Sítio do Picapau Amarelo (1978) – A Morte do Visconde: Parte 4

“Por que será que esse Visconde saiu tão diferente do outro?”

Com a morte do Visconde de Sabugosa, uma tristeza muito grande tomou conta do Sítio do Picapau Amarelo, e é por isso que Dona Benta aconselhou o Pedrinho a fazer um novo Visconde. Dessa vez, no entanto, as crianças resolveram inovar: por que não escolher uma espiga verde e pequena para fazer o novo boneco e, dessa vez, ganharem um “Viscondinho”, um que ainda fosse criança e gostasse de brincar com eles? Eles não esperavam, no entanto, que o tal Viscondinho de Sabugosa fosse uma criança tão arteira. Quando o boneco ganha vida, o Saci é o primeiro a vê-lo, mas não tarda para que as crianças o vejam na cozinha, e elas estão tão felizes… afinal de contas, o Sítio de Dona Benta volta a ter um boneco de sabugo que é gente. Felizes, todos começam a se apresentar, Pedrinho conta que foi ele quem o fez, Emília apresenta os demais…

Mas ele é claramente diferente do primeiro Visconde.

Saci até diz que “ele parece um Saci”.

Milhares de confusões começam a acontecer no Sítio com a chegada do Viscondinho – ele até tomou leite direto da Vaca Mocha depois de ver os bezerrinhos fazerem isso, porque estava com cede… e ele não leu nenhum livro da biblioteca no tempo em que ficou lá, porque, afinal de contas, ele é apenas uma criança e ainda nem sabe ler. As crianças não se incomodam, a princípio, e dizem que ele ainda vai ler muito para ficar sábio como o outro Visconde, e é aí que o Viscondinho pergunta pela primeira vez: “Pra quê?” Assim como crianças que perguntam “Por quê?” o dia todo, o Viscondinho parece não tirar essa pergunta da boca… até o ponto de ser irritante. Mas, como Dona Benta diz, ele é uma criança – e não é isso o que eles queriam? Emília corre para brincar com o Viscondinho, então, mas Pedrinho e Narizinho não conseguem evitar certa decepção…

Não é o Visconde deles, mas eles vão dar uma chance.

O Viscondinho é uma criança em todos os sentidos, e às vezes parece um pouco com a Emília: birrento e teimoso. Ele se recusa a descer da charretinha da Emília, por exemplo, e não tarda para que os dois briguem pela primeira vez, tipo briga de criança – mas o Viscondinho não cansa, e não para de fazer traquinagens, aquele pestinha atrevido! Percebemos que não vai tardar muito para que todos se cansem das suas travessuras e da sua constante falta de respeito; até a Emília está incomodada e decide ensiná-lo bons modos e respeito, o que a Narizinho acha o cúmulo da comédia. Entre as artes do Viscondinho estão dar nós nas roupas do Malasartes e do Zé Carneiro e colocar um monte de pimenta e sal no jantar que a Tia Nastácia tinha preparado com tanto cuidado… e foi mais ou menos naquele momento em que eu comecei a me cansar dele.

As crianças tentam conversar com ele, tentam ensiná-lo o que pode e o que não pode fazer, e ele pergunta uma série de “Por quê?”, mas acaba indo pedir desculpas a Tia Nastácia, mesmo que não entenda bem o que isso significa. Ele acaba pedindo que “Tia Nastácia lhe dê uma desculpa”, e ela sorri, toda boba, e dá um beijinho no rosto dele, o que ele acha um máximo, e sai por aí distribuindo “desculpas” para todo mundo. Mas o Viscondinho não tem jeito… o Saci o apresenta até para a Cuca, e nem mesmo a jacaroa pode com ele. Ela fica furiosa quando percebe que ele não tem medo dela (e fica pergunta por que deveria ter), e eventualmente o Viscondinho acaba a irritando, dizendo que ela é engraçada ou a atormentando puxando o seu rabo e rindo… quando o Viscondinho volta para o Sítio, ele deixa a Cuca cansada, mas muito brava…

“Eu fui brincar com a Cuca!”, ele conta, ao voltar para o Sítio.

Enquanto o pessoal do Sítio está se perguntando por que esse Visconde saiu tão diferente do outro, o Rabicó percebe que tem um pezinho de milho nascendo lá onde as crianças enterraram o primeiro Visconde, e a jaqueira tenta falar com o Rabicó para incentivá-lo a subir uma cerca em volta do pezinho, para protegê-lo. Quando o Rabicó faz isso, a jaqueira até o recompensa com uma jaca. Mais tarde, quando o Pedrinho vai visitar o túmulo do Visconde de Sabugosa, ele se surpreende com a cerca, mas logo entende que foi colocada ali para proteger o pezinho que está nascendo, e ele não pode deixar de ficar muito feliz: “Ué… isso significa que o Visconde brotou!” Ele corre de volta para o Sítio para contar para Dona Benta, e Dona Benta tem até mesmo uma teoria de como isso aconteceu: a raiz da jaqueira deve ter rompido a caixa em que o Visconde foi enterrado, por isso ele brotou!

Muito fofo da jaqueira, tentando consertar seu erro!

Mas Dona Benta também não pode deixar de comentar que talvez eles estejam imaginando coisas, e talvez seja qualquer milho que tenha caído ali – não é necessariamente um pezinho que brotou do antigo Visconde. Pedrinho, no entanto, tem certeza de que aquele pé é fruto de um dos milhos nos botões do Visconde antigo, e por isso talvez ele possa trazer o velho Visconde de volta à vida… ele só precisa esperar o pé crescer, e então ele vai pegar uma nova espiga de milho e fazer um Visconde igualzinho ao outro – e, dessa vez, vai ser mesmo idêntico, porque vai ser filho do Visconde original, de alguma maneira. Agora, Pedrinho mal consegue dar atenção para o Viscondinho e para as milhares de artes que ele continua aprontando pelo Sítio de Dona Benta, porque ele só consegue pensar no pé que ele está esperando crescer e em ter seu velho amigo de volta…

 

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