A Favorita – O CAPÍTULO DA REVELAÇÃO

“Você não é uma assassina… como eu”

Exibido no dia 05 de agosto de 2008, o 56º capítulo de “A Favorita” era um momento aguardado pelos fãs que esperavam saber quem estava dizendo a verdade, afinal: Flora ou Donatela? João Emanuel Carneiro pretendia segurar a revelação por mais tempo, brincando com a nova dinâmica de trama que construíra, mas o público, de modo geral, queria respostas e uma novela mais tradicional – particularmente, eu amo e sempre amei a proposta de João Emanuel Carneiro, mas elogio imensamente o seu trabalho ao, mesmo depois da revelação, conseguir manter-se inovando e construindo uma novela excelente… “A Favorita” é uma das minhas novelas favoritas de todos os tempos! Com o capítulo 56, a novela chegou a 46 pontos de média na audiência e então o público finalmente tinha a resposta que tanto queria e a identidade da assassina da trama…

A construção para a revelação é um máximo – certamente, ESSE É UM CAPÍTULO E TANTO. Depois que Flora parece ter tirado tudo de Donatela, Donatela decidiu que precisava “acabar com Flora antes que Flora acabasse com ela”, e então pegou uma arma para encontrá-la no cinema no qual ela estava, e Donatela está ameaçadora: “Olá, Flora. Que pena que você não vai estar viva para ver o final desse filme”. O momento é pura TENSÃO, e é gostoso como até o momento da confirmação ficamos meio incertos em relação ao que está acontecendo… Donatela é ameaçadora, está descontrolada, e aquela arma apontada para Flora em um banheiro público, a boca tremendo de ódio… e Donatela diz que Flora não lhe deu opção e, por isso, ela vai ter que matá-la. Enquanto isso, Flora é extremamente dissimulada e ainda continua provocando!

A sequência toda é até assustadora… coração dispara assistindo, mesmo agora!

Aos poucos, parecemos perceber que Donatela não tem coragem, mas ainda nos perguntamos se é isso mesmo – porque, no fundo, achávamos que não podia ser. Flora tinha que ser mesmo inocente. Mas enquanto Donatela está louca de desespero com aquela arma apontada, Flora está tranquilíssima, e diz que Donatela deve estar mesmo muito desesperada para encurralá-la em um banheiro público porque, se a matar ali, ela será a principal suspeita. Então, Donatela convida Flora para “dar um passeio”, e sai abraçada com ela, a arma encostada nas costelas de Flora, e é aqui que temos UMA DAS MELHORES CENAS DE “A FAVORITA”, no carro. Flora está dirigindo, Donatela está com uma arma apontada para a cabeça dela, descontrolada, falando sobre os shows dos dois… chega até a cantar “Que Beijinho Doce”, e a atuação de Cláudia Raia é perfeita!

“Canta comigo, sua vagabunda. Canta que eu tô mandando”

A ESCRITA + A INTERPRETAÇÃO DESSA CENA = PERFEIÇÃO.

Agora, é a vez de Donatela provocá-la. Ela faz Flora cantar com ela (bizarríssimo!), e então diz que ela canta muito mal e que sempre cantou… diz que Flora nunca conseguiu se destacar, que sempre viveu na sua sombra, seja na carreira ou na vida pessoal. “Você nunca passou de uma coitada”. Quando as duas descem do carro, os nervos estão ainda mais inflamados, Donatela parece completamente descontrolada, e Flora está quase se divertindo com aquilo tudo, mas com o rosto duro. Donatela diz que vai “mandá-la para o inferno”, maldizendo o dia em que a conheceu ou o dia em que ela veio ao mundo, dizendo que vai “corrigir o erro que Deus fez e vai mandá-la para o inferno ela mesma”, e Flora está com o rosto duro, mas quase escondendo uma risada, e então manda Donatela atirar… pergunta o que ela está esperando. Manda apertar o gatilho se tiver coragem, e se aproxima da arma para que Donatela atire no seu peito se ela tiver coragem.

Mas não tem… e esse é o momento da revelação, quando Flora diz:

“Você não tem coragem. Não tem. Sabe por quê? Porque você não é uma assassina como eu”

Esse é um dos grandes momentos da teledramaturgia brasileira: FLORA É A ASSASSINA, AFINAL DE CONTAS. Imagina a tensão do Brasil inteiro assistindo a esse momento em 2008, descobrindo isso pela primeira vez, e então a novela brinca um pouco mais com os nossos sentimentos e nos joga para o intervalo… esse capítulo muda “A Favorita” para sempre – toda a dinâmica da novela agora é alterada, Flora se torna mais intensa e podemos vê-la como a psicopata que ela é, ao mesmo tempo em que continuamos a acompanhando sendo a “boazinha” de sempre, para convencer idiotas como a Dona Irene e a Lara, e é legal ver Patrícia Pillar alternar entre as facetas de Flora com tanta maestria… Patrícia Pillar é uma atriz e tanto, naturalmente, e, como Flora, ela entregou uma atuação impecável, em uma personagem que, convenhamos, era bastante difícil.

