos do Senhor do Sonho, que nos mostram
um pouco do que é a sua vida, do que ele faz quando não está fazendo coisas
grandes como ir atrás de sua algibeira roubada e vendida há tanto tempo ou do
irmão de Rose Walker… aqui, temos apenas Sandman, e a sua vida como um
Perpétuo. Essa edição, simbólica, inteligente e sensível, me remeteu bastante a
“O Som de Suas Asas”, e eu acho que é
o melhor tipo de história que Neil Gaiman contou até agora…
mas eu também sei que toda a história de
“Sandman” ainda está bem no começo… que ainda tem muita coisa a acontecer,
muitos novos estilos e caminhos para experimentar.
Nessa
edição, Sonho e Morte entram em uma taverna séculos atrás para “observar”
alguns humanos, e se interessam pelo discurso de Hob Gadling, que acha a Morte
uma “bobagem sem sentido” – para ele, não há motivo para morrer, e ele até
acredita que
as pessoas só fazem isso
para imitar umas às outras. Assim, ele diz para os amigos, que escutam tudo
com risadas, que “ele decidiu que não vai morrer”, e os Perpétuos ali presentes
resolvem
ver aonde isso vai dar…
Sonho convence a irmã a deixar Hob Gadling vivo, e faz um acordo com o homem:
estará de volta, daqui exatos 100 anos,
naquela mesma taverna, para encontrá-lo novamente e saber o que ele pensa sobre
a vida que está levando e se continuará pensando da mesma forma que pensa
agora. E o homem, convencido de que estará vivo, aceita o seu acordo:
estará ali em 100 anos.
100 anos
depois, então, Sonho aparece para conversar com Hob Gadling e saber como foi
sua vida, e escuta com interesse a tudo o que ele fez… seus investimentos, seus
trabalhos, e ao longo de séculos, ele vê a ascensão e a ruína desse homem. Às
vezes 100 anos em que viveu muito bem, teve “boa fortuna”, casou-se e teve um
filho, às vezes 100 anos em que as coisas deram errado, ele ficou pobre, passou
fome, mas nada o faz mudar de opinião a respeito da Morte:
ele continua achando uma bobagem, e ele continua não querendo morrer.
O homem, que agora é chamado de Sir Robert Gadlen, acredita que as pessoas não
mudam suas opiniões ao longo do tempo, não sobre coisas realmente importante…
não suas crenças mais enraizadas, como é o
seu caso. E embora Sonho talvez nunca realmente diga isso em voz alta, isso
causa certa admiração.
Ao longo
desse tempo, pode-se dizer que Sonho e Robert passam por “algumas coisas”
juntos… Robert, por exemplo, é uma espécie de conselheiro para William
Shakespeare, um ator com sonhos de ser um escritor, mas sem muito talento, com
quem Sonho acaba fazendo uma espécie de pacto (!), ou ainda a Lady Johanna
Constantine, que os
prende em uma
armadilha (
“Há uma lenda nestas partes de
Londres que diz que o demônio e o judeu errante encontram-se numa taverna uma
vez a cada século”) porque está curiosa com essa história dos homens que se
encontram ali uma vez a cada 100 anos… e eu achei interessantíssimas as
conversas que eles tiveram a cada encontro, e desejei que Neil Gaiman pudesse
ter feito dessa uma edição longa como a próxima, porque era um
à parte interessante que eu queria mesmo
acompanhar… que eu estava amando o tempo todo!
No penúltimo
encontro que acompanhamos dos dois, Robert comenta com Sonho que percebeu o
motivo de ele vir encontrá-lo toda vez… não é porque espera que ele mude de
ideia em relação à Morte, porque já sabe que isso não vai acontecer, mas por
amizade – porque Sonho é um ser
solitário que anseia por essa companhia, por essa conversa. E é claro que Sonho
refuta essa ideia imediatamente, diz que é um absurdo pensar que ele se
tornaria amigo de um mortal e que “alguém se sua linhagem precisaria de
companhia”, e ele sai furioso, mas Robert diz que, se em 100 anos ele estiver
ali novamente,
é porque eles são amigos…
e, em um momento singelo e tocante, Sonho está lá de volta, 100 anos depois, e
quando Robert diz que
não tinha certeza
se ele viria, Sonho responde que “sempre ouviu dizer que é falta de
cortesia fazer um
amigo esperar”.
Sei lá, eu
achei tão emocionante.
Essa edição
me fez muito bem! Tocante, bela.
Amei, do
início ao fim!
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