Sítio do Picapau Amarelo (1978) – O Minotauro: Parte Final

O confronto de Pedrinho e Alcibíades.

A RETA FINAL DE “O MINOTAURO”. “O Minotauro” tinha muito mais a oferecer do que o seu título sugere… foi uma verdadeira viagem deliciosa pela Mitologia Grega e por figuras históricas, como Fídias, Péricles, Heródoto… além de presenciarem o famoso confronto de Teseu com o Minotauro no Labirinto na Ilha de Creta, o pessoal do Sítio ainda pôde presenciar outros momentos bacanas da Mitologia Grega como o voo de Dédalo e Ícaro e a preparação para o casamento de Ariadne com um deus, Dionísio. Agora, no entanto, que viram tudo o que tinham para ver na Grécia Antiga e o Rei Minos está novamente disposto a mandá-los para o calabouço e eventualmente para a execução, Emília e os demais resolvem usar a palavra mágica, o pirlimpimpim, e escapar dali de uma vez por todas… e reencontrar Dona Benta e Tia Nastácia em Atenas.

Assim, a reta final de “O Minotauro” se passa inteiramente em Atenas, enquanto eles estão se preparando para o teatro, mas sabendo que precisam voltar para casa logo, porque Rabicó aparece dizendo que “o Sítio está de pernas para o ar” porque Dona Benta deixou o Zé Carneiro como administrador e ele se tornou um verdadeiro tirano: Malasartes já foi embora, o Tio Barnabé está pensando em ir também, e até o Saci está sofrendo nas mãos dele. Nas palavras do Rabicó: “Dona Benta, se a senhora não voltar pro Sítio já, eu não sei o que é que vai acontecer”. O retorno, no entanto, não é imediato. Dona Benta pretende ficar mais um pouco porque já confirmou sua presença no teatro, e Pedrinho tem uma “batalha” a resolver agora que o chato do Alcibíades invocou com ele e quer desafiá-lo a uma “luta pelo amor de Narizinho” de qualquer jeito.

Infelizmente, Alcibíades se tornou insuportável, e essa é a última imagem que guardamos do personagem… não o rapaz galante e educado do início, mas o rapaz arrogante e encrenqueiro do final. Completamente equivocado, Alcibíades vai falar com Pedrinho com um insuportável ar de superioridade, o desafiando a uma briga, e o Visconde explica que eles são visitas ali e não costumam fazer confrontos com seus anfitriões, até porque Dona Benta não gostaria que isso acontecesse, e Pedrinho concorda, dizendo que pode parecer desculpa, mas não é, porque Alcibíades nunca lhe fez nada e ele também não fez nada a ele, então por que brigariam? Muito sensato o Pedrinho, diga-se de passagem! Quando Alcibíades insiste no confronto, Pedrinho diz que “não briga com ninguém à toa, não”, e diz que ele terá que explicar bem o motivo de querer brigar com ele se eles nem se conhecem direito…

E Alcibíades diz que “quer provar-se à Narizinho”, ou qualquer coisa assim.

Pedrinho tem ótimos momentos nessa sequência toda, como quando Alcibíades diz que “ele é um guerreiro ateniense”, por exemplo, e Pedrinho responde: “Muito metido, por sinal. Mas não se preocupe que a gente vai ter a nossa lutinha”. Pedrinho e Visconde vão falar com Dona Benta para saber o que fazer, e a verdade é que eles estão em um dilema horrível, porque Dona Benta tem razão ao dizer que não é certo que eles briguem, mas Visconde também tem razão ao dizer que o Alcibíades foi bastante arrogante, e eles não podem simplesmente deixar que ele fique rindo da cara do Pedrinho… podem? Narizinho chega a proibir Alcibíades de brigar com o seu primo, dizendo que “não gosta dessas bobagens”, mas é claro que Alcibíades não escuta, e a briga se mantém, inclusive com a participação dos grandes figurões de Atenas, que decidem por uma guerra de braços.

