A Favorita – O reencontro de Flora e Donatela

“No fundo a senhora sabe que o que eu digo faz sentido”

O fim do primeiro capítulo de “A Favorita” tem tudo o que o fim de um capítulo precisa ter: um gancho perfeito que não te deixa perder o capítulo seguinte… depois de 18 anos presa por assassinato, Flora está livre, disposta a provar sua inocência, e Donatela faz de tudo para prejudicá-la, para afastá-la de sua família e, principalmente, de sua filha. O primeiro capítulo é inteligente em apresentar ambas as protagonistas em separado, cada uma com sua versão da história, para que o público decida quem está dizendo a verdade e qual é a sua “favorita”, mas nós ficamos ansiosos pelo momento em que elas se encontrariam, em que elas se desafiariam… e eu me lembro que, em 2008, eram momentos assim que esperávamos em busca de qualquer dica que pudesse nos confirmar quem de fato estava dizendo a verdade… e é muito fácil a gente ficar contra a Donatela!

Enquanto Flora volta para casa durante a noite, Donatela a encontra no meio da rua, depois de ter recebido de Pedro, o pai de Flora (!), a dica sobre a sua localização… e então as duas se enfrentam depois de 18 anos, e Patrícia Pillar e Cláudia Raia, como sempre, arrasam! Podemos sentir o ódio que uma tem pela outra, e Donatela é quem ataca, é quem provoca… ela começa dizendo que Pedro não merece uma filha que lhe dê tanto desgosto, e Flora a acusa de ter comprado o seu pai, lhe dando dinheiro (e, mais tarde, parece que Donatela comprova isso quando Pedro está se sentindo um pouco mal com o retorno de Flora e com o fato de ele ter contado a Donatela onde ela estava, porque ela o acalma lhe dando mais presentes, uma televisão grandona… é uma sequência nojenta, se você me perguntar, e parece que Donatela tá comprando ele mesmo!).

As duas são muito intensas e ameaçadoras à sua maneira… nenhuma das duas parece completamente vilã ou completamente mocinha, o que é a ideia de “A Favorita” mesmo. Donatela, então, pergunta se Flora pretende continuar na cidade, dizendo que a vida de uma ex-presidiária é muito difícil, e oferece 200 mil dólares para Flora ir embora da cidade e nunca mais voltar. “Quem é que vai empregar uma ex-presidiária condenada por assassinato? Você não tem futuro”. Flora a manda para o inferno e, naquele momento, eu teria passado pano se Flora batesse em Donatela, digo mesmo… Flora ainda é mais humilhada quando descobre que os 600 reais que recebeu quando saiu da cadeia vieram dela: ela que deu a ideia ao Pedro de mandar esse dinheiro, e era um dinheiro de Donatela. As coisas ficam cada vez piores, e Flora pula para cima de Donatela…

Eu acho que eu teria feito o mesmo.

Donatela intensifica sua narrativa, então. Quando os seguranças se aproximam, Donatela fica dizendo que Flora a ameaçou de morte, enquanto Flora a chama de assassina, pelo crime de 18 anos antes… antes de ir embora, Donatela manda Flora ficar longe de Lara, diz que ela é sua filha, e então vai embora chutando as compras de Flora (!) e sendo debochada: “Ah, suas compras. Eu não vi”. Não era de se surpreender que uma grande parcela do público odiasse a Donatela – eu estou assistindo agora e ainda consigo sentir raiva dela! Donatela quer acabar com Flora de todas as maneiras, e a próxima coisa que ela faz é enviar uma infiltrada para dividir o quarto de pensão com Flora, e assim que Dinorá tem a oportunidade, ela rouba todo o dinheiro de Flora, o que quer dizer que ela fica sem dinheiro para pagar a diária e, consequentemente, é colocado na rua.

Uma grande aliada de Flora será Dona Irene, que sempre teve suas dúvidas em relação à história de Donatela, e que está muito mexida desde que Flora saiu da cadeia… quando Lara conversa sobre sua mãe biológica com Dona Irene, em dúvida sobre o que deve fazer, Dona Irene a aconselha a ver Flora, se ela a procurar, e ouvir o que ela tem a dizer. Lara, embora sem muita convicção, reproduz o discurso de Donatela e diz que não quer ver ou conhecer Flora e que, se ela a procurar, ela vai mandar que suma da sua vida para sempre. Mas ela tem uma vontade, uma curiosidade natural que está fazendo de tudo para esconder… interessada, Lara pergunta se Dona Irene acha que Flora pode lhe fazer algum mal, como Donatela diz, e Irene diz que não, que Flora é “uma pobre coitada”. Irene está inclinadíssima a facilitar o encontro de Flora e de Lara.

O marido é veementemente contra: “Irene, essa psicopata não vai ver a Lara. Eu não estou brincando!”

Sabendo que Dona Irene é quem ela consegue mais facilmente trazer para o seu lado, Flora a procura novamente. Irene a manda embora e deixá-la em paz, mas Flora insiste: “No fundo a senhora sabe que o que eu digo faz sentido”. Essa parte do texto me chamou muito a atenção, quando assisti novamente agora – embora não seja sempre, prestem atenção em quantas vezes Flora diz que a sua história “faz sentido”, enquanto a maioria das pessoas, nessa situação, diriam que “é verdade”. Talvez alguém inocente de fato reformularia essa frase para Dona Irene dizendo “No fundo a senhora sabe que o que eu digo é verdade”, mas não… ela diz que “faz sentido”. Porque faz sentido, de fato, mas é verdade? É um cuidado importante de João Emanuel Carneiro, embora não aconteça o tempo todo – mas acontece em vários momentos, podem prestar atenção.

Flora conta, então, que Donatela colocou gente para segui-la, que descobriu onde ela morava e foi atrás dela, ofereceu dinheiro para ela ir embora, mas Flora garante que não vai fugir – quando Irene pergunta o que ela quer, Flora diz que quer que ela a ajude a ver a Lara… amanhã é o aniversário de sua filha e “ela é tudo o que Flora tem”. Dona Irene ainda está em um processo de convencimento… ela volta a mandar Flora embora, dizendo que “Lara já tem mãe”, mas Flora sabe como manipular Dona Irene, como deixá-la em dúvida, e responde dizendo que Donatela roubou a sua filha e matou o homem que ela amava – o homem que, por sua vez, é o filho de Dona Irene… eu estou bem irritado com a Dona Irene, não vou negar, mas deve ser angustiante ter um filho assassinado e você não ter certeza de quem foi que o matou… por fim, Dona Irene diz que Donatela tem razão e que Flora deveria ir embora da cidade e recomeçar sua vida.

Ah, mas Flora não vai desistir.

 

Para mais postagens de “A Favorita”, clique aqui.