Turma da Mônica: Lições (2021)

“A gente pode crescer sem deixar de ser criança”

QUE FILME MARAVILHOSO! Eu sou apaixonado pela Turma da Mônica, e eu acho que o projeto Graphic MSP, que atualmente já conta com mais de 20 títulos, é uma das iniciativas mais bacanas envolvendo os personagens, porque dá a outros artistas a oportunidade de reimaginar os personagens do Mauricio de Sousa com suas características clássicas, mas também dando a eles liberdade criativa nos traços e nas histórias contadas, apostando em tramas que normalmente não veríamos nos gibizinhos, com um enfoque mais introspectivo e, quiçá, maduro. A trilogia de Vitor e Lu Cafaggi – formada por “Laços”, “Lições” e “Lembranças” – tem histórias emocionantes e com belas mensagens, falando sobre a amizade e a parceria dessas crianças, com um toque de realidade que faz com que esses personagens tão amados conversem ainda mais com o público.

Enquanto assistia a “Turma da Mônica: Lições” no cinema, fiquei pensando no quanto eu estava feliz por essa oportunidade! Que filme incrível, que história maravilhosa, que potência emotiva, daquelas que nos fazem deixar o cinema com lágrimas nos olhos e o coração quentinho. O elenco de “Laços”, de 2019, retorna, um pouco mais velho, dando vida ao quarteto clássico mais amado do Brasil, e é admirável como eles parecem crianças reais, ao mesmo tempo em que nos remetem aos personagens dos quadrinhos. Giulia Benite dá vida a Mônica, uma garota forte e decidida, mas também sensível; Kevin Vechiatto dá vida ao Cebolinha, um garoto atentado e inquieto, mas que também é um grande companheiro, de coração imenso; Laura Rauseo é a Magali, uma garota comilona e ansiosa; e, completando o quarteto, Gabriel Moreira sendo o fofo Cascão.

As histórias de Vitor e Lu Cafaggi são muito bem concebidas: com uma premissa interessante, as tramas sempre têm desenvolvimentos tocantes que nos envolvem. Assistir a “Turma da Mônica: Lições” é uma experiência quase inusitada, porque por vezes temos aquela imagem da turminha sempre feliz, sempre brincalhona, e não é necessariamente o tipo de filme que a gente vai encontrar… apesar de contar com belos momentos divertidos e inteligentes, o filme é muito mais introspectivo do que uma comédia infantil e nos arranca lágrimas em meio a reflexões, enquanto a história é conduzida com cuidado e certa melancolia, sem nunca perder de vista quem são os personagens que estamos vendo, quais são suas motivações e a intensa relação que eles têm uns com os outros: eles são amigos desde o maternal, eles se conhecem e se amam…

O filme começa com o grupo ensaiando uma versão de “Romeu e Julieta” para o Festival do Limoeiro, e a Mônica está estressada porque ninguém parece estar levando muito a sério o seu papel… o Cebolinha, por exemplo, não consegue fazer a cena da sacada porque não consegue falar o nome do seu personagem sem ser “Lomeu”, por exemplo; a Magali não consegue ser a ama de Julieta, porque ela come a comida que deveria lhe trazer, e o Cascão, que seria o padre que realizaria o casamento de Lomeu e Julieta, não quer tocar na água benta… para completar a confusão, eles acabam se distraindo tanto ensaiando a aparentemente desastrosa peça que eles se esquecem de fazer a tarefa de casa para o dia seguinte e, para não ter que entrar em sala, eles decidem fugir da escola… enquanto eles pulam o muro para fugir, no entanto, Mônica acaba caindo e se machucando.

Ali, as coisas mudam drasticamente para a turminha, e o filme toma um rumo tristonho quase inesperado, mas que é essencial para a temática do filme que, no fim das contas, fala sobre o amadurecimento – é lindo ver as coisas que essas crianças precisam enfrentar para “sair do casulo”, e como juntos eles são muito mais fortes, com a amizade deles os fazendo ser a melhor versão de si mesmos… algo que os pais não entendem quando são chamados pela diretora da escola. Todos são instruídos a colocar as crianças em atividades extracurriculares diferentes, para que “eles não passem tanto tempo juntos” (?), e a Luísa e a Dona Cebola acabam brigando, com a Luísa tomando a decisão de que o melhor que ela pode fazer é trocar a Mônica de escola, colocando-a para estudar em tempo integral… o que, na verdade, é uma verdadeiro violência contra a Mônica!

