Sítio do Picapau Amarelo (2002) – Fábulas



“Voltamos diretamente do País das Fábulas…”
Eis aqui uma divertida adaptação de um livro de Monteiro Lobato. Confesso que a história não me fascina tanto quanto “Histórias de Tia Nastácia”, por exemplo, mas é uma gostosa brincadeira com a obra, original de 1922, e a época em que os episódios foram ao ar, em Junho de 2002, época de COPA DO MUNDO, o que pode ser notado através de comentários nos resumos e a “mesa redonda” para comentar as fábulas, o “FÁBULA NA REDE”. A grande diferença entre a obra adaptada e o livro original é que, em Monteiro Lobato, não apenas fábulas de LaFontaine foram utilizadas, mas também de Esopo… além disso, claro, a quantidade de fábulas encenadas, que é muito mais escassa, em comparação às 74 FÁBULAS comentadas, criticadas e revisitadas no livro de Monteiro Lobato. Mas a história é ágil e divertida, e o povo dá a sua carinha a ela.
Tudo começa porque a Emília está interessadíssima no caminhar das formigas, e as segue, de cabeça baixa, até o formigueiro, onde vê uma cigarra chegando para “pedir abrigo”, e se escandaliza quando percebe que elas mudaram a história. Diferente da história original de LaFontaine, aqui a formiga agradece a cigarra por ser uma boa vizinha e alegrar o seu trabalho com música, e a acolhe em sua casa – “A fábula não é assim! Eu já estive no País das Fábulas e sua história está toda errada!”, Emília protesta. Segundo a cigarra e a formiga, as fábulas mudam com o tempo, e encucada com essa ideia, ela resolve perguntar para a Dona Benta! Assim, começamos toda a jornada das FÁBULAS no Sítio do Picapau Amarelo. Dona Benta conta a história da “Formiga e a Mosca”, com direito a pipoca e tudo (“Meus parentes, coitadinhos! Que triste fim!”).
“Afinal, vó, o que é uma fábula?”
Aqui, Dona Benta explica que fábulas se tratam de histórias com uma lição de moral, o que Emília não gosta muito, pois, segundo ela, “Quem é que precisa de lição de moral?” (destaque para todos gritando juntos: “Você!”). Com a aproximação do fim da contagem de histórias, Emília tem uma ideia e deixa todo mundo alvoroçado, mas fingindo sono para poder ir logo para a cama, e como a Dona Benta diz: “Seria muito estranho se eu não conhecesse muito bem os meus netos!” Assim, enquanto eles pensam que “a vovó não sabe de nada”, ela vai colocá-los para dormir e deixar recadinhos e conselhos. Para o Pedrinho, ela diz: “Boa viagem, hein! E juízo!” Para a Narizinho e a Emília: “Olha, não esqueçam de dar um abraço meu ao La Fontaine”. E é isso mesmo, na manhã seguinte, eles fazem uma NOVA VIAGEM AO PAÍS DAS FÁBULAS.
O objetivo, agora, é outro: eles querem fazer um documentário com as fábulas de La Fontaine. Assim, a primeira a ser filmada é “A Gralha enfeitada com penas de Pavão”, com direito a claquete e tudo! Pedrinho é todo diretor, a Gralha fica nervosa porque, embora encene essa fábula todo dia, é diferente quando tem uma câmera apontada para ela, e La Fontaine adora toda a brincadeira, mas lamenta que não vá poder ver o resultado, porque não tem como assistir ali no País das Fábulas – mas não seja por isso! As crianças retornam ao Sítio e levam com eles o La Fontaine em pessoa! Assim, todos podem assistir JUNTOS às fábulas, fazer comentários, e tudo é bem divertido… amei as crianças bancando as repórteres, amei as discussões, e então eles estabelecem uma mesa redonda, que nomeiam FÁBULA NA REDE, formada com presenças ilustríssimas.
A próxima fábula é “A Assembleia dos Ratos”, cuja lição de moral é “Falar é fácil, o difícil é fazer!”, e o mais legal é aquilo que o “Sítio do Picapau Amarelo” sempre nos proporciona, que não é apenas as histórias contadas, mas as histórias para que possamos assistir. A próxima, “O Velho, o Menino e a Mula” (“Voltamos diretamente do País das Fábulas pra acompanhar uma história muito legal!”), é uma das minhas favoritas, com um povo palpiteiro fazendo comentários maldosos e o velho tentando agradar todo mundo, o que parece inconcebível! “Morre doido quem quer agradar todo mundo”. É uma das histórias mais legais e, decididamente, uma das melhores lições de moral – devemos fazer aquilo que nos parece mais certo, mas por nós mesmos e não pelos outros. Segundo Shakespeare: “Acima de tudo, sejas fiel a ti mesmo”. Ou, segundo a Emília: “Quero ser fiel a mim mesma… e que o mundo se vire”.
Outras histórias que acompanhamos são: “Pau de Dois Bicos”, com o morcego enganando tanto a coruja como o gato, em uma fábula que fala sobre a falsidade humana e sobre as pessoas que ficam mudando de acordo com aquilo que os convém no momento; a famosa “Rato do Campo e Rato da Cidade”, que mostra que independente de ser rico e ter uma toca com tudo o que podia querer, o Rato da Cidade não tem paz em nenhum momento de sua vida; e aquela do “Leão Arrogante”, que mostra a prepotência do leão, sentindo-se mais que todo mundo por ser “o rei da floresta”, bem como a prepotência da mosca, que pode desafiar o Leão sem ser atacada por ele, por causa de seu tamanho diminuto, mas que acaba pega por uma aranha em sua teia, o que certamente dá uma série de bons ensinamentos e comentários na “FÁBULA NA REDE”.
Antes que a história possa ter um fim, a Emília até se arrisca a contar uma fábula de autoria própria ao La Fontaine, embora seja uma mistura de coisas que ela já ouviu, mas é uma delícia, em se tratando de nossa bonequinha de pano favorita! Ela conta sobre duas panelas da cozinha da Tia Nastácia que decidem visitar a horta, uma de ferro e outra de barro, e quando a panela de ferro esbarra na outra e “acha que não é nada”, ela acaba quebrando a amiga. A lição? “Fé com fé, bá com bá”. Gostei muito das leituras sobre essa fábula, sobre a amizade, sobre ter a noção de que alguma coisa que não me machuca pode ser muito séria para outra pessoa, e é um assunto ainda muito atual. E depois disso, enquanto o Pedrinho e o Visconde tentam resolver o “misterioso” caso do Espantalho que ganhou vida e está atormentando a todos, o La Fontaine precisa partir…
Mas ele deixou muito conhecimento para trás!

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