Doctor Who (2025) 2x05 – The Story & The Engine

“I’m born. I die. I’m born”

Barbearia do Omo. Lagos, Nigéria. 2019. Exibido originalmente em 10 de maio de 2025, “The Story & The Engine” é o quinto episódio da segunda temporada de Ncuti Gatwa como o 15º Doctor, e é um episódio sobre HISTÓRIAS e PERTENCIMENTO. Emocionante, complexo e com direito ao breve retorno de Jo Martin como a Fugitive Doctor, esse é mais um marco dessa segunda temporada da nova era de “Doctor Who”, que está se aproximando depressa de sua conclusão, e eu fico me perguntando qual será o destino do 15º Doctor e de Belinda Chandra… se ele conseguir levá-la de volta para a Terra na data desejada, Belinda vai mesmo ficar em casa e deixar para trás a sua vida de viajante da TARDIS? Eu sentirei mais falta de Belinda do que sinto de Ruby.

(Não sinto falta de Ruby)

Ambientar uma história de “Doctor Who” na Nigéria é algo que ganha muito mais significado quando o personagem é interpretado por um homem preto. É forte e bonita a cena dele com Belinda, ainda na TARDIS, quando ele fala sobre como o seu corpo muda a cada regeneração e como, em partes da Terra, ele é tratado diferente pela cor de sua pele… não ali. Ali, naquela cidade, ele é aceito. Ali, na Barbearia do Omo, eles riem, contam histórias e ele sente que pertence e que está em casa. A cena faz sentido porque é o 15º Doctor, e fica mais rica ainda porque Belinda entende o que ele quer dizer. E justamente por entender tão bem o que o Doctor está dizendo é que Belinda “deixa que ele vá e demore quanto tempo quiser”, e o Doctor vai animado visitar os amigos.

A Barbearia do Omo, no entanto, não é mais a mesma da qual o Doctor se lembra… há uma “nova gestão”, e coisas estranhas estão acontecendo do lado de dentro… lá, alguns clientes que têm seus rostos estampados em cartazes de desaparecidos do lado de fora se alternam para sentar-se na cadeira do barbeiro e contar histórias. Enquanto eles contam sua história, ela é exibida em uma tela que a traz à vida suas palavras. Tudo está conectado: o Barbeiro, a tesoura dele, as histórias que os clientes contam, a tela e o motor da nave na qual eles estão, viajando pelo espaço… simultaneamente no espaço e em Lagos, Nigéria. Há algo sempre com fome que precisa ser alimentado, e que só pode ser alimentado com histórias – e é o que eles têm feito sabe-se lá há quanto tempo.

Como sabíamos que aconteceria, o Doctor se senta, então, na cadeira do barbeiro… ele tem muitas histórias para contar, para alimentar a fera invisível, e ele escolhe contar a história de um dia na vida de Belinda Chandra. Diferente das histórias anteriores, que se convertem em desenhos na tela, as imagens da história do Doctor são reais, e ele dá à máquina mais poder do que nunca – e, assim, eles aceleram a sua viagem. Depois de contar a história, o Doctor está fraco, com a sua energia drenada, mas o Barbeiro está satisfeitíssimo: ele nunca viu tanto poder. Em parte, era o que Omo queria: ele esperava que o Doctor pudesse alimentar sozinho o motor faminto e, com isso, ele e os demais estariam livres… naturalmente, o Doctor se sente traído…

Ele se sentia em casa ali. Se sentia seguro.

Com o Doctor em perigo, enquanto ele é levado pelo espaço em uma gigantesca aranha metálica e alimenta o Nexus com suas histórias, a TARDIS tenta alertar Belinda e pedir a sua ajuda, e ela eventualmente se une ao Doctor na Barbearia… a tempo de ouvir a suposta revelação da identidade do Barbeiro: Anansi, o homem-aranha; Saga, a deusa nórdica; Bastet; Dionísio, o deus grego do teatro; até Loki, o deus da trapaça. O Barbeiro diz que já foi todos eles, em diferentes culturas, diferentes mundos, diferentes encarnações – não importa como ele é chamado, o que importa é quem ele é e o que faz. Seria sinistro, se o Doctor e a Belinda não tivessem caído em uma risada sincera no momento em que o Barbeiro enfim terminou de falar…

Ele está mentindo, e o Doctor sabe disso… ele bebeu vinho com Dionísio e jogou xadrez com Bastet: ele conheceu os deuses, e não é ele. Quem é ele, então? O Barbeiro conta sua história: outrora humano, ele trabalhava para a manutenção da imagem dos deuses escrevendo histórias a seu respeito, porque é só assim que os deuses podem existir. Foi dessa coleta de histórias que surgiu a ideia do Nexus, e agora o Barbeiro pretende usar o maior poder dos deuses, as histórias, contra eles mesmos, em uma espécie de vingança que acabará com os deuses de uma vez por todas – acabar com os deuses, no entanto, pode também significar acabar com a humanidade: a humanidade está intrinsecamente conectada à história dos deuses, suas adorações, passagem de tradições…

Ao lado do Barbeiro, conhecemos Abby, uma mulher de quem o Doctor se lembra de algum lugar, mas não consegue dizer de onde, e que eventualmente se revela Abena, filha de Anansi que foi perdida em uma aposta – e quando a sua identidade se revela, o Doctor imediatamente se lembra de onde a conhece: não foi ele quem a conheceu, não é uma história do 15º Doctor, e é por isso que brevemente vemos a Jo Martin retornando ao seu papel de Fugitive Doctor para conversar com Abena: para dizer que isso é parte de uma outra história que “talvez um dia seja terminada”. A aparição surpresa da Fugitive Doctor e a sua fala sugestiva nos deixa intrigados e nos perguntando se existe algum plano de trazê-la ao protagonismo…

Seja em um spin-off ou, quem sabe, uma temporada do show principal.

Abena não concorda com o plano do Barbeiro, e é por isso que ela acaba ajudando. Ela coloca o Doctor na cadeira do barbeiro para contar a sua própria história, sobre como as tranças no cabelo eram utilizadas para desenhar mapas de rotas de fuga no passado… e é exatamente o que ela faz, dando ao Doctor uma rota de fuga em sua cabeça, e isso o leva até O CENTRO DO NEXUS. Vemos um coração batendo dentro de um cérebro gigante, e é ali que o Doctor deposita uma “história sem fim”: todas as histórias que existem dentro dele, com todas as suas encarnações, e é história demais para o Nexus… é o suficiente para sobrecarregar o motor. A cena é uma delícia, e vemos trechos de cenas protagonizadas por outros Doctors, como o divertido 2º, o maravilhoso 12º…

Saudades de cada um deles.

O plano do Doctor funciona à perfeição: o Motor de Histórias não pode suportar tanta história ao mesmo tempo, não tem como processar tamanha informação. Com isso, o Doctor consegue salvar a vida dos clientes que entraram na Barbearia do Omo e ficaram presos lá dentro e, por fim, ele salva a própria vida… e a vida do Barbeiro, que se deixou levar por uma vingança que se tornou muito maior do que ele. Em algum momento do seu passado, o Doctor disse que “somos todos histórias no fim, então que sejamos uma boa”. Foi um excelente episódio fechado em si mesmo, com espaço para reflexão e com um aceno, quiçá, para o futuro de “Doctor Who”, que quer nos lembrar de que a história da Fugitive Doctor não foi esquecida… está aí, esperando para ser contada!

 

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