O momento é cheio de tensão, e não vou mentir dizendo que eu não fiquei torcendo para que o Pedrinho vencesse o arrogantezinho ateniense, mas a guerra de braços acaba terminando empatada. Nenhum dos dois está muito satisfeito com o empate, no entanto, então Emília tem uma ideia: ela decide que a melhor maneira de provar a todos que o Pedrinho é o mais forte é fazendo uso de algo que Teseu sempre lhe dizia lá no Labirinto: que ele era filho de Héracles! Então, ela decide retornar no tempo para falar com Teseu e fazê-lo colocar uma espada em uma pedra, no melhor estilo Rei Arthur, uma espada que só poderia ser retirada por um filho ou descendente de Héracles… E EMÍLIA TEM CERTEZA QUE O PEDRINHO VAI CONSEGUIR TAL FAÇANHA! Assim, o tira-teima começa lá na praia em que parte da história de Teseu e Ariadne se desenvolveu.

A cena é divertida, Emília explica as regras, Dona Benta comenta que se a espada só pode ser tirada pelo filho de Héracles “então vai ficar ali para sempre”, mas torcemos por Pedrinho de todo modo. Alcibíades vai primeiro e, felizmente, não consegue nada. Pedrinho também tem muita dificuldade, e então Emília se aproxima dele para lhe dar uma ideia, e então Pedrinho grita aos céus para invocar Héracles e pedir que a sua força desça sobre ele, e enquanto Alcibíades ri com deboche, Teseu aparece dizendo: “Vamos, Pedrinho. Mostre de quem você é filho”. Não sabemos bem como (embora desde o começo já possamos desconfiar), mas alguma coisa muda em Pedrinho naquele momento e quando ele tenta novamente retirar a espada da pedra, ele consegue dessa vez. E eu fiquei tão feliz em ver a derrota de Alcibíades tendo que reconhecer Pedrinho como “um descendente dos heróis”.

Muito bom!

Agora, o pessoal pode finalmente voltar para casa – de volta às suas roupas normais, eles começam as despedidas e recebem algumas coisas de recordação, como sandálias que Aspásia manda fazer para as mulheres, ou uma escultura de Fídias que é um presente para Dona Benta… até o Pedrinho, que faz as pazes com Alcibíades, lhe deixa o bodoque de lembrança. E então vemos a galerinha de volta no Sítio de Dona Benta, e sabemos que mais uma aventura chegou ao fim, mas muitas outras nos esperam à frente… como o Pedrinho fica cheio de se achar e de contar vantagem por ser descendente de Héracles, supostamente, Emília acaba soltando, de uma forma bem rude, tadinho, que “ele só venceu porque ela usou o Faz-de-Conta”. Ela até diz que não ia contar nada, mas como ele está lá “todo posudo”, ela conta: “Faz-de-Conta que ele é mesmo filho do tal Hércules, o Grande”.

E pronto.

Não vou mentir que eu fiquei com dó do Pedrinho todo tristinho depois de a Emília dizer isso para ele, mas gostei de como a história resolve isso com bastante bom-humor, eventualmente, com o Pedrinho ainda se sentindo “forte” por derrubar o varal ou quebrar a porta do celeiro, quando na verdade o tronco que segurava o varal estava cheio de cupim, segundo a Tia Nastácia, e a porta do celeiro estava com as dobradiças podres, segundo a Dona Benta. No fim da história, temos um momento muito bacana em que todos se sentam juntos na sala, assim como fizeram no início, mas dessa vez para fazer “um balanço da viagem”. Para falarem sobre tudo o que viveram, sobre as pessoas que mais gostaram de conhecer, para falar sobre o que aprenderam, e é um momento muito gostoso de se acompanhar, com gostinho mesmo de encerramento. Amo esse “Sítio do Picapau Amarelo”.

 

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