A Herança (2024)

O terror da casa de infância!

Com direção de João Cândido Zacharias e protagonizado por Diego Montez, “A Herança” é um filme de terror brasileiro que foi exibido em festivais de cinema em vários países antes de fazer sua estreia nacional no Festival do Rio e de ser lançado nos cinemas em 21 de novembro de 2024. Após a morte de sua mãe, Thomas retorna para o Brasil porque é o herdeiro de uma casa na qual nasceu e viveu até os 2 anos de idade, quando ele foi misteriosamente levado para longe pela mãe… Thomas e o namorado, Beni, visitam a casa herdada pelo rapaz e o filme brinca com o dicotomia da aparente paz e tranquilidade transmitida pelo lugar e todos os elementos sinistros que estão escondidos sob a superfície – e, por sinal, explicam o motivo pelo qual a mãe o levou embora.

Thomas vive na Alemanha com Beni, e ele não se sente tão inclinado a casar-se e “resolver o problema dos papéis” quando o seu visto perto de expirar pode não ser renovado, mas não porque ele não ame o namorado… Thomas e Beni têm uma relação bonita e, inclusive, entregam algumas cenas românticas e/ou excitantes antes de as coisas começarem a dar muito errado e não poderem mais ser ignoradas. Gosto muito da primeira noite que eles passam na casa, acreditando que estão sozinhos, porque ela nos entrega uma cena quente que é produzida com cuidado e tesão, para transmitir toda a verdade do momento… e gosto muito também de toda a sequência que eles compartilham no lago, que é algo muito mais calmo e romântico.

Ambas cenas íntimas à sua maneira.

Portanto, não é problema algum em sua relação com Beni que faz com que Thomas não aceite de imediato a proposta de casamento para regularização dos seus papéis – acontece que Thomas nunca se sentiu em casa de verdade em nenhum lugar. E esse desejo por pertencimento é justamente o que o coloca em perigo na casa na qual ele e Beni resolvem passar alguns dias… recebido por duas tias, Vitória e Berta, Thomas é constantemente alimentado com coisas suspeitas e tratado como um filho que finalmente retornou para a casa de onde nunca devia ter saído… mas por que a mãe queria tanto levá-lo embora? Por que as tias querem tanto mantê-lo ali? Cada vez mais envolvido, Thomas não percebe toda a estranheza que o envolve.

Confesso que, em um primeiro momento, eu cheguei a desconfiar de Beni – no fim, Beni só estava agindo de uma forma “estranha” porque ele percebeu, desde o início, que algo não estava certo ali… Beni percebe a manipulação, encontra o queijo apodrecido no porão e, em uma exploração, descobre uma cripta sinistra sob a casa. Quando ele tenta alertar Thomas disso tudo e levar o namorado para longe dali, no entanto, já é tarde demais, porque Thomas já comprou a ideia de que Vitória e Berta são “sua família” e que “aquele é o seu lugar”. Então, cada vez mais descolado da realidade que o cerca, Thomas vai sendo usado como as tias querem, para um ritual que trará de volta à vida uma antiga bruxa de sua linhagem… e ele será o pai dessa criança.

O filme é curto e, portanto, trabalha muito mais com o suspense do que com o terror de fato – e, particularmente, eu acho que ele funciona muito melhor enquanto é um suspense. Eu gosto do clima de tensão proporcionado pela direção, pela atuação, pelo visual e pela trilha sonora, mas sinto que o filme perde um pouco o seu impacto quando as coisas se tornam “grandes demais”. De todo modo, ainda que a sequência da cripta não seja lá das minhas favoritas, por exemplo, temos sequências de suspense que são excelentes dentro de sua proposta, baseadas naquela divisão muito tênue entre o que é real e o que não é… a sequência desnorteada de Thomas depois de ser abusado em um ritual que gerará um novo bebê é perturbadora como deve ser.

Acho que “A Herança” precisa correr um pouco em seus minutos finais para desenrolar o que não desenvolvera com antecedência, e isso o impede de ser um grande marco do gênero, é verdade, mas ainda assim valeu a pena assistir! E, como eu disse, eu gosto da relação de Thomas e Beni, e é uma delícia ver o Beni voltando para salvar a vida de Thomas quando tudo parecia perdido, e ver o Thomas despertando de volta a ele mesmo contente por ter o namorado o segurando nos braços e garantindo que eles vão embora dali. A derrota das bruxas e o fracasso do ritual é muito mais simples do que o esperado, mas talvez justamente porque não é de fato uma derrota e/ou um fracasso… Amanda está esperando o filho de Thomas, e elas poderão tentar novamente.

Espero que Thomas esteja em segurança com Beni, muito longe dali, quando isso acontecer.

 

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