Agora, temos oficialmente uma dinâmica mocinha versus vilã, e aquela primeira cena de Flora oficialmente como vilã é sensacional… ela começa provocando Donatela, dizendo que Marcelo a amava de verdade, que não ia se separar de Donatela para ficar com ela, e que Donatela era a mulher da vida dele… então, temos um momento MUITO BOM que merecíamos: FLASHBACKS DO CRIME! Voltamos ao dia do assassinato de Marcelo e o encontramos com Donatela, fazendo declarações, dizendo que a ama, mas ela está brava por causa de alguma coisa que tem a ver com a Flora, mesmo que Marcelo garanta que ele já mandou Flora embora. Quando Donatela vai embora e Marcelo fica sozinho e volta para casa, Flora está lá esperando por ele, com a arma atrás das costas – e então estamos prestes a ver Flora matar Marcelo e sua figura de mocinha se despedaçar de vez.

Marcelo expulsa Flora, diz que não existe nada mais entre eles, e quando ela o chama de “meu amor”, ele diz que ele não é seu amor e que ela sabe que a mulher da vida dele é a Donatela. Descontrolada como não a vimos até então, Flora chora desesperada, implora, se humilha, e Marcelo a expulsa, chama ela de “lixo”, diz que “todo mundo vai ficar sabendo do lixo que ela é”, e quando ele diz que “nunca mais vai vê-la”, ela concorda, mas diz que ele nunca mais vai ver a Donatela também… então ela dá o primeiro tiro em Marcelo, o tiro que Cilene vê quando está chegando para atender a Donatela, e vai embora, assustada. Depois, um segundo tiro, e Donatela entra na casa, perguntando que barulho é esse, e, desesperada, ela segura o Marcelo, beija, pede que ele não morra, e Flora surta, dizendo que não era para Donatela estar ali, que ela sempre está no lugar errado…

Donatela pede que Flora atire nela, diz que o problema de Flora é com ela, e não com Marcelo, mas Flora dispara um terceiro tiro em Marcelo, E AQUILO É DESESPERADOR. A morte de Marcelo, os gritos de Donatela, chamando Flora de desgraçada, e então as duas acabam lutando, brigando pela arma, e é Cilene quem salva a Donatela, atacando Flora com um vaso que a faz desmaiar… quando Flora acorda é sendo levada pela polícia, que a pegou na cena do crime e, depois disso, nós sabemos o que aconteceu. No velório de Marcelo é que Donatela se aproxima de Lara, e quando Gonzalo diz que ela é a filha da mulher que matou seu marido e eles pensam em mandá-la estudar fora, Donatela protesta e diz que ela é a filha do seu marido, um presente que Marcelo deixou para que ela não ficasse sozinha… de agora em diante, vai criá-la e amá-la como sua filha.

De volta ao presente, precisamos nos habituar com a nova faceta de Flora, que ela escondia e dissimulava até mesmo do público até aquele momento – uma mulher violenta, amargurada e que culpa Donatela porque não conseguiu culpá-la do assassinato como sempre quis, porque Donatela voltou para casa por causa de Cilene: “As unhas da princesa me custaram 18 anos na cadeia”. Flora está assustadora quando diz à Donatela que vai acabar com ela, e quando Donatela volta a pedir que Flora atire nela e acabe logo com isso, Flora diz que não quer que ela morra… antes, ela quer ver o espetáculo da derrota dela. As duas brigam como brigaram há 18 anos. Dessa vez, no entanto, sem a ajuda de Cilene, quem termina desmaiada é a Donatela, e Flora vai embora levando a arma que Donatela trouxe para ameaçá-la… a arma que tem suas impressões digitais.

Dessa vez, o plano de 18 anos atrás vai dar certo.

