Vale o Piloto? – You 1x01
“It’s okay, Beck”
FOI O PILOTO
MAIS ENVOLVENTE QUE EU ASSISTI NOS ÚLTIMOS MESES! Algo me chamou a atenção
quando eu li a sinopse e assisti ao trailer de “You”, então eu assisti ao primeiro episódio, e percebo que é uma
série fantástica, astuta, precisa! A série, classificada como “suspense
psicológico”, traz Joe Goldberg, um stalker
que persegue Beck depois de conhecê-la na livraria. E o episódio é capaz de fazer
tudo o que o gênero exige, nos
envolvendo e nos perturbando continuamente – mas, de alguma forma doentia, nós
estamos vidrados e não podemos deixar de querer
mais. “You” é inteligentíssima na
sua escolha de elenco e nas atuações brilhantes dos protagonistas, na trilha
sonora calma, macabra e instigante, e na direção que coloca as narrações de Joe
“conversando” com Beck a todo momento, permitindo que o conheçamos melhor.
E conhecê-lo
é uma perturbação…
Joe é um
personagem complexo, e pode ser que estejamos fadados a nos apaixonar por um
psicopata, como foi com Dexter, no passado, ou com Norman Bates. Joe Goldberg é
LOUCO, isso é evidente continuamente, mas ele interpreta tão bem quando está ao lado de Beck ou de Paco (!) que é capaz de
nos envolver e quase nos enganar,
mesmo a nós, que estamos o tempo todo dentro de sua mente, ouvindo seus
pensamentos mais sombrios e assustadores. Então, ao mesmo tempo que sabemos que
ele é um cara PERIGOSO e capaz de tudo, nós também nos perguntamos como ele
pode ser tão adorável com Paco, por exemplo, o garoto que é seu vizinho e tem sérios problemas dentro de casa, ouvindo
a mãe brigar continuamente com o namorado, ou transar com ele… ele se refugia
do lado de fora, com um livro em mãos, um livro trazido por Joe.
A série começa
na livraria, e aquela primeira cena dita muito bem o tom do PILOTO,
colocando-nos dentro desse universo e da vibe
de Joe. E o mais interessante é que a série o tempo todo nos convida a
abstrair-nos das narrações de Joe e ver as coisas do ponto de vista de Beck – e
a verdade é que, no lugar de Beck, estaríamos nos envolvendo da mesma maneira. Por outro lado, a trilha sonora
baixa e misteriosa dando lugar aos pensamentos de Joe evidencia o quanto ele é assustador. O quanto percebe tudo, cada
pequeno detalhe, como um STALKER profissional… o fato de ela não estar usando
sutiã e querer que ele note, por
exemplo, ou como ela tem dinheiro para pagar o livro, mas escolhe usar o cartão
porque quer que ele saiba o seu nome…
e tudo isso vai criando uma TENSÃO imensa que, desde a primeira cena, me deixou
sem fôlego.
Então, Joe segue Beck, começando pelas redes
sociais. “Every account set to public. You want
to be seen. Heard. Known”. Ele olha as suas fotos, conhece suas amigas, sua
vida fajuta na internet, consegue o seu endereço… e então a observa mais de
perto agora, do lado de fora de suas janelas imensas e sem cortinas, na frente
das quais ela desfila só de toalha… ela
quer ser vista, segundo ele. Joe a segue a todo lugar. Conhece toda a sua
rotina, seus horários – quando ela sai com as amigas, ele também está no bar,
observando discretamente e ouvindo todas as conversas… usando isso para
conhecê-la ainda melhor. E então as
coisas dão uma guinada significativa quando Joe vê Beck receber alguém em sua
casa, um cara qualquer: “Uh, Beck, who
the fuck is this?” O cara é Benjamin J. Ashby III, como Joe rapidamente
descobre, “um cara com quem Beck dorme”.
E eu devo
dizer… o odiei desde o primeiro momento.
Por isso a
série é inteligente! Ela não nos faz ODIAR Joe. Nós o tememos, nós percebemos o
quanto ele é perturbado, mas de algum
modo não o odiamos – talvez seja o paralelo com as cenas do Paco. Já “Benji”,
como Joe passa a chamá-lo, é mesmo um homem desprezível. Só se importa consigo
mesmo na hora do sexo, ainda fala dos “quilos a mais” de Beck antes de ir
embora e, mentalmente, eu dei a Joe a
autorização para tirá-lo do caminho. Ao mesmo tempo, no entanto, Joe está
sempre nos lembrando o quanto ele é problemático,
enquanto assiste a Beck se masturbar depois de Benji ir embora, por exemplo, e
se imagina naquele sofá com ela, também se masturbando, pelo menos até que uma
velha qualquer saia do prédio do qual ele está na frente e ele precise ajudá-la
e tudo o mais… então, ele acaba indo
embora.