É brutal acompanhar o sofrimento desses quatro quando estão separados. Mônica acaba sozinha em uma escola, tendo que enfrentar pessoas que riem de seu ursinho de pelúcia, um valentão contra o qual o Sansão não funciona, pela primeira vez, e tentando enviar, através do Dudu, uma mensagem para a Magali, sem nunca conseguir uma resposta… enquanto isso, o Cebolinha finge que está tudo bem, que está feliz porque “agola ele é o dono da lua”, mas, na verdade, ele sente saudades da Mônica, e ele e o Cascão não são fortes o suficiente para enfrentar o Tonhão, o que quer dizer que, sem a Mônica, eles precisam passar o intervalo todo escondidos embaixo da mesa na biblioteca para não apanharem; a Magali, por fim, está cada vez mais esfomeada, a ponto de, quem sabe, isso “se tornar uma crise global”, como os garotos falam.

Se Mônica está em um colégio em tempo integral, os outros são colocados em atividades extracurriculares… o Cascão, por exemplo, é colocado na natação, para enfrentar o seu medo de água, mas ele não consegue se obrigar a entrar na piscina; Magali, por outro lado, acaba em uma aula de culinária, para tentar controlar a sua ansiedade cozinhando, ao invés de apenas comer, e é algo que eventualmente ela começa a aprender a fazer; e o Cebolinha, por fim, acaba na fonoaudióloga. Todos sofrem, mas acho que nenhum tanto quanto a Mônica, que está isolada dos demais, com a situação tentando convencê-la de que ela precisa crescer e fazer novos amigos, com o coraçãozinho doendo ao ver a Magali conversando com a Milena, por exemplo, acreditando que ela não sente a sua falta, no fim das contas, embora ela também tenha feito uma nova amiga…

Assim como no primeiro filme, o grande trunfo de “Turma da Mônica: Lições” é a AMIZADE dessas crianças. Enquanto os pais brigam e a briga se intensifica quando o Sansão é roubado e a Luísa acredita que quem o pegou foi o Cebolinha, mesmo com a Mônica dizendo que não foi ele, e quando o Cebolinha apanha e a Dona Cebola acredita que foi da Mônica, mesmo com ele falando que foi o Tonhão, as crianças só queriam poder ser amigos como sempre foram… Cebolinha até vai à casa da Mônica durante a noite para conversar com ela pela sacada, no melhor estilo “Romeu e Julieta”, mas, endurecida pelo sofrimento e querendo se proteger, Mônica o manda ir embora e esquecê-lo, dizendo que é hora de ele crescer… mas o Cebolinha não foca nisso: ele está mais preocupado com a informação de que alguém roubou o Sansão da Mônica…

E esse alguém não foi ele!

Então, Cebolinha convoca a Magali e o Cascão para reencontrarem o Sansão, e eles saem em uma missão fofíssima que passa pelo quarto do valentão da nova escola e termina no lixão do Limoeiro, enquanto a Mônica, tristonha, conhece duas pessoas muito especiais: a Tina e o Rolo. Tina, interpretada pela Isabelle Drummond e caracterizada exatamente como nos quadrinhos, tem uma das conversas MAIS LINDAS DO FILME com a Mônica, ensinando, com uma sabedoria impressionante, um pouco sobre o que é crescer, e sobre como é possível crescer sem deixar de ser criança… gostar de coisas novas não quer dizer, necessariamente, deixar de gostar de coisas de quando a gente é criança, como o Sansão, e fazer novas amizades não quer dizer deixar para trás as amizades de antes. Assim, quando Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão se reencontram e se abraçam chorando naquele parque… bem, EU CHOREI JUNTO.

QUE CENA MAIS LINDA!