Gosto muito de “A Favorita” ter adicionado aquela cena da Flora dirigindo feito louca pelas ruas de São Paulo, com a música alta, gritando, porque introduz esse ar de vilã que Flora assumirá de agora em diante, e é verdadeiramente uma nova fase, uma nova Flora, e Patrícia Pillar até hoje me arrepia na brilhante atuação. Enquanto isso, sem saber o que está acontecendo, Lara fala emocionada sobre Donatela, sobre tudo o que viveram juntas, sobre como sempre quis ser como ela e sobre como ela é sua mãe e sempre a amou e ela não pode simplesmente apagar isso de uma hora para outra… sinceramente, eu teria achado bonito se a Lara não tivesse sido uma idiota ingrata e nojenta repetidamente até agora. E ainda tem a Dona Irene, tentando afastar a Lara de Donatela: “Minha querida, guarde o que ela tem de melhor, mas não esqueça o que ela tem de pior”.

Gente, sinceramente, será que eu sou o único que sente mais raiva da Lara e da Irene do que da própria Flora? É claro que esse é um dos grandes poderes de Flora como vilã, e algo que a torna uma vilã tão icônica: o fato de ela poder atrair todo mundo com seu discurso convincente e seu rostinho angelical, mas isso me dá agonia. Lara está com a consciência pesada, diz aos avós que chamou a Donatela de assassina na frente da Flora, mas que estava de cabeça quente e não devia ter feito isso, mas quer saber, Lara? É TARDE DEMAIS PARA ESSE SURTO DE CONSCIÊNCIA. Gonzalo acaba aconselhando Lara melhor do que Irene, que quer fazer de tudo para impor a presença de Flora: Gonzalo diz que Lara devia se afastar de ambas nesse momento, não tomar partido de nenhuma delas e esperar que a justiça resolva o caso… não é um conselho assim tão ruim.

Flora chega em casa ainda descontrolada, falando com Silveirinha, e até o seu tom de voz muda… ela acha que tudo o que aconteceu é um máximo, e anuncia para Silveirinha que Donatela se deu mal… conta que a deixou no meio da rua, na chuva, sozinha e sem dinheiro. E se diverte, rindo, dizendo o quanto tudo é engraçado, e completa: “Ah, Silveirinha, faltou um detalhe. Eu trouxe um brinde. A arma de Donatela Fontini. Todas as impressões digitais dela. A arma que ela disse que ia me matar. A Donatela já era!” O mais inusitado e desconcertante é ver a Flora mudar completamente quando está com Donatela, com Silveirinha ou sozinha, mas retornar para aquele tom de voz suave e aquela dissimulação toda quando está falando com a Dona Irene, por exemplo… é tão angustiante, agora, que, enquanto assistia, eu não conseguia parar de rir… porque é quase cômico.

E Irene é uma burra mesmo… não vejo a hora de vê-la cair.

O Capítulo 56 ainda traz o dia do depoimento de Donatela, E É UMA TENSÃO. As pessoas amontoando-se do lado de fora, gritando “Assassina!”, a imprensa tentando conseguir que ela diga alguma coisa, e tudo o que ela diz é: “A assassina do meu marido foi julgada e condenada”. E também ficamos desesperados porque Donatela está se afastando de Zé Bob, que era uma das pessoas que podiam ajudá-la… na frente da delegacia, ela o acusa de ter roubado seus dólares e ele fala alguma coisa de ela estar com o Dodi no hotel-fazenda, e isso quase serve para que ela perceba que Dodi está armando contra ela, mas quando ela fala algo, Dodi faz um estardalhaço, um drama e ela cai de novo… ele a manipula direitinho, e isso que vai fazer com que ela caia ainda mais, porque Dodi está prestes a levá-la para uma armadilha: um “encontro” com o Dr. Salvattore.

No meio da noite…

Num lugar deserto, escuro, assustador…

Donatela foi bem ingênua de cair nisso, né?

Torcemos para que Zé Bob, que estava investigando e seguindo o Dr. Salvattore, consiga fazer alguma coisa, mas, no fundo, sabemos que isso não vai acontecer… até porque Flora conseguiu a arma que vai condenar Donatela, e dessa vez parece que nada vai impedi-la. O SUSPENSE é extremamente bem construído… Dr. Salvattore aparece dizendo à Donatela que “não tem coragem de olhar para ela depois do que fez”, e diz que vai consertar seu erro e mudar o seu depoimento no dia seguinte, e fazer justiça, “ficar com a alma lavada”, mas quando Donatela está devolvendo ao Dr. Salvattore as fotos que Dodi tirou dele, Flora aparece: “Não, Donatela. A história não termina assim. […] Eu sou uma assassina, lembra?” Tarde demais, Donatela percebe que Dodi a estava enganando esse tempo todo, e agora não há nada que ela possa fazer a não ser assistir enquanto Flora atira em Salvattore e gritar.

QUE CENA PESADA. A recriação do crime de 18 anos atrás…

Dessa vez, no entanto, Flora vai conseguir o que sempre quis: acusar a Donatela.

QUE TENSÃO!

 

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