Mas quando
ele está no corredor do seu apartamento, conversando com Paco, ele parece um cara bom. Na primeira vez
que o vemos com Paco, a mãe dele está brigando aos gritos com o namorado, e ele
está do lado de fora lendo. Joe conversa com ele, fala para avisá-lo quando
terminar, “que ele trará outro”, e oferece a comida que era a única que ele
tinha – foi uma boa atitude. Depois, na segunda cena, Paco está do lado de
fora, quase terminando de ler o livro, e ele pode ouvir a mãe e o cara
transando do lado de dentro – então, quando Paco pergunta se pode ir à livraria
buscar outro, mesmo que seja tarde, Joe acaba o levando até lá, e isso mostra
que ele é um bom “amigo” para o Paco.
E É JUSTAMENTE ISSO QUE NOS DIVIDE! Porque quase queremos gostar dele nesses momentos, mas ficamos nos lembrando do
quanto ele é louco…
E quando o
namorado da mãe de Paco quis brigar com ele…
Bem, minha listinha para Joe está crescendo.
Eventualmente,
Joe invade a casa de Becky com uma desculpa de “vazamento de gás”, e a cena faz
com que nos revoltemos contra ele novamente – mexendo em tudo e falando sobre
tudo o que “faria” se eles fossem casados, o tempo todo conversando com Beck. E, ali na sua casa, ele fuça o seu computador
e vê uma conversa com as amigas na qual ela fala sobre “o cara fofo da
livraria” e como “poderia namorar alguém que fosse bom para ela”. A ironia é
ALTÍSSIMA em toda essa sequência, quando Beck chega em casa e Joe se esconde no
banheiro, ouvindo-a chorar e falar com as amigas, fazendo comentários como “It’s okay, Beck” e “I guess we’re going to Greenpoint, Beck. I never go to
Greenpoint, but… the things you do for love, right?” Beck lê uma de suas poesias
no bar, mas é totalmente hostilizada, e ele “não pode assistir àquilo”, por
isso vai embora.
Mas na
estação de metrô quase vazia, ele acaba eventualmente encontrando Beck. E QUE
CENA!
“We're a
lot alike, Beck. Last of the true romantics. I was considering this with my new
friend, Mr... Homeless Guy, when the second luckiest thing this week happened.
Could it really be? It feels like I'm dreaming. I'm not. Beck, you're too drunk
to be alone. What if some sicko had followed you down here? And you're too
wasted to be standing so close to the tracks. Beck! Beck, stop texting that
arrogant club soda no-show shithead. You want Benji. You need Benji. You hold
that phone like it is Benji 'cause it's your only means to stay connected.
Forget Benji”
A cena é
angustiante! Beck derruba o celular nos trilhos do metrô, e então Joe precisa
salvar a sua vida. Tudo é ALUCINANTE, com o trem se aproximando, Joe na
beirada, oferecendo a mão para Beck, enquanto um mendigo grita sem parar. Tudo é angustiante, fez meu coração bater
mais rápido. Tendo salvado a sua vida, Joe ganhou mais um pontinho com
Beck, que diz que “não quer parecer uma stalker,
mas o conhece”. Quando está com ela, Joe interpreta lindamente, se torna fofo,
querido… eles quase se beijam no táxi de volta para casa, não fosse pela
aparição de Benji. E novamente nos questionamos a respeito de Joe, porque
quando ele deixa Beck em casa e volta para a sua própria, ele encontra Paco do
lado de fora do prédio, chorando,
esperando por ele, e é TÃO TRISTE. E Joe nos convence de que ele realmente se importa com Paco!
Eu, pelo
menos, acreditei nisso.
“What happened? Did he hurt you?”
Paco estava
chorando ao dizer que Ron chegou em casa bêbado, mas explica que Ron não tocou
nele, mas gritou e disse que “ele se sentia inteligente, com aquele livro na
mão”, e então arruinou o livro de Joe, aquele que ele confiara a Paco… ver o
Paco chorando por causa do livro do Joe
me partiu o coração, e Joe foi muito fofo, dizendo que não tinha problema,
levando-o de volta ao cofre no subsolo da livraria, para ensiná-lo a “consertar
o livro”, em uma cena que teria sido absolutamente fofa, se não estivesse
apresentada em paralelo com o doentio momento em que Joe atrai Benji para uma
armadilha, para aquele mesmo lugar, e onde o ataca com o mesmo martelinho que usou para fixar a nova
capa no livro que Ron arruinou… novamente,
um paralelo inteligente. A série me conquistou de primeira, com um Piloto
MUITO BEM ESCRITO!
Agora, Joe e
Becky têm um encontro.
E a tensão
está A MIL!
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