Naquele momento, eles decidem que nada mais vai separá-los – e agora eles precisam mostrar para os pais como a amizade deles é importante. Como? Através da peça do Festival do Limoeiro. E, para isso, eles precisam de toda a ajuda que puderem conseguir… é lindo ver esse universo cinematográfico da Turma da Mônica (?) crescer, com “Lições” apresentando vários personagens queridos dos quadrinhos… Mônica conhece Tina, Rolo, Pipa e Zecão, por exemplo, e faz amizade com a Marina na outra escola para a qual é transferida, além de encontrar por lá o Dudu; Magali, por sua vez, fica amiga da Milena, e é ela quem lhe apresenta o Mingau, o futuro gatinho que a Magali tanto ama; Cascão conhece, nas aulas de natação, o Do Contra, um dos meus personagens favoritos da turminha; no fim, a turminha ainda vai pedir a ajuda do Franjinha e vemos brevemente o Nimbus!

(Sem contar o Chico Bento na cena pós-créditos!)

Amei demais ver esse “universo” se expandindo… já quero mais filmes.

Com a ajuda do Franjinha, dos novos amigos que eles fizeram quando foram separados e desafiados e com a força que eles têm quando os quatro estão juntos, eles montam a montagem mais linda de “Romeu e Julieta” que poderiam montar… além de darem um recado claríssimo para as famílias sobre as brigas sem sentido deles, eles mostram o quanto se amam e o quanto a amizade deles é importante, com direito a uma série de momentos fofíssimos e de superação pessoal: o Cebolinha consegue dizer que o nome dele é “Romeu”, pronunciando o “R”, por exemplo; a Magali consegue levar para a Julieta o seu jantar, sem devorá-lo antes, e até deixa de comer para poder assistir à peça; e o Cascão, depois de hesitar, consegue jogar “água benta” nos noivos, para o choque de todo mundo… é a coisa mais linda e divertida do mundo ver todos reagirem a cada uma dessas pequenas vitórias.

A conclusão da peça é um pouco diferente do original de “Romeu e Julieta”, com o Cebolinha/Romeu pedindo que a Mônica/Julieta acorde e lhe dando um presente: o seu Sansão de volta, recuperado por eles e limpo do piche graças ao Franjinha! Que cena EMOCIONANTE a do Cebolinha dando o Sansão de presente para a Mônica, a emoção dela ao tirá-lo de dentro do pacote, e o Cebolinha ainda diz a frase que ele tanto disse que era “blega” antes: “Pode me chamar de ‘meu amor’, porque eu te amo, Julieta”. Então, Mônica e Cebolinha se abraçam, chorando, e, pouco a pouco, todos os demais se juntam naquele abraço que é aplaudido com alegria e emoção por todo o Festival do Limoeiro – aplausos que eu tive vontade de ecoar, mas estava ocupado demais limpando as minhas lágrimas. Um final poderoso para um filme todo emotivo.

“Turma da Mônica: Lições” é incrível – consegue manter a força de “Laços”, mas, ao mesmo tempo, superá-lo, enquanto se aprofunda ainda mais na personalidade e nas características de cada um de seus personagens, na maneira como eles são humanos e como suas “imperfeições” os tornam quem eles são, como isso os torna mais fortes. A força da “Turma da Mônica” nunca esteve tão visível, e eu adoro isso. É um filme poderoso e capaz de conversar com um público imenso e, novamente, eu deixo a sala de cinema com um sorriso no rosto, lágrimas nos olhos, coração quentinho e querendo mais. Podemos esperar o live-action de “Chico Bento: Arvorada”, agora, e eu também espero que tenhamos “Turma da Mônica: Lembranças”, para encerrar a trilogia de Vitor e Lu Cafaggi… as crianças estarão grandes, sim, mas “Lições” nos ensinou que “a gente pode crescer sem deixar de ser criança”.

Acho que merecemos essa conclusão… mais lágrimas e aplausos.

 

Para a review de “Turma da Mônica: Laços”, clique aqui.

 

Comentários

  1. Esse filme me ensinou tanta coisa. Nunca imaginei que fosse chorar tanto com a Turma da Mônica. É simplesmente um dos filmes mais emocionantes que eu vi na vida. Quase chorei só de ler o texto e de lembrar das cenas (S2). Lindo!

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