Lost 1x17 – …in Translation

“Todo mundo tem direito a uma segunda vida nessa ilha”

Nossa, esse é de longe um dos meus episódios favoritos na primeira temporada de “Lost”. Eu adoro a Sun, então foi muito bom ver o crescimento da personagem adquirindo a sua liberdade durante esse episódio, mas, paradoxalmente, eu também gosto muito do Jin, e esse episódio e esses flashbacks nos permitiram olhar para o personagem novamente e, quem sabe, repensar algumas conclusões que tínhamos tirado dele. “[Lost] in Translation”, exibido em 23 de fevereiro de 2005, é um dos maiores exemplos de algo que sempre comentamos a respeito de “Lost”: o fato de que a série é sobre pessoas. Temos toda a trama da jangada na ilha, temos o Hurley fazendo uma breve aparição em uma TV no flashback de Jin, reforçando a ideia de que, de alguma maneira, todos estão conectados, mas o episódio, no fim, é sobre o Jin e sobre a Sun. E eu adoro isso.

Uma coisa que me chama muito a atenção nesse episódio é a maneira como o flashback, sendo focado em Jin, consegue revisitar algumas coisas que vimos do ponto de vista de Sun quando foi a vez dela de ter um flashback – e algumas cenas ganham novos significados interessantes. O episódio é muito bem-escrito e nos ajuda a montar o quebra-cabeças da relação dos dois, e podem dizer o que quiserem, mas eu vou falar: eu gosto do Jin. Eu detesto que ele fique controlando as roupas que a Sun quer vestir, por exemplo, e eu acho que essas atitudes são horríveis, mas, de modo geral, ele não é uma má pessoa… e ele já tinha dado a entender isso quando o Hurley se aproximou dele há alguns episódios e ele lhe presenteou com um peixe já limpo no fim. E é muito triste pensar que Sun e Jin tinham tudo para terem sido muito felizes juntos…

No flashback de Sun, vimos que ela e Jin se amavam demais no começo da relação deles, e que se casaram por amor – aqui, vemos Jin convencendo o pai de Sun a permitir o casamento deles, mesmo que ele venha de uma família humilde de pescadores (!), e na verdade foi por culpa do pai de Sun que as coisas deram errado… vemos Jin se transformando no homem frio e silencioso que ele se tornou graças aos “trabalhos” que o pai de Sun o manda fazer, mas também revemos aquela cena na qual ele chega em casa ensanguentado e não quer dizer a Sun o que aconteceu e de quem é aquele sangue, mas agora sabendo que, na verdade, ele bateu em um cara e salvou a sua vida ao fazê-lo, porque o outro homem que o pai de Sun mandara para “entregar-lhe uma mensagem” ia matá-lo. E eu fiquei angustiado em ver o Jin chorando sozinho no banheiro depois que a Sun sai.

No presente da ilha, Jin e Sun se desentendem pela milionésima vez por causa de um biquíni que ela quer usar, e Michael acaba se intrometendo na briga para defender a Sun. É um timing péssimo, porque, logo em seguida, a balsa que Michael está construindo para sair da ilha aparece em chamas, e é claro que imediatamente ele acredita ter sido o Jin, e então se volta contra Sun, perguntando onde o Jin está porque “vai quebrar o seu pescoço”. Versado em “Lost”, eu não acreditei que tivesse sido o Jin mesmo nem por um segundo, mesmo quando o episódio mostrou o Jin com as mãos queimadas e até Sun, por um minuto, pensou que pudesse ter sido ele. Mas Michael está cego pela raiva, e eu vou dizer: eu sofri com o Jin durante toda essa história, e eu fiquei com raiva de Michael e de Sawyer. É engraçado como as pessoas se comportam em situações extremas, não?

Sawyer captura Jin, o arrasta até a praia e o entrega para Michael, para que ele seja espancado. Algumas pessoas, como Hurley e Jack, pedem que Michael se acalme, mas, eventualmente, alguém diz que essa briga é entre eles e Michael espanca Jin enquanto Jin diz coisas que não entendemos… e isso culmina em uma das melhores cenas da primeira temporada de “Lost”: o momento em que Sun revela para todo mundo que ela fala inglês. Ela grita, pedindo que Michael pare e deixe Jin em paz, porque não foi ele quem queimou a balsa. A cena é intensa, eu adoro ver a força de Sun naquele momento, adoro ver as pessoas reagindo ao fato de que ela sabe falar inglês, e ela revela o que Jin está dizendo: a balsa já estava em chamas quando ele chegou, e suas mãos estão queimadas porque ele tentou apagar o fogo. Mas nem todos estão dispostos a acreditar nisso…

O episódio acaba nos pegando de surpresa, eventualmente. Locke tem uma cena excelente interferindo nesse momento, quando colocam a palavra de Sun em dúvida e ele diz que ela não está mentindo, porque eles não estão sozinhos naquela ilha e todo mundo sabe disso… existem pessoas lá dentro que os manipulam, que os sequestram, que os assassinam, e já é chegado o momento de parar de brigar entre eles e apontar dedos entre os sobreviventes e começar a se preocupar com quem quer que esteja lá dentro. Ele é extremamente racional nesse discurso, e acreditamos nele, embora parte de nós ainda acredite que foi o próprio Locke que colocou fogo na balsa – até uma cena surpreendente mais perto do fim do episódio em que Locke se senta para jogar gamão com Walt e pergunta para ele por que ele fez isso. No fim, foi o Walt quem colocou fogo na balsa do pai!

[Sou mau por querer que o Michael descubra isso? Seria ótimo!]

Em paralelo, o episódio também desenvolve um pouquinho da relação que está nascendo entre Sayid e Shannon há alguns episódios, e como os flertes estão se tornando cada vez mais óbvios, Sayid vai conversar com Boone sobre isso, mais para informá-lo e para dizer que não gostaria que ele ficasse contra isso, e Boone fala algumas coisas para ele sobre como Shannon vai fazer com ele o que faz com todo mundo: usá-lo enquanto ele estiver lhe dando o que ela precisa, e depois largá-lo, mas “não é nada pessoal”. A amargura de Boone é visível e um tanto vergonhosa, mas não é mentira o que ele diz, na verdade. E talvez uma nova Shannon esteja nascendo também graças a Locke (!), quando ela procura por Boone para gritar com ele ou qualquer coisa assim, e Locke lhe fala sobre como “todos têm direito a uma segunda vida na ilha, e talvez seja hora de ela começar a dela”.

“[Lost] in Translation” ainda traz mais uma cena de Jin e Sun e um último flashback, e tudo é amarrado lindamente. No flashback, Jin visita o pai na vila de pescadores e fala sobre como não pode conversar com Sun porque não pode lhe contar quem é o pai dela, e seu pai o incentiva a largar o que faz para o Sr. Paik e salvar seu casamento, “começar de novo com Sun”. No presente, quando Jin está indo embora das cavernas e não está falando com Sun, ela tem um monólogo pungente no qual fala sobre como pensou em abandoná-lo e desistiu porque sentiu que ele ainda a amava e queria poder “começar de novo”. Então, ela o convida a fazê-lo, mas ele diz que é tarde demais e vai embora. No fim, acho que vai ser bom para ambos, porque Sun conquista sua liberdade (a cena da praia no final é LINDA!), e se Jin quiser voltar, vai ser nos termos dela; Jin, por sua vez, se propõe a ajudar Michael com a nova balsa.

Mas, sinceramente, eu torço para que eles avancem e, um dia, tenham a chance de “começar de novo”.

 

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