Sítio do Picapau Amarelo (1978) – A Morte do Visconde: Parte 2

Outro invento destruído…

As crianças não gostam de ver o Visconde de Sabugosa trancado em seu laboratório, trabalhando em suas invenções e sem lhes dar atenção – eles sentem como se ele estivesse “os excluindo da brincadeira”, mas a verdade é que o Visconde é um sábio sabugo que precisa se concentrar para que trabalhe bem. Mesmo um pouquinho rabugento e pedindo que eles se retirem do laboratório enquanto ele está fazendo alguma coisa, o Visconde corre animadamente para mostrar para ele as suas novas invenções assim que elas estão prontas… ele quer compartilhar com eles tudo o que descobriu. Por isso é que doeu tanto assistir às crianças brigando para ver quem ia usar o “binóculo” do Visconde para ver o mundo invisível primeiro, porque eles acabam destruindo o que o Visconde levou o último mês inteiro para criar. É crueldade!

Depois de muito sofrimento e de o Visconde os perdoar, Visconde faz umas mudanças em seu invento, que agora é um equipamento para ouvir os pensamentos e conversar com insetos e com árvores, como a jabuticabeira. É tão bom ver o Visconde novamente naquele estado de alegria plena quando percebe que seu invento funciona, então ele sai correndo para contar para a Dona Benta e para chamá-la, porque quer que ela seja testemunha do seu sucesso… então, temos uma cena linda da Dona Benta conversando com a jabuticabeira, agradecendo aos anos de alegria que ela deu a todos, especialmente aos seus netos. Tio Barnabé, empolgado, também quer conversar com a árvore, e fica todo emocionado, dizendo que nunca imaginou que um dia poderia falar com uma árvore que quer tão bem. Por fim, é a vez da Tia Nastácia, que até desmaia de emoção.

Toda a sequência é muito fofa!

As crianças, no entanto, demoram para ter a chance de usar o invento do Visconde… com razão, depois de seu último invento ter sido destruído por eles, Visconde foge com a sua nova máquina quando as crianças chamam por ele – e eu não o julgo, ele só estava tentando proteger o que criou. Emília, inconformada, fica gritando: “Sabugo velho! Sabugo de uma figa! Ranzinza! Rabugento!” As crianças o chamam de egoísta, mas Visconde tira seu tempo para aproveitar sua invenção sozinho, e se senta ao lado da jaqueira para conversar com ela – é tão bom ver o Visconde feliz, realizado, e é tão injusto ver Pedrinho, Narizinho e Emília dizendo aos quatro ventos que “não acreditam que o invento dele funciona” ou que estão com raiva dele e que mais cedo ou mais tarde ele vai correr atrás deles para mostrar o invento… no fim, é claro, quem acaba correndo atrás do Visconde são elas.

Elas não se aguentam.

Mais tarde, então, Pedrinho, Emília e Narizinho pegam a invenção do Visconde e a levam justamente para a jaqueira, e Visconde os segue. Então, as crianças ganham a prova de que o invento do Visconde funciona sim, porque Pedrinho consegue conversar com a árvore, inclusive quando a árvore conta que ela sempre foi capaz de escutá-los e de entendê-los, Pedrinho diz que ela “deve saber o segredo de muitas pessoas”, e a jaqueira confirma, dizendo inclusive que sabe segredos da Emília… brava e querendo impedir que a jaqueira conte alguma coisa para o Pedrinho, ela pula para tirar os fones de ouvido dele, e então as crianças fazem exatamente o que fizeram da outra vez, e eu não pude evitar o sentimento de RAIVA tomando conta de mim: não acredito que as crianças foram capazes de estragar outro invento do Visconde, depois de tudo!

É UM SOFRIMENTO MUITO GRANDE. Eu fiquei muito triste pelo Visconde, porque ele não merece nada disso… nós amamos aquele sabugo inventor, e as crianças foram muito irresponsáveis e insensíveis ao não terem o cuidado com as coisas que ele inventa! Visconde está arrasado e em dobro, e quando as crianças carregam a caixa quebrada de volta para ele para pedir desculpas e para pedir que ele a conserte, Visconde está desanimado demais até para tentar… Pedrinho e Narizinho tentam animá-lo, tentam motivá-lo a trabalhar nas coisas que ele tanto gosta, mas a frustração e a raiva do Visconde são maiores – então, ele pega a caixa de cima da mesa, a joga no chão e começa a gritar e a xingar, dizendo que “nunca mais vai inventar nada”. As crianças ficam assustadas com a reação dele, mas a verdade é que ele tinha todo o direito.

Sozinho, então, o Visconde vai se sentar novamente embaixo da jaqueira, e dessa vez consegue conversar com ela mesmo sem usar o seu invento, que foi destruído – e ele não tem certeza se aquilo está acontecendo de verdade ou se ele está sonhando, mas é verdade, porque a jaqueira chega a dar informações ao Visconde, como o fato de o Zé Carneiro e o Malasartes terem sido transformados em patos pela Cuca… e a jacaroa está prestes a enfeitiçar o pessoal no Sítio do Picapau Amarelo para que eles tenham uma vontade incontrolável de comer pato. Assustado com a possibilidade, o Visconde pensa em sair e ir correndo contar para todo mundo para que não peguem nenhum pato do galinheiro, mas ele nem tem a chance de sair dali, porque uma jaca muito madura acaba caindo da jaqueira e acertando o Visconde em cheio… e aquilo é demais para ele.

Agora, o Visconde morreu… voltou a ser apenas um simples sabugo de milho sem vida.